Como lidar com o medo de andar para trás na vida


Uma casa maior, um carro mais bacana, um emprego mais prestigioso. Todos querem subir na vida.

Nada mais natural, não? Existe até uma sensação de que esse desejo de continuar crescendo faz sentido em termos evolutivos: a nossa eterna insatisfação pode ser um motor para nos ajudar a lutar por condições sempre melhores, que garantam não apenas a nossa sobrevivência, mas também a nossa felicidade e a de nossa família.

No entanto, esse desejo de andar para frente nada mais é do que o outro lado de um sentimento mais primitivo nosso: o medo de andar para trás. Afinal, maior apenas do que a vontade de progredir é o medo de perder o que já conquistamos.

De acordo com a teoria econômica comportamental, a ideia de trocar o seu carro do ano por um modelo usado é sentida como uma perda - e nós temos uma aversão profunda a perdas. Nós reagimos com maior intensidade a perdas do que a ganhos, o que significa que a alegria de ganhar R$ 500 é menor do que o tristeza de perder o mesmo valor.

Em períodos de crise econômica, por exemplo, nos retraímos, preocupados com o futuro. Para a maioria, não é hora de pensar em como ganhar mais, e sim em como proteger o que conquistamos. São poucos aqueles que conseguem perceber que em toda crise existe uma oportunidade - e agir de acordo.

"Retroceder a uma casa menor, por exemplo, é considerado uma perda, é psicologicamente doloroso e estamos dispostos a todos os tipos de sacrifícios para evitá-la, mesmo que, neste caso, as prestações do financiamento afundem o nosso navio", alerta o economista Dan Ariely.

Como lidar então com o medo de andar para trás? Uma alternativa é passar a calcular melhor os passos que damos, como a compra da casa maior, a troca do carro, o aumento de salário que passa a bancar todo um novo estilo de vida. Com mais cautela, podemos deixar mais dinheiro rendendo nas suas aplicações e você garante que só dá esses novos passos quando estiver certo de que consegue bancar tudo.

Se esta é uma opção muito frugal para você, existe uma alternativa mais zen.

Ariely, por exemplo, recomenda "tentar encarar todas as transações (principalmente as grandes) como se eu não fosse proprietário, pondo alguma distância entre mim e o objeto de interesse". Ou seja: toda posse é transitória. Se você compreender isso, poderá aproveitar a fase das "vacas gordas" sem sofrer demais se tiver que cortar o padrão de vida depois.

Samy Dana – PhD em Business, professor da FGV / SP, consultor de empresas e autor do livro “10 vezes sem juros”.

Carolina Ruhman Sandler - jornalista, fundadora do site Finanças Femininas e coautora do livro "Finanças femininas - Como organizar suas contas, aprender a investir e realizar seus sonhos".

Fonte: jornal Folha de São Paulo
Tel: 11 5044-4774/11 5531-2118 | suporte@suporteconsult.com.br