Ano novo é sempre tempo de
reflexão. Assim, começo a minha primeira coluna de 2015 com um tema que tem
revolucionado a vida dos indivíduos, das empresas e da sociedade como um todo:
a comunicação.
Basta olhar para o volume de
dados acumulados, para a interferência dos smartphones na vida das pessoas,
para as novas relações de consumo e para a velocidade da informação disseminada
por meio da tecnologia e das redes sociais. Estamos o tempo todo escancarados
em uma vitrine, e isso traz à sociedade uma necessária e inevitável mudança de
comportamento. Nunca se foi capaz de verificar tão imediatamente a veracidade e
a coerência dos discursos e atitudes alheios, por exemplo.
Em dezembro passado, o grupo
RBS divulgou provavelmente o estudo mais impactante que vi sobre esse tema nos
últimos anos. Com o objetivo de entender o novo contexto e as constantes
mudanças pelas quais passa a comunicação, seu principal negócio, o grupo gaúcho
(cujo trabalho acompanho bem de perto) realizou mais de 150 entrevistas com
profissionais do Brasil e do exterior.
O resultado desse
levantamento, chamado de The Communication (R)Evolution, é uma coletânea de
depoimentos em vídeo, realizados pela cineasta Flavia Moraes, e uma amarração
conceitual sobre a comunicação digital e as novas formas de produzir,
distribuir e consumir informação. O estudo aponta as demandas que irão alterar
o comportamento das pessoas, das lideranças e das empresas nos próximos anos.
Olhar
para frente
O
conteúdo foi organizado a partir de 11 premissas (o material está disponível no
site www.thecommunicationrevolution.com.br), e três
delas em especial me chamaram a atenção:
1.
Seja Verdadeiro. O discurso sobre a necessidade de transparência não é novidade
nas organizações, mas o que mudará no jogo nos próximos anos é o fato de que
uma geração inteira terá embutida a capacidade de detectar mentiras – e isso
certamente vai mudar, e muito, a nossa realidade social.
2.
Seja Beta. O “Ser Beta” traz o mesmo conceito de um produto em fase de testes,
um protótipo. Na prática, ele significa que nada mais deve ser considerado
pronto: tudo estará em constante processo de transformação. E o bom disso é
que, ao testar mais vezes o inacabado, aumenta-se a tolerância ao erro, o que
leva a uma maior capacidade de inovação. Não será mais possível “casar-se” com
a sua própria ideia.
3.
Seja Útil. Essa premissa permeia qualquer outra e é, no fundo, aquela que mais
me toca. Ser útil significa colocar-se à disposição da sociedade, ser cidadão.
Ninguém mais terá feito algo de valor se não dividir com os outros. Estaríamos
próximos de uma era de mais generosidade?
Há ainda um grande nó a ser
desatado neste período de revolução digital em que estamos vivendo: ao mesmo
tempo em que temos acesso a tantas informações, nos falta repertório para
tratá-las. E isso pode ter consequências duras. A possibilidade de expressar uma
opinião em tempo real sem se preparar para o impacto que isso pode causar pode
levar a grandes rupturas. Definitivamente, as organizações não poderão mais
continuar lendo esses eventos de forma tradicional.
Em um mercado de trabalho
livre, acredito de fato que as pessoas e organizações competirão baseadas nesse
conjunto de premissas. Sutilezas aparecerão: trabalharemos mais em equipe, mas
a diferença é que agora os times não permanecerão juntos por muito tempo.
Na opinião do CEO do grupo
RBS, Eduardo Melzer, as empresas bem-sucedidas serão aquelas que tiverem uma
arquitetura aberta, onde tudo o que se faz passa pela troca, pela participação
coletiva. De fato, adaptar-se a esse cenário será um grande desafio para as
organizações e para as lideranças, ainda muito apegadas aos seus antigos
modelos (exceto aquelas que já nasceram da tecnologia, claro). Essa maior visão
do coletivo parece ser inevitável no mundo dos negócios.
Que em 2015 as empresas olhem
para frente, se engajem e ajudem a fazer parte dessa revolução, em vez de serem
atropeladas por ela.
Vicky Bloch -
professora da FGV, do MBA de recursos humanos da FIA e fundadora da Vicky Bloch
Associados
Fonte: jornal Valor