A Strand é sem dúvida a rainha das livrarias independentes de Nova York e movimenta cerca de 2,5 milhões de livros por ano

Jennifer Lobaugh queria muito um emprego na famosa livraria Strand, mas havia um teste. Relacionar uma lista de títulos a uma lista de autores. Ela ligou “O Segundo Sexo” imediatamente a Simone de Beauvoir. Mas depois teve dúvida. “Pensei que eu não teria dificuldade”, disse Lobaugh, 27, que tem mestrado em redação criativa e experiência em literatura francesa e russa. “Mas fiquei nervosa.” A Strand é sem discussão a rainha das livrarias independentes de Nova York. Ela movimenta 2,5 milhões de livros por ano e tem cerca de 200 funcionários.

Há quase um século, a enorme loja no centro da cidade simboliza não apenas livros baratos, mas emprego em tempo integral para aqueles cujo conhecimento erudito supera suas habilidades práticas. O salário inicial é de US$ 10,50 (cerca de R$ 34) por hora.

Um emprego lá também deu a gerações de recém-chegados, como Lobaugh, que é originalmente de Oklahoma, algo como um status instantâneo em Nova York. Os empregados da Strand são conhecidos por serem “rabugentos”, mas também inteligentes e até interessantes. Com o tempo, a reputação do teste da Strand cresceu: ele se tornou parte da identidade da loja, tanto quanto suas sacolas de compras, feitas de lona. Na verdade, a lenda tornou-se maior que o próprio teste, que só tem dez linhas.

“Quanto tempo levou? Provavelmente eu sofri durante cinco minutos”, disse Lobaugh. “Mas acho que demorou só 90 segundos.”

Cerca de 60 pessoas se candidatam a um emprego na Strand toda semana; geralmente só duas são contratadas. Os vendedores que percorrem os 900 metros quadrados da sala principal não são os únicos que têm de enfrentar o teste. Até para trabalhar no armazém da livraria no Brooklyn é preciso passar pela prova. Fred Bass, que é o proprietário da Strand com sua filha, Nancy Bass Wyden, chama o teste de “uma maneira muito boa de encontrar bons empregados”. A Strand foi fundada em 1927 pelo pai de Fred, Benjamin Bass, filho de imigrantes lituanos. A Strand mudou-se para o lugar atual, na Broadway com rua 12, em 1957. Um formulário de inscrição em papel surgiu em 1965; o teste foi implementado nos anos 1970. “Achei que era uma boa maneira de descobrir se uma pessoa tinha conhecimento de livros”, disse Bass, que aos 88 anos ainda trabalha na loja em parte do tempo.

Bass escolheu obras-primas que remontam a Homero. “Moderno, com clássicos”, disse ele recentemente, de trás do balcão. “Eu incluía algo de ciência, como Darwin. E depois uma coisa matreira. Fiz uma que não combinava. ‘E o Vento Levou’, sem Margaret Mitchell”, disse ele. “Aquilo me dizia quem era esperto.” Nos últimos anos, muita coisa mudou na Strand. Mas o teste é uma constante. Durante cerca de três décadas, Bass conduziu o teste. Recentemente, Constance Fox assumiu as contratações e o teste. Se a prova literária da Strand está ligada a sua cultura, as maneiras de trapacear também estão. Bass contou sobre um jovem, décadas atrás.

“Ele não conhecia nenhum livro”, disse o livreiro. “Mas foi inteligente o suficiente para perguntar aos vendedores e encontrar as respostas.”

E foi contratado. Quantas respostas certas um candidato precisa dar sempre foi um segredo muito bem guardado. Fox disse: “É a última coisa que eu olho, para ser franca”.

Mas às vezes pode fazer toda a diferença.

“O que eu acho mais interessante é quando as pessoas não respondem, mas escrevem: ‘Sou um artista. Sei tudo sobre Picasso’, ou ‘Veja o que eu sei sobre livros para crianças’”.

“É um teste de personalidade interessante”, acrescentou ela.

TESTE SUA CULTURA LITERÁRIA
A livraria Strand incluiu um teste de conhecimento literário em seu formulário de emprego desde os anos 1970. Aqui vai um exemplo de um teste antigo. Junte o autor ao título do livro. Atenção: há uma “pegadinha”. Você consegue identificá-la?

- John Kennedy Toole
- Henrik Ibsen
- Ralph Ellison
- Jonathan Swift
- Nikolai Gogol
- Carson McCullers
- Virginia Woolf
- Milan Kundera
- George Orwell
- V.S. Naipaul

1. O Coração É um Caçador Solitário
2. A Revolução dos Bichos
3. Ao Farol
4. Uma Casa para o Sr. Biswas
5. Homem Invisível
6. Uma Confraria de Tolos
7. Almas Mortas
8. Esperando Godot
9. As Viagens de Gulliver
10. A Insustentável Leveza do Ser

1. McCullers; 2. Orwell; 3. Woolf; 4. Naipaul; 5. Ellison; 6. Toole; 7. Gogol; 9. Swift; 10. Kundera. A pegadinha: Henrik Ibsen não escreveu “Esperando Godot”; foi Samuel Beckett.

Annie Correal  - um jornalista freelance baseado em Nova York.

Fonte: jornal New York Times