Viver
fora da zona de conforto desafia e proporciona autoconhecimento e aprendizado
Estamos vivendo um turbilhão de acontecimentos ruins,
com enorme impacto em nossas vidas. Governos, empresas e pessoas estão revendo
suas políticas e hábitos para tentar preservar vidas e evitar o caos.
A saúde, de cada um de nós e das pessoas com as quais
nos relacionamos, é a primeira coisa a ser preservada. O isolamento que nos
protege fisicamente requer atenção e cuidado com nossa saúde mental e
emocional.
As emoções estão à flor da pele. O momento é tenso,
precisamos de equilíbrio, bom senso e espírito de solidariedade.
A Covid-19 acertou em cheio não apenas a saúde de todos
mas a economia dos países. O “mercado” tem demonstrado, de forma contundente, o
impacto negativo
na economia como um todo.
Mas, afinal, quem é o senhor mercado? Um grupo de
pessoas que agem e reagem, movidos por fatos, expectativas e emoções, nem
sempre bem-sucedidos em manter a calma e a razão, quando são dominados por
sentimentos incontroláveis de preservação.
Investidores vivenciaram a experiência dolorosa de forte
desvalorização dos recursos investidos em ativos de renda variável. Os ativos
de renda fixa, de longo prazo e taxa prefixada, também foram impactados
negativamente.
A reação em manada complica ainda mais as coisas. Todos
querendo vender, sair ou reduzir o risco, e pouquíssimos compradores, dispostos
a entrar em um mercado no qual todos buscam a porta de saída.
A interrupção das negociações em Bolsa, mecanismo
denominado circuit breaker, impõe uma paralisação forçada, dando às pessoas a
chance de parar, pensar, entender o que está acontecendo, avaliar o impacto e
tomar decisões não impulsivas.
O mecanismo de stop loss, limite de perda definido por
investidores e gestores de carteiras, obriga-os a vender ativos, mesmo que essa
atitude contrarie sua percepção pessoal, mesmo que o preço esteja muito abaixo
do que o tecnicamente estimado.
O mecanismo foi criado exatamente para afastar as
emoções das decisões racionais que precisam ser tomadas. Entretanto, como
aumenta a pressão de venda, contribui ainda mais para a queda dos preços e a
ampliação das perdas.
Alguns investidores em fundos de investimento cogitaram
resgatar suas cotas tentando preservar parte do capital investido, mas
descobriram que o dinheiro permanece em risco por mais 30 ou 60 dias, conforme
a regra de conversão das cotas no momento do resgate.
O administrador do fundo acata o pedido de resgate em
D-zero, dia do pedido, entretanto, o cotista não sabe o valor pelo qual suas
cotas serão convertidas em dinheiro.
O gestor tem 30 dias (ou mais) para decidir que ativos
irá vender e quando fará a venda, gerando caixa para pagar os resgates
solicitados.
Esse é outro mecanismo que tenta afastar as pessoas,
investidores e gestores profissionais, de emoções que comprometam a tomada de
decisão. Pressão e estresse não são bons companheiros na hora de decidir.
Pausa também para pensar se houve planejamento antes de
investir, se a quantia de recursos alocada em risco foi adequada, refletir se a
hipótese de perdas foi considerada, se o risco foi devidamente avaliado e como
reagiríamos a ele.
Certamente um aprendizado para todos, pensar no
individual e no coletivo com responsabilidade, controlar a ansiedade e o
estresse, manter a calma, fazer o melhor que for possível dadas as
circunstâncias de cada um.
Marcia Dessen | planejadora financeira CFP (“Certified Financial
Planner”), autora de “Finanças Pessoais: O Que Fazer com Meu Dinheiro”.
Fonte: coluna jornal FSP