Rotativo a 398% é abuso contra consumidor
Literalmente,
juros abusivos, o que, dependendo da situação, pode até configurar crime contra
o consumidor
É difícil atuar na defesa do consumidor sem,
periodicamente, advertir as pessoas para fugir do crédito rotativo dos cartões.
Temos
obrigação de relembrar, frequentemente, os riscos de ‘financiar’ compras com
este crédito que é desburocratizado, mas tem taxas astronômicas, que muitas
vezes empurram os clientes ao superendividamento.
Em agosto último, as taxas
do rotativo chegaram a inacreditáveis 398% ao ano. Literalmente, juros
abusivos, o que, dependendo da situação, pode até configurar crime contra o
consumidor.
É fácil e prático passar o cartão para compras, mas
é difícil controlar esse gasto futuro em relação ao rendimento mensal. E isso
pode nos levar ao rotativo, se as despesas forem muito superiores à capacidade
de pagamento.
Essa modalidade de crédito existe para emergências,
e talvez se justifique em casos muito específicos e emergenciais, como ser
incapaz de pagar a íntegra da mensalidade do cartão de crédito por doença,
desemprego, atraso para receber salário ou outra forma de remuneração.
Ainda
assim, a sugestão é trocar esta dívida por outra com juros bem menores, como um
consignado (nesse caso vale a pena) ou crédito direto ao consumidor (CDC).
Pode-se recorrer, também, a medidas extremas, como
vender um bem. Mas há uma vacina contra a necessidade de usar o rotativo e se
endividar, e falo nela com frequência: fazer orçamento e segui-lo
rigorosamente.
Por mais difícil que seja sobreviver com os baixos salários brasileiros, ninguém pode
gastar mais do que recebe, excetuando-se, talvez, os governos, que rolam suas
dívidas com o nosso dinheiro, arrecadado na forma de impostos, taxas e
contribuições.
Igualar renda e despesas mensais equivale a evitar
a doença, o que é bem melhor do que ter de tratá-la com medicamentos e outros
procedimentos.
Além disso, desconfie da facilidade para obter
empréstimos. Dinheiro é algo bem caro, exatamente porque as taxas de juros são
muito elevadas.
Então, se não exigirem comprovação de renda para acesso ao
crédito, significa que você pagará juros acima do mercado.
Portanto, que tal comprar seu sossego e o de
sua família, deixando de gastar quando não tiver condições de pagar a conta no
final do mês?
MARIA INÊS DOLCI - advogada especializada na área da defesa do consumidor.