Passamos
pelas duas denúncias contra o presidente Temer e agora o campo está
aberto para que o governo encaminhe as reformas necessárias. O problema está no
fato de que faltam poucas semanas úteis para que sejam discutidas e votadas
medidas que são duras, sem dúvidas, mas de suma importância para que o país comece
a encontrar seu rumo econômico nesse ano de 2017.
Hoje
parece voz comum que o governo não conseguirá fazer nada de mais grandioso
nessas poucas semanas. Depois teremos recesso e estaremos quase no final do
primeiro trimestre. Em seguida, a desincompatibilização e membros do governo
que irão se candidatar a cargos eletivos, colocando, eventualmente, o próprio
ministro Henrique Meirelles. Dessa forma, acabariam as chances de
qualquer reforma ou medidas importantes.
Certamente
estaremos então diante de um dilema. Podemos ter um candidato comprometido com
reformas ou outro que leve o país na direção mais populista. O difícil parece
ser acreditar num candidato comprometido com reformas estruturantes,
necessariamente duras, ganhando eleição que promete ser polarizada. Mais fácil
seria crer em alguém com diretrizes populistas iludindo eleitores incautos.
O exemplo francês
É fato
que podemos ter um candidato que não fale explicitamente em reformas como a da
previdência, mas que irá nessa direção por pura falta de opção para ampliar
gastos em investimentos. Mas será que esse candidato com o correr dos meses não
perderia o apoio conquistado nas urnas pela população e políticos? Vide exemplo
do presidente Macron da França, que mesmo falando muito durante a
campanha presidencial em reforma trabalhista, se vê poucos meses depois de
eleito, perdendo apoio.
Temos
os dois caminhos que podem ser trilhados, com efeitos completamente distintos
sobre a precificação dos ativos. Se fizermos reformas estruturantes, regularmos
convenientemente a reforma trabalhista aprovada (sem contribuição sindical
obrigatória como querem voltar alguns), conseguirmos aprovar reforma
tributária, reduzir o tamanho do Estado Brasileiro e iniciarmos reforma
política. Haverá espaço para melhor precificação dos ativos e chance de darmos
passo importante no sentido de prosseguirmos no processo de recuperação
econômica, e ainda com forte apoio de investidores e recursos externos.
Ao
contrário, se enveredarmos pelo caminho do populismo, ao estilo “republiqueta”
latino-americana, estaremos fadados àquele voo de galinha da economia, que
durante muito tempo na histórica do Brasil foi praticada por governantes
oportunistas. A reprecificação dos ativos seria inversa. Tudo parecerá caro e
com alguma certeza seremos abandonados pelos investidores externos.
Dois caminhos que poderemos
trilhar
Portando,
existem sim dois caminhos para o Brasil trilhar. Porém, só existe uma solução,
uma saída possível. Sem reformas não há como o Brasil sair consistentemente do
limbo. Quantas vezes poderemos usar o subterfúgio de distribuir recursos
capturados por FGTS, PIS e PASEP para estimular o consumo e/ou reduzir o nível
de endividamento das famílias? Até onde conseguiremos manter a inflação
comportada como agora? Até onde conseguiremos baixar juros reais para manter a
economia acessa até que desande?
Não há
como fazer isso indefinidamente e tendo como pano de fundo uma dívida que pode
facilmente superar 80% ou mais do PIB. Ou ainda ter o governo gerando déficits
dessa ordem de R$ 159 bilhões ou mais todo os anos. Qualquer tentativa nessa
direção, será uma corruptela da famigerada “nova matriz econômica” de Dilma
Rousseff.
Precisamos
fazer reformas e estimular os investimentos. Um país que investe algo como
somente 15% de seu PIB não consegue nem cobrir a depreciação de equipamentos.
Sem reformas não haverá recursos para investimento do Estado e claramente o
setor privado e estrangeiros não estarão investindo no Brasil.
Não podemos
nos enganar que com paliativos iremos conseguir alguma coisa de mais positiva
para o país. Como se diz: soluções fáceis quase sempre levam a resultados
errados. Não podemos tergiversar sobre a necessidade de reformas.
Alvaro Bandeira -
economista chefe do Home Broker modalmais, atua há mais de 40 anos no mercado
financeiro, foi presidente da Bolsa Brasileira de Futuros (BBF), Presidente da
Apimec, conselheiro da BVRJ e de empresas de capital aberto. Além de contribuir
ativamente com artigos e entrevistas para os diversos veículos de economia e
finanças pessoais deste país.
Fonte: site dinheirama