Nesses
últimos dias, eu venho refletindo bastante sobre a crise.
Aliás,
estou “quase” chegando à conclusão de que não estamos em crise nenhuma, mas vou
deixar para desenvolver essa tese em um artigo futuro…
Mas, voltando à crise, é sempre importante lembrar que crises
não afetam todo mundo por igual. Algumas pessoas perdem mais, outras perdem
menos e algumas chegam, inclusive, a prosperar na crise (as “antifrágeis”,
fazendo referência a Nassim Taleb, um dos autores favoritos da turma do mercado
financeiro – eu incluso).
Nas crises, surgem oportunidades. Onde existem problemas,
existem oportunidades – e o que não falta agora são problemas…
Cash is
king é uma
expressão em Inglês que significa, literalmente, “o dinheiro é o rei”. Mas pode
ser traduzida, mais livremente, como “o que vale é ter dinheiro na mão”. E
estamos chegando a um momento em que aqueles que estão com dinheiro na mão (ou,
no jargão das finanças, estão “líquidos”) vão fazer a festa.
Dois
eventos recentes me chamaram a atenção e me motivaram a escrever este artigo.
Um deles foi a leitura de uma reportagem que saiu na Veja Rio (e que li na web,
de forma completamente aleatória, uma vez que sou de São Paulo) chamada “Mercado imobiliário enfrenta suapior crise em décadas”.
A
reportagem fala, previsivelmente, do colapso do mercado imobiliário (aliás,
hora de revisitar o meu “Blues da Bolha Imobiliária”,
clique aqui para ler), mas conta histórias
interessantes de pessoas que estão com dinheiro na mão (cash is king, my friend…)
e já estão começando a se aproveitar de grandes oportunidades, como a dentista
que conseguiu um generoso desconto (que chegou a quase trezentos mil reais) e
alguns “brindes”, como a instalação de armários de cozinha, entre outras
coisas.
O outro evento foi uma série de palestras que fiz para o
segmento do agronegócio. Ouvi histórias interessantes de produtores que
mantiveram suas finanças em ordem na época de “vacas gordas” (trocadilho não
intencional) e, agora, com o mercado piorando, estão adquirindo, a preço de
banana, terras e outros ativos de produtores que estão sufocados por dívidas
(ou, pior, de um monte de aventureiros que resolveram entrar no agronegócio
porque “foram na onda” do governo e outros agentes, que estavam vendendo essa
ideia – falsa – de crescimento econômico explosivo do Brasil).
Estamos vendo (e parece que vamos ver cada vez mais) uma série
de “desgraças” acontecendo, como desemprego e empresas tendo que fazer
promoções e reduções de preços para conseguirem sobreviver. Ao contrário do que
foi dito na matéria da Veja Rio, as pessoas não estão deixando de comprar
imóveis por medo das incertezas econômicas e políticas. Certamente, essas
incertezas têm um peso, mas o principal ponto é o fato de que as pessoas estão,
pura e simplesmente, sem grana (e sem crédito…).
Vai haver dor, vai haver lágrimas e talvez até haja algum
sangue, mas algumas pessoas (infelizmente uma minoria) viverão aquela que
poderá ser a melhor fase econômica de suas vidas. São aquelas pessoas que
mantiveram as contas em ordem durante o período de aquecimento econômico, não
se meteram em dívidas e que, espera-se, vão conseguir manter suas fontes de
renda durante esta atual fase mais “tenebrosa”.
Essas pessoas terão acesso a oportunidades raras e estarão numa
posição incrivelmente vantajosa quando esse período ruim passar e a economia
voltar a crescer (pode demorar para acontecer, mas não devemos esquecer que a
economia é cíclica).
Grandes fortunas e grandes negócios irão nascer durante esse
período de crise. Quem viver, verá (e, quem sabe, prosperará).
André Massaro -
escritor, palestrante, consultor financeiro