Reforma daPrevidência e os principais pontos
A avaliação que nós fazemos das coisas tem muito
mais a ver com o que se passa pela nossa cabeça do que com o que se passa com
as coisas que avaliamos.
É o clássico copo meio cheio ou meio vazio: o
Brasil hoje está voltando ao seu caminho ou indo para o abismo?
Sempre fui otimista com o nosso país, mesmo quando
não havia motivo para sê-lo, porque creio que não teremos a competência para
destruir nossas qualidades.
Apesar de todos os problemas que temos visto,
apesar de ainda sofrermos os efeitos da maior recessão econômica de nossa
história, ou por causa de tudo isso, o Brasil vive momento muito duro, mas
transformador.
Reformas necessárias há muito tempo ganharam
urgência e caminham, mesmo que aos trancos e barrancos, pelo Congresso
Nacional.
Nesse caminho, precisamos agregar disciplina às
forças do Brasil. E disciplina é uma palavra que vem do grego e cuja raiz é
aprender.
Apesar dessa tendência polarizadora do país (e do
mundo), nós temos o valioso DNA da tolerância e da convivência. Mas precisamos
agregar a esse DNA a disciplina da negociação.
Como ensina William Ury, o mestre desse assunto em
Harvard, o maior oponente numa negociação muitas vezes não é a pessoa do outro
lado da mesa, mas a pessoa do outro lado do espelho.
Para chegar a um acordo, é preciso tanto negociar
com o outro quanto consigo mesmo. E em muitas horas é mais importante ouvir do
que falar. Ouvir não só o que é dito, mas o que está por trás das palavras, dos
slogans, dos memes da internet. E, como diz William Ury, é fundamental mostrar
respeito.
Mostrar respeito no debate não custa nada e traz
dignidade, que é tudo.
Vamos botar as coisas na perspectiva certa. A Lava
Jato é um ativo do Brasil. A diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde, disse
isso outro dia. Qual é o país emergente que está fazendo um processo tão
profundo e abrangente como esse? A China, a Rússia e a Índia não estão. O
Brasil está.
Assim como não podemos mais tolerar a corrupção que
havia, não podemos mais manter as atuais regras da Previdência, as leis trabalhistas
e o sistema tributário. Sem modernizações, eles afastarão o Brasil de seu
destino.
Às vezes nós transitamos sem escalas de um orgulho
infundado ao mais profundo complexo de vira-latas.
Nosso sistema financeiro é dos mais sólidos e
sofisticados, como vimos na mais recente crise mundial. Temos políticas
públicas avançadas em saúde, como o programa de combate à Aids e o SUS, que,
com todos os problemas, já foi elogiado pela "Economist" por seu
alcance. Temos um setor agropecuário que lidera o mundo. Temos o 3G, que
exporta gestão. Temos essa música.
Então nós temos muitos atributos positivos no
Brasil, inclusive uma grande capacidade de tolerância e convivência. Serão eles
que, com disciplina e determinação, nos tirarão dessa crise e nos levarão ao próximo
patamar de desenvolvimento.
Somos craques em divulgar nossos problemas e fracos
em divulgar nossas virtudes.
Outro dia fui chamado para falar na Brazil
Conference de Harvard sobre como "vender" o Brasil no exterior. Isso
é fundamental. Mas acho que hoje precisamos também "vender" o Brasil
para os brasileiros
—para injetar mais confiança nessa esperança de mudança.
Não uma esperança boboca ou vã, mas uma esperança
disciplinada e empreendedora em relação ao país. Afinal, o nosso amor pelo
Brasil não pode ser platônico.
Nizan Guanaes - publicitário baiano, dono do grupo publicitário ABC.
Fonte: coluna jornal FSP