Cidades saudáveis para
pessoas saudáveis
Planejamento
urbano ajuda a lidar com problemas causados por falta de atividade física e
excesso de poluição, ruído e calor.
Em um mundo que caminha com muita rapidez para a existência de
uma população majoritariamente urbana, a OMS (Organização Mundial de Saúde)
declara que o planejamento das cidades é
reconhecidamente parte crítica de uma solução abrangente para lidar com resultados
adversos para a saúde.
Embora estejamos passando por um longo e doloroso processo
pandêmico, a relevância das doenças não transmissíveis na saúde da população
mundial está cada vez mais evidente.
Em 2030, segundo cientistas, elas serão
responsáveis por 77% da carga global de enfermidades.
Doenças cardiovasculares
ou cardíacas são os tipos mais comuns, e responsáveis por 44% de todas as
mortes causadas por doenças não transmissíveis.
Trabalho publicado por pesquisadores da University Medical
Center, em Mainz, na Alemanha, explora como a urbanização exacerba os riscos de
tais doenças, ameaçando, dessa forma, a população das cidades. Será que o
planejamento urbano pode proteger a saúde?
O estudo de Mainz sintetiza as evidências existentes acerca do
impacto na saúde de vários riscos ambientais urbanos relacionados com a
poluição do ar (doenças respiratórias e cardiovasculares), com ruídos
provenientes dos meios de transporte, que contribuem para o risco de doenças
metabólicas ao aumentar os níveis de hormônios do estresse, a frequência
cardíaca e a pressão arterial; e com a poluição luminosa à noite associada a
mudanças no ritmo circadiano, que está ligado a condições como obesidade e
doenças cardíacas.
O trabalho aponta, ainda, como a saúde humana e as mudanças
climáticas estão relacionadas.
Cidades com mobilidade baseada em automóveis favorecem
o congestionamento do tráfego, a poluição do ar e o ruído.
O resultado é mais
estresse, traumas e inatividade física, que resultam em piora geral na saúde e
em mais mortes.
Conclui-se que precisamos de projetos melhores para nossas
cidades.
O estudo mostra, por exemplo, que 20% de todas as mortes poderiam ser
evitadas se as cidades fossem projetadas para atender as recomendações
relacionadas à atividade física, poluição do ar, ruído, calor e espaços verdes.
Os pesquisadores identificaram quatro modelos urbanos que podem
ser descritos como saudáveis. O primeiro é a cidade compacta, com alta
densidade, otimização do transporte e amplos espaços verdes.
O segundo modelo é a cidade estruturada em superquadras
delimitadas por vias arteriais, nas quais pedestres e ciclistas têm prioridade
e o tráfego residencial é permitido, apenas, com limite de velocidade.
Em
Barcelona, na Espanha, estima-se que o planejamento urbano efetuado desta forma
evite quase 700 mortes prematuras todos os anos.
O terceiro está ligado à cidade de 15 minutos, que recentemente
recuperou a popularidade como forma de estruturação urbana em função da pandemia.
Essa ideia, à qual Anne
Hidalgo, prefeita de Paris, atrelou sua campanha à reeleição em 2020, é que
todos os residentes possam atender facilmente as suas necessidades diárias
essenciais em 15 minutos, caminhando ou pedalando.
Por último, o modelo de cidade sem automóveis implantado com
sucesso no bairro Vauban de Freiburg, na Alemanha, é estruturado na redução de
tráfego privado desnecessário e no fácil acesso aos transportes público e ativo.
Poluição, espaços verdes e qualidade da habitação são questões
interligadas.
Pensar nelas como contribuição para estruturar áreas urbanas pode
ajudar a entender como, juntas, elas impactam nos problemas de saúde e no
status socioeconômico, que influenciam na extensão de seus efeitos.
Em última análise, considerados os meios de transporte, as
fontes de energia ou as opções de moradia, trabalho e lazer, há uma necessidade
urgente de avaliar, de forma consistente, todos os fatores urbanos que afetam
nosso bem-estar.
Isso posicionaria os planejadores urbanos como profissionais
de saúde de fato, com a responsabilidade concomitante de planejar cidades e
proteger a saúde humana.
CLAUDIO BERNARDES - Engenheiro
civil e presidente do Conselho Consultivo do Sindicato da Habitação de São
Paulo. Presidiu a entidade de 2012 a 2015.