A
sociedade brasileira está ingressando num período tenso, como mostra a
repetição de protestos, manifestações, greves, conflitos e vandalismo. Tudo
isso ocorre em meio a muita controvérsia sobre as vítimas, responsáveis e
beneficiados, o que gera uma desorientação geral e aumenta a complexidade do
papel da imprensa nesta conjuntura.
Uma
porta enguiçada de vagão de metrô é suficiente para deflagrar uma sucessão de
eventos que quase paralisaram a maior metrópole do país. A população cansada
e esgotada por tantas dificuldades no seu quotidiano parte para o confronto
com a polícia, ataca prédios governamentais e agências bancárias, revelando uma
tolerância quase de zero com relação descalabro nos serviços públicos.
A
insatisfação generalizada e a desorientação informativa criam o ambiente
adequado para agentes infiltrados agirem no meio dos manifestantes
provocando situações que depois serão exploradas politicamente, diante de uma
população perplexa.
Estamos
muito perto de uma situação onde uma pequena faísca pode provocar um grande
incêndio ou explosão. As pessoas estão irritadas e com reduzida capacidade de
refletir diante de situações obscuras e complexas. O ambiente está propício a
ações fruto do impulso, paixão e raiva. Qualquer episódio ganha
imediatamente versões antagônicas, o que contribui para aumentar a incerteza e
a confusão.
Tudo
isso ocorre tendo como pano de fundo as eleições presidenciais deste ano. A
campanha eleitoral começou de forma disfarçada, com os partidos de oposição
partindo para um perigoso vale-tudo político diante do espectro de mais uma
vitória do PT. A população ainda não se deu conta, mas qualquer protesto ou
manifestação vira imediatamente uma peça de um jogo político manipulado por
partidos que dissimulam suas reais intenções por meio de uma retórica moralista
e legalista.
Quando
os políticos só pensam em manter empregos por meio de eleições e com uma
população à beira de um ataque de nervos, a imprensa passa a ter um papel de
importância crítica na busca de uma racionalidade mínima na percepção da
crise. Repórteres e editores começam a ter que caminhar sobre ovos porque um
pequeno deslize pode acabar provocando um grande conflito com desfecho
impossível de ser previsto. Um escorregão editorial pode criar uma situação que
seguramente vai exigir arrependimentos futuros, como aconteceu com os jornais e
emissoras que apoiaram o golpe de 1964.
É em
conjunturas como a que estamos vivendo atualmente que o papel da mídia pode ser
avaliado. Se a imprensa levar em conta apenas seus compromissos políticos e
interesses financeiros, a população ficará numa situação de orfandade noticiosa
e incapacitada para avaliar areal dimensão da crise. Os conglomerados
jornalísticos nacionais estarão repetindo os mesmos erros cometidos há
cinquenta anos.
Carlos
Castilho – jornalista, professor, autor.
Fonte: site Observatório da Imprensa