Os
desafios de uma economia de abundância.
Uma
revolução na distribuição de energia, gratuita e a partir do Sol, ilustra a
grande transformação do momento.
Será
que estamos preparados?
Economia de abundância, você está preparado? - Foto:
Shutterstock
Há alguns dias, postei nas
redes sociais uma mensagem que deixou algumas pessoas intrigadas: “Talvez me
arrependa do que vou dizer agora, mas… Nos próximos anos, quero distância dos
setores de commodities e infraestrutura. (mundialmente falando…)”.
Essa mensagem foi escrita logo
depois que eu li um artigo sobre o Powerwall, da Tesla
Motors. Para quem não sabe, a Tesla Motors é um fabricante de carros elétricos
capitaneado pelo empresário americano, de origem sul-africana, Elon
Musk.
Ele que, entre outros
predicados, foi um dos fundadores do PayPal, é dono da SpaceX (que já tem
contratos com a NASA, para abastecer a Estação Espacial Internacional), da
Solar City (painéis solares para uso doméstico) e foi a fonte de inspiração
para a versão moderna de Tony Stark (o “Homem de Ferro”). Enfim, Elon Musk é,
provavelmente, o maior badass da atualidade, e sou um fã confesso
dele.
O Powerwall é, em poucas palavras, uma adaptação
da tecnologia de baterias da Tesla Motors para uso doméstico. Ele ajudaria a
resolver um dos maiores (e mais óbvios) problemas da energia solar, que é o
armazenamento de energia para uso nos períodos em que o Sol está ausente. Desta
forma, uma casa seria abastecida pela luz solar durante o dia e, de noite, pela
energia acumulada em uma bateria.
Se essa tecnologia for técnica
e economicamente viável (e, até o momento, tudo indica que sim), ela poderá
representar uma revolução sem precedentes no mundo da energia (ou, usando um
termo da moda, uma “disrupção”).
Ao menos em tese, uma casa
equipada com painéis solares e uma bateria com essas características se
tornaria energeticamente autônoma, gerando para si (e provavelmente para o
carro elétrico que fica na garagem) toda a energia de que precisa.
Uma casa energeticamente
autônoma poderia, tecnicamente falando, se desconectar da rede elétrica, e o
dono dessa casa hipotética poderia dar uma “banana” para as empresas de geração
e transmissão de eletricidade (e quem não gostaria de fazer isso aqui no
Brasil, depois desses últimos aumentos de preço da energia?).
Se o Powerwall der certo, outras empresas entrarão no
mercado, oferecendo soluções semelhantes, e se iniciará uma corrida desenfreada
para aumentar a eficiência das baterias e dos painéis solares.
O futuro da indústria da
energia, tal qual a conhecemos, será posto (na verdade já foi!) em xeque, e
poderá acontecer com o setor energético, guardadas as devidas proporções,
aquilo que aconteceu com o mundo das informações após a popularização da internet:
a informação se tornou abundante, onipresente, a um custo baixíssimo ou mesmo
custo zero.
Hoje em dia, “vender
informação” é uma das atividades mais ingratas que existem (pergunte para
qualquer pessoa que trabalha na mídia). É extremamente desafiador, pois a
grande maioria das informações pode, atualmente, ser encontrada de graça. Como
cobrar por algo que pode ser obtido de graça?
O futuro de organizações (e
mesmo países) que, hoje, prosperam por conta de seus recursos energéticos pode
ficar seriamente ameaçado. Num horizonte de prazo maior (talvez ao redor de dez
ou vinte anos), toda nossa atual infraestrutura energética pode se tornar
obsoleta.
Nesse mesmo período, outros
grandes avanços tecnológicos provavelmente surgirão, talvez em áreas como
inteligência artificial, nanotecnologia, exploração espacial, extensão radical
da expectativa de vida, medicina regenerativa, cultura de tecidos e impressão
3D em escala industrial (é, pessoal, a tal “singularidade” está chegando).
Setores inteiros (e os
respectivos empregos por eles gerados) sumirão. Outros setores e empregos
surgirão, mas ninguém sabe se em quantidade suficiente para substituir aqueles
que foram perdidos.
Uma era de abundância radical
está chegando. Informação grátis, energia grátis, comunicações grátis… A lista
não para por aqui! A Economia é conhecida como a “ciência triste” (dismal science), pois ela
trata exatamente da escassez – como alocar recursos escassos para satisfazer
necessidades e desejos sem limites.
Mas caminhamos agora para uma
“Economia da Abundância”, que, apesar do nome otimista, nos apresentará
desafios igualmente grandes.
Talvez, no futuro, robôs e
inteligências artificiais farão o “trabalho pesado”, enquanto a Humanidade se
dedicará ao ócio e às artes (ou não, né? Vai que aconteça um cenário tipo
“Exterminador do Futuro”). Mas essa transição será, provavelmente, bastante
dura e sofrida.
Possivelmente passaremos por
uma situação similar àquilo que os sociólogos chamam de “anomia” – um período
de caos e anarquia, causado por mudanças radicais, em que as regras antigas
deixam de valer, mas as regras novas ainda não são conhecidas.
Talvez tenhamos que passar por
um grande período de desemprego e concentração de riquezas nas mãos de poucos
até que a Economia da Abundância vire uma “Economia da Abundância para Todos”.
O caminho para esta nova
Economia passará, muito provavelmente, pela destruição em massa de setores e
empregos. Muitas pessoas apostam naqueles elementos que representam riqueza em
uma “Economia de escassez”, como ativos físicos, terras e commodities em geral.
No curto prazo, apostar nesses
elementos faz sentido e é uma atitude defensiva. Porém, num horizonte um pouco
mais longo, essas coisas podem se tornar irrelevantes e sem valor.
O que podemos extrair de
prático disso? Honestamente, não sei, pois entramos num terreno altamente
especulativo e a aceleração exponencial dos avanços tecnológicos deixa tudo
ainda mais confuso.
Eu seria extremamente cauteloso
com aquelas estratégias de investimento e de negócios que as pessoas consideram
(muitas vezes erroneamente) “à prova de crise”, como ouro, terras, imóveis e commodities em geral.
Essas estratégias
superconservadoras são associadas a ceticismo e incerteza, mas estamos chegando
a um ponto em que temos que ser céticos até com o próprio ceticismo. O que você
acha disso tudo?
André Massaro - palestrante, consultor e
educador financeiro; autor de livros de finanças pessoais e
investimentos, e do blog “Você e o Dinheiro” (Portal EXAME – Ed. Abril),
apresentador do programa TopMoney (Infomoney) e integrante do conselho
editorial do Dinheirama.com.
Fonte: site Dinheirama