Indiferença escolar
Escola no Brasil é tão ruim que fechamento na pandemia teve pouco
impacto no Pisa.
Pelos recém-divulgados dados do Pisa, a prova
internacional que avalia a qualidade da educação básica, aplicada a alunos de 15
anos, o Brasil está entre os países que menos sofreram com a
pandemia.
De um modo geral, o mundo sentiu o fechamento das escolas. No
teste de matemática, os países da OCDE perderam em média 15 pontos entre
2018 e 2022.
No Brasil, contudo, a queda foi de apenas 5 pontos.
Se você é do tipo que faz
questão de ver sempre as coisas pelo ângulo positivo, agarre-se a essa
interpretação e interrompa a leitura desta coluna. Se não teme a verdade, pode
continuar.
Eu receio que exista uma exegese muito mais sombria (e realista) para
os dados do Pisa. Nossas escolas para essa faixa etária são tão ruins que frequentá-las ou não faz pouca diferença.
O
pouco que os alunos sabem é adquirido por osmose ou são resquícios do ensino
fundamental 1, fase em que o sistema funciona melhor.
A análise do desempenho dos estudantes mais ricos reforça
essa hermenêutica.
Nessa coorte, que se sai consistentemente melhor do que a
dos mais pobres, a queda de desempenho foi de 14 pontos, em linha com a média
da OCDE.
Ou seja, quando as escolas funcionam, seu fechamento causa prejuízos
palpáveis; quando acrescentam pouco para os alunos, mal se nota a diferença.
Não é que o Brasil não tenha
avançado nada nas últimas décadas. Praticamente universalizamos o acesso ao
ensino fundamental e até colhemos melhorias qualitativas, mas mais concentradas
no fundamental 1.
Só que estamos tão para trás em relação a outros países que
isso ainda é muito pouco.
E não sou muito otimista quanto
ao futuro. Acho que houve uma mudança política no país que valorizará mais
projetos de curto prazo do que os de longo.
Parlamentares, que hoje mandam no
Orçamento, pensam no máximo bienalmente. E os governos, que deveriam perseguir
metas estratégicas de Estado, têm se limitado a tentar sobreviver.
HELIO SCHWARTSMANN - jornalista, foi editor de
Opinião. É autor de "Pensando Bem…".