Até quando pode ir o arrocho dos
juros do Banco Central
Não houve sinal de Selic menor em agosto; mais importante é saber da
velocidade dos cortes.
O Banco Central não deu sinal algum de que
a Selic vá baixar em 2 de agosto, data da
próxima decisão sobre a taxa básica de juros.
Tirou as cerejas mais amargas e
vencidas dos comunicados de decisões anteriores, tais como ameaças de altas
extras e Selic mantida em 13,75% a perder de vista
—seria exagero maluco manter tal palavreado.
No mais, disse que o show do
arrocho ainda não terminou.
Além de afirmar que a situação
ainda pede "cautela e parcimônia", a direção do BC dobrou a dose de
tranquilizante, receitando "paciência e serenidade".
A projeção de inflação do BC,
baseada também no comportamento da Selic estimado pelo "mercado", é
de 3,4% em 2024, para uma meta de 3%. Na ponta do lápis, parece quase lá.
E daí?
O BC até pode cortar a Selic em agosto. Mas, pelo que seus
diretores escreveram no comunicado desta quarta-feira, é improvável.
A julgar
pelos itens da análise de riscos do BC, a probabilidade de fatores de baixa
extra de preços e expectativas inflacionárias é pequena, menor do que a dos
riscos de alta.
Se decidir cortar em agosto, deve fazê-lo como se testa a
temperatura de água de banho de recém-nascido e usando a ponta do dedo
mindinho: 0,25 ponto, para 13,5%. Em si, não refresca nada.
No entanto, pode, sim, vir um IPCA mais baixo do que o previsto
e, talvez mais importante, até agosto, o governo pode decidir que a meta de
inflação para os próximos anos fique mesmo em 3%.
Neste caso, segundo chutes
informados dos povos do mercado, as expectativas de inflação baixariam algo
entre 0,3 e 0,5 ponto, chegando praticamente na meta de 2024.
Ou seja, o BC pode estar dando
peso relevante também à manutenção da meta na reunião do Conselho Monetário
Nacional do final deste mês.
A Selic em 13,75% pode ter
efeitos ambíguos, é bom lembrar. Ainda é arrocho, ainda encarece o custo de
financiamento do governo etc.
Mas as taxas de prazos mais longos, aquelas com prazo
maior do que um ano, vêm caindo bem, em particular desde maio, em parte por
causa do dito arcabouço fiscal, em parte por causa de índices de inflação mais
comportados do que se esperava, em parte por causa do dólar em baixa (que cai também
devido à Selic alta).
Sim, os rentistas estão ganhando
um tanto menos com as taxas menores, embora estejam faturando com a alta dos
preços dos títulos mais longos.
Não é improvável que as taxas de
longo prazo caiam mais um pouco, tudo mais constante. Essas taxas definem o
custo de financiamento da dívida do governo (são grosso modo as taxas do
Tesouro Direto, por exemplo) e são o piso do custo em geral do dinheiro.
Para o crescimento de curtíssimo
prazo, a questão mais importante é saber da velocidade da queda da Selic, que
em 13,75% já vem contaminando o PIB de 2024 faz alguns meses.
Por ora, o BC
continua a dizer que a coisa vai ser devagar, se tanto, e vai depender dos
dados.
O pessoal quer ver a inflação de serviços, perto de 6%, e núcleos de
inflação baixarem bem.
Para o crescimento de médio
prazo, francamente, não faz diferença se a Selic vai estar em 12,25% ou ainda
horríveis 11,75% em dezembro.
A grita com o BC vai aumentar,
claro. A construção civil, o varejo e a indústria estão ficando
mais irados. Resta saber quanto mais o governo vai reclamar e se vai
tomar alguma atitude de retaliação, mais improvável.
Repita-se, manter a meta de
inflação em 3% para 2024 e anos seguintes ajudaria a segurar expectativas.
Conseguir bons resultados nas contas do governo também.
Fazer o contrário é uma
ideia de jerico. Se Lula 3 seguir o manual, a partir do trimestre final do ano
a conta do arrocho passa a ser de responsabilidade do BC.
VINICIUS TORRES FREIRE - jornalista,
foi secretário de Redação da Folha. É mestre em administração pública pela
Universidade Harvard (EUA).