Quem
vai perder com isso? Começa com B, de Brasil
Há 20 anos, as lojas de discos, centenário ramo de
comércio, dirigido às pessoas que gostavam de música, começaram a sofrer vários
ataques. Um deles, ainda remoto, era a possibilidade de se capturar no ar um
hit das paradas dispensando o disco físico —o streaming. Outro, já mais do que
real, era o do comércio eletrônico. A ideia de encomendar pela internet um
lançamento em CD a preço muito menor que o da praça, menor até do que o preço
de custo, e ele ser entregue na sua porta era irresistível.
Interior de livraria em São Paulo –
Por que a Amazon, líder desse gênero, faria isto? Porque, para ela, os discos
eram uma isca para atrair clientela e levá-la aos outros 200 mil artigos da sua
verdadeira base, que vai de celulares e ear phones até tratores e caminhões. As
pequenas lojas de discos não tinham como competir e fecharam. E a implantação
do streaming foi a pá de cal nas megalojas, como as internacionais Tower,
Virgin e HMV e
a nossa Modern Sound.
Certo, o mercado dita as regras e dane-se o avião, mas
quem ganhou com isso? A música é que não foi. Milhões de pessoas não se
adaptaram à nova tecnologia e deixaram de ter CDs para comprar. Com isso, ou se
contentam em ouvir os discos que já têm ou vão para a praça jogar damas com os
amigos.
O mesmo se dá hoje com o mercado de livros. O comércio
eletrônico oferece os lançamentos com descontos de tal ordem, 50 ou 60 por
cento, que as livrarias físicas não têm como competir. Não que esse comércio
queira perder dinheiro —ao contrário, os best-sellers que ele vende a preço
abaixo do custo permitem-lhe conquistar clientes para o que realmente lhes
interessa vender. Como fizeram com os CDs.
Mais
uma vez, quem ganha com isso? Agora sabemos: por onde a Amazon passa, só a grama dela cresce. E, com a omissão oficial e o estrangulamento das livrarias —as pequenas já estão deixando de existir—, algo muito
maior vai perder. Começa com B, de Brasil.
Ruy
Castro - Jornalista e escritor, autor das
biografias de Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues.