Quando
a gente pensou que as coisas começavam a entrar nos eixos, ao menos na área
econômica, surge um fato novo que cai como uma bomba, nos deixando estarrecidos
com tamanha desfaçatez. Não vou comentar o fato em si, que conta com ampla
cobertura da mídia e das redes sociais, mas quero refletir sobre como ele nos
afeta, no tocante a trabalho, renda, consumo e investimentos.
TRABALHO
Os
mais de 12 milhões de desempregados estavam começando a ver uma luz fraquinha,
relutante, no fim do túnel. Os empresários, diante das perspectivas da
aprovação das reformas trabalhista e da Previdência e da queda acentuada e
acelerada nos juros básicos da economia, esboçavam sinais de retomada da
produção, desengavetavam planos de expansão de seus negócios. O nível de desemprego
começava a se estabilizar, e o fantasma da demissão, lentamente, abria espaço
para estabilidade e, quem sabe, novas contratações.
O
cenário de extrema incerteza política, independentemente de seu desfecho,
atrasa o andamento das reformas e gera desconfiança na retomada do crescimento
econômico e no ritmo de redução dos juros. Os empresários recuam. Quem está
empregado dê o seu melhor, seja produtivo, seja fonte de solução, problemas seu
empregador já tem bastante. O espirito de colaboração aumenta a chance de
manter seu emprego.
RENDA
A
economia ruim afeta diretamente seu nível de renda. Quem é assalariado vive um
período de escassez de aumentos e gratificações e celebra receber seu salário
em dia. Quem trabalha por conta própria ou tem um pequeno negócio vê sua renda
cair. Não por acaso o governo liberou o saldo das contas inativas do FGTS
visando ampliar a renda e estimular a economia.
O
cenário não aponta para recuperação no curto prazo. Seja criativo e pense em
alternativas de criar ou expandir renda. Valorize cada centavo para fazer mais
com menos. Se não puder elevar a renda, reduza despesas, outra forma de
melhorar o resultado líquido das contas.
CONSUMO
Se
falta dinheiro até para fechar as contas do mês, a perspectiva de consumo,
compra de bens e serviços, fica mais distante. Adie o que for possível adiar.
Não caia nas armadilhas dos varejistas, as ofertas tentadoras podem esperar.
Repense e adie a decisão de trocar o carro, os eletrodomésticos, o celular.
Seria bom, mas não precisa, não é?
Tomar
empréstimo para financiar consumo, nem pensar. Coloque o seu cartão de crédito
no fundo de uma gaveta, tranque e perca a chave. Gaste apenas o dinheiro
disponível para realizar as despesas essenciais.
INVESTIMENTOS
Muita
gente aproveitou a recente queda nos juros para comprar ativos de taxa
prefixada. Contentes com a perspectiva de rentabilidade atraente, os
investidores foram pegos de surpresa com a reviravolta iniciada no dia 18,
quando os mercados reagiram nervosamente ao fato novo.
A
taxa Selic não mudou, mas a taxa dos títulos mais longos subiu diante do
cenário de incerteza. Esse investidor está vivenciando o chamado risco de
mercado e não está achando graça nenhuma. A valorização em abril e início de
maio virou desvalorização.
A
recomendação é cautela, não tomar decisões precipitadas. No vencimento do
título receberá o capital investido acrescido da taxa pactuada no dia da
compra. Quem é cotista de fundos deve confiar em que o gestor fará os
movimentos necessários para ajustar a carteira e tentar recuperar eventuais
perdas.
Para
quem tem dinheiro novo, recursos que ainda não estavam investidos, a
recomendação mais prudente é investir em ativos de taxa pós-fixada, como
Tesouro Selic, fundos DI, CDB DI, assegurando a variação da taxa de mercado,
seja ela qual for. Diversificar é sempre saudável. A taxa de juros dos títulos
atrelados ao IPCA voltou para a faixa de 5,5% ao ano. Nada mal para proteger
seu dinheiro contra a inflação e assegurar juro real atraente.
Investir
em ações ou moeda estrangeira é estratégia mais especulativa. Respeite seu
perfil de risco, invista somente recursos de longo prazo e uma fatia pequena da
carteira. Seja prudente.
Marcia Dessen – planejadora financeira
pessoal, diretora do Planejar e autora do livro 'Finanças Pessoais: o que Fazer
com Meu Dinheiro'
Fonte: coluna jornal FSP