Chocolate rejuvenesce a memória


Envelhecer, como eu já disse aqui, é consequência de estar vivo: o próprio oxigênio que nos sustenta também acaba nos matando, ao corroer –literalmente– as moléculas que constroem o corpo.

Por isso antioxidantes viraram febre nas dietas e lojas naturebas. Antioxidantes são substâncias que todo ser vivo produz, alguns mais do que outros, e que neutralizam, em parte, os efeitos deletérios de estar vivo e respirando. O resveratrol da casca das uvas e os flavonoides do cacau são dois dos antioxidantes mais badalados, razão de vários estudos correlacionarem o seu consumo moderado a benefícios à saúde.

Mas correlacionar consumo de vinho ou chocolates com benefícios não é mostrar que o alimento de fato causa os tais benefícios; sempre é possível que outros fatores sejam a causa verdadeira. Por isso um estudo recente feito na Universidade Columbia, nos EUA, merece atenção. Os pesquisadores demonstraram que introduzir um consumo elevado de antioxidantes do chocolate na dieta de idosos rejuvenesce a capacidade de memória de reconhecimento –e em nada menos do que o equivalente a três décadas.

O giro denteado do hipocampo, responsável pela memória de reconhecimento (o "já vi isso antes"), é uma das partes do cérebro que mais sofre com a idade. Seu desempenho pode ser medido pelo tempo que se leva para reconhecer que um novo rabisco apresentado de fato é novo, e não parte de uma série de rabiscos visualizados antes. Com a idade, o giro denteado vai ficando mais lento: reconhecer que um novo rabisco é novo leva 0,2 segundos a mais a cada década que se passa.

Mas, após três meses de consumo diário de doses elevadas de antioxidantes do chocolate, os voluntários de 50 a 69 anos de idade testados no estudo ficaram 0,6 segundos mais rápidos do que antes, e com um aumento de atividade do giro denteado que não ocorreu em quem não consumiu chocolate. Ou seja: seu hipocampo remoçou 30 anos.

O efeito impressionante é resultado, contudo, de um consumo igualmente impressionante de 900 mg de flavonoides, o equivalente a meio quilo de chocolate amargo por dia, segundo a tabela do Departamento de Agricultura dos EUA. Tanto chocolate assim pode até cuidar da memória, mas ao custo de engordar e aumentar o risco de pedras nos rins. Não tem jeito: não há fórmula mágica... 

Suzana Herculano-Houzel - neurocientista, professora da UFRJ e do livro "Pílulas de Neurociência para uma Vida Melhor" (ed. Sextante).

Fonte: blog www.suzanaherculanohouzel.com
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