Você não deve mudar seu portfólio só porque se
aposentou
A alocação de seu
portfólio depende de cinco fatores, mas não da aposentadoria.
O conhecimento comum diria que ao se aposentar,
você deveria tornar seu portfólio mais conservador. Isto pode ser verdade para
algumas condições, mas não pode ser generalizado.
De fato, se você foi
disciplinado em sua vida financeira, provavelmente sua carteira não deveria
mudar com a data, mas, apenas, com uma estratégia ou pela alteração de um dos
fatores que vou explicar abaixo.
A maioria das
pessoas muda o portfólio com a aposentadoria por dois motivos.
Ou não tem
recursos suficientes para se aposentar e, portanto, não podem correr o risco
com o capital que já era deficitário ou não possuem uma estratégia de alocação
para o período de aposentadoria e acabam indo para o cenário mais conservador.
Aqui faço um
parêntese para esclarecer o objetivo que tenho hoje. Ele é de certa forma uma
resposta à dúvida do Sr. Welson. Ele me escreveu, baseado no artigo de ontem:
"Ok. Sua análise é voltada para o mercado produtivo jovem, ou seja, para
longo prazo.
Mas, e o mercado financeiro para a terceira idade?"
De fato, não
especifiquei a idade do leitor, mas o artigo de ontem serviria tanto a quem
está começando a poupar, quanto àquele que já se aposentou, ou seja, o da
"terceira idade" na definição do Sr. Welson.
O objetivo do
artigo de ontem era explicar como o leitor poderia estimar o retorno para cada
classe de investimento no longo prazo.
Essa estimativa não seria diferente por
causa da condição de idade, mas, é realizada considerando o horizonte de
investimento de longo prazo, ou seja, mais de 10 anos.
Se você tem 79
anos, segundo o IBGE, sua expectativa de vida é de 10,9 anos. Logo, a forma de
se estimar o retorno explicada ontem ainda poderia ser aplicada.
É importante
entender por que, nesta coluna, não costumo sugerir uma proporção de alocação
em qualquer ativo. Sugerir um portfólio aqui só me daria certeza de uma coisa.
Eu erraria para todos. A alocação depende de uma série de fatores e é
individual.
O objetivo deste
artigo é explicar o que justificaria uma mudança de alocação de sua carteira.
Amanhã, abordarei uma estratégia de como você pode rebalancear seu portfólio na
aposentadoria considerando as condições individuais de risco e o movimento de
preços do mercado.
Talvez você pense:
"ahh, o assunto de hoje é cansativo, vou esperar o de amanhã que é o
legal".
Calma, pois você precisa entender como pensar na sua alocação
básica para passar para a estratégia de rebalanceamento.
Antes disso, é
muito importante entender que você nunca deve ter mais risco que o necessário,
nem no começo de sua carreira, muito menos quando se aposenta.
Seu portfólio deve
ter o risco adequado. Assim, não é porque sua condição mudou para aposentado
que você tem de correr menos risco e, muito menos, não é porque você é jovem
que deva correr riscos desnecessários.
Assim, para
esclarecer quando mudar é relevante entender o que deveria determinar a
alocação de seu portfólio. Para isso, deve-se diferenciar o que é alocação
estratégica e alocação tática.
A primeira define
os pesos de longo prazo de sua carteira em cada uma das classes de
investimentos. Já a alocação tática são os desvios realizados ao longo do
caminho devido a mudanças de preço dos ativos e de cenário econômico.
Sua alocação
estratégica deve estar relacionada a três fatores: objetivo de retorno, perfil
risco e horizonte de investimento.
Veja aqui a
finalidade do artigo de ontem. Para encontrar a alocação estratégica que se
adequa ao objetivo de retorno é necessário se ter o retorno de longo prazo de
cada classe de investimento. No artigo de ontem, forneci o ferramental para
isso.
Agora voltando ao
tema de hoje. Perceba que o fato de se aposentar, não altera, necessariamente,
qualquer dos 5 fatores mencionados: cenário econômico, preços de mercado,
objetivo de retorno, perfil de risco e horizonte de investimento.
Você poderia argumentar
sobre se a aposentadoria não alteraria o último fator.
De fato, a mudança de
condição para aposentado, altera em apenas um dia seu horizonte de
investimento, ou seja, é irrelevante. L
ogo que se aposenta, usualmente, você
continua tendo um horizonte de investimento de longo prazo, ou seja, de mais de
10 anos.
De fato, o único
fator que poderia justificar uma alteração imediata é o perfil de risco. O
perfil de risco é composto de dois subfatores a habilidade de correr risco e a
capacidade de correr risco.
O fato de mudar de
condição de poupador para consumidor da reserva na aposentadoria, pode mudar
sua habilidade de correr risco, mas não sua capacidade de correr risco.
Você
pode ficar mais sensível à volatilidade de mercado após se aposentar. Portanto,
sua habilidade de correr risco pode se alterar.
Entretanto, o mesmo
não deveria ocorrer com a capacidade de correr risco. Se você se planejou bem
para a aposentadoria, a mudança de condição é algo já esperado.
Logo, já estava
considerada na capacidade de correr risco. É diferente, por exemplo, de quando
ocorre algo não esperado, como perder o emprego.
Entretanto, como a
grande maioria não é disciplinada em poupar para a aposentadoria, a mudança de
portfólio acaba sendo uma realidade para se resguardar.
De fato, sem um
planejamento, o portfólio que se tinha antes de se aposentar provavelmente já
não era o adequado.
Assim, a alteração de alocação não é devida à nova
condição, mas, talvez, por, finalmente, se fazer algum planejamento.
Amanhã abordarei
uma estratégia para alocação tática que está relacionada ao movimento dos
preços de mercado.
Michael Viriato - assessor de investimentos e
sócio fundador da Casa do
Investidor