Professores
dos cursos de humanas estão preparando militantes, e não intelectuais
Houve um bom esforço nos últimos anos por mais
diversidade étnica e social nas universidades. As salas de aula têm hoje
estudantes de cor de pele e origens diferentes —mas cada vez mais homogêneos no
pensamento. É hora de se preocupar com a falta de diversidade ideológica.
Pensei nisso ao ler o programa da disciplina “O golpe de 2016 e o futuro da democracia no Brasil”,
que a Universidade de Brasília vai ofertar este ano. O mais impressionante
nesse caso não é disciplina em si –o curso é optativo, e o professor Luis
Felipe Miguel até foi honesto ao revelar sua posição no título da matéria.
O professor da UnB Luis Felipe Miguel - Ruy Baron -
6.ago.2014 /Valor
O mais grave é a miséria intelectual que o programa
revela. Não há ali nenhuma vontade de conhecer, nenhum apreço à divergência. O
professor parece não enxergar diferença entre doutrinação e educação. A
biografia, panfletária, intercala textos de Emir Sader, da Carta Capital, do
“Blog do Sakamoto” e do “Blog da Boitempo”.
Depois da repercussão, o professor disse que ministrará
a aula sem “abrir mão do rigor científico ou aderir a qualquer tipo de
dogmatismo”. Difícil acreditar.
Na descrição do curso, Miguel fala em “analisar o
governo presidido por Michel Temer e investigar o que sua agenda de retrocesso
nos direitos e restrição às liberdades diz sobre a relação entre as
desigualdades sociais e o sistema político no Brasil”.
Não seria o caso de discutir se há de fato uma “agenda
de retrocesso”? Talvez as reformas tenham sido criadas para extinguir leis que
mais atrapalhavam do que ajudavam os trabalhadores. “Desigualdades”? Ora, um
dos efeitos da reforma da Previdência seria justamente diminuir a desigualdade
causada pela Previdência dos funcionários públicos.
Disciplinas como essa mostram que as universidades
correm o risco de virar “think tanks” de esquerda —grupos de puro proselitismo, isolados da sociedade, sem
relevância fora do seu círculo.
Professores dos cursos de humanas estão preparando
militantes, e não intelectuais. Sociólogos, historiadores e cientistas
políticos saem da universidade como mestres em patrulhar e rotular quem não
concorda com eles. Integrantes de uma nova ortodoxia, acusam de blasfêmia ou
heresia quem pensa diferente. Mal conhecem os argumentos de outras correntes
políticas.
Nos Estados Unidos, já tem gente preocupada com a falta
de diversidade ideológica. Um grupo de 1700 acadêmicos de diversas linhas de
pensamento criou o movimento “Heterodox Academy”, que tenta estimular a
"diversidade de pontos de vista, o entendimento mútuo e discordância
construtiva".
“A universidade americana se tornou uma ortodoxia
política, quase uma instituição religiosa”, diz o psicólogo Jonathan Haidt, um
dos criadores do “Heterodox Academy”. “A ortodoxia política é particularmente perigosa
nas ciências sociais, que lidam com muitos assuntos controversos (como raça,
racismo, gênero, pobreza e imigração e política). Precisamos de pesquisas
inovadoras e confiáveis em todos esses temas, mas será que uma ciência social
carente de diversidade de pontos de vista é capaz de produzir descobertas
confiáveis?”
Eis
uma boa pergunta para se fazer durante curso sobre “o golpe de 2016” na
UnB.
Leandro
Narloch - Jornalista, mestre em filosofia
e autor do Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil.
Fonte:
jornal FSP