Alunos do 9º ano em aula de
matemática na Emef José Negri, em Sertãozinho (SP)
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Já que as férias da criançada estão chegando ao
fim, quero convidar você, caro leitor, a refletir sobre alguns pontos da vida
de nossas crianças. Ao final do ano passado, a coordenadora de uma escola
conversou comigo a respeito do aumento do número de crianças com problemas
emocionais no início do ensino fundamental.
Ela estava acompanhando, na época, duas crianças de
nove anos que não conseguiam entrar na escola, mesmo chegando até lá, e que
tinham crises que as faziam transpirar, tremer e ter taquicardia se a mãe ou a
educadora escolar insistisse para que descessem do carro. Essas crises, que ela
chamou de pânico, só aconteciam nos horários de ir para a escola, e ambas as crianças
já estavam em tratamento psiquiátrico e psicológico.
Além dessas duas, ambas meninas, ela também falou
de três meninos, entre oito e 10 anos, que passaram a fazer pequenas
quantidades de xixi ou cocô nas calças. Em conversa com os pais desses meninos,
eles contaram que, em casa, o fato também estava acontecendo e já haviam
tentado diversas estratégias para resolver a questão, sem êxito algum.
Fiquei cismada, procurei professores e
coordenadores e ouvi de todos a mesma coisa: em todas as salas havia pelo menos
duas crianças com problemas emocionais. Por que será?
Vamos deixar de lado as questões pessoais e
familiares de cada uma dessas crianças e tentar entender esse fenômeno de um
modo geral.
As crianças estão sendo submetidas, cada vez mais
precocemente, a provas, exames, avaliações de diversos tipos, e isso gera
ansiedade, não é? Se um adulto, ao fazer uma prova, defesa de teste, entrevista
de emprego ou qualquer coisa semelhante sente-se pressionado, ansioso, imagine,
caro leitor, uma criança! Ela está em processo de formação e não tem ainda
recursos pessoais para administrar sua ansiedade e, por isso, ela surge com
algum sintoma, como nos casos citados.
Essa ansiedade que se manifesta em situações de
avaliação é fruto da pressão tanto da escola quanto da família. Desta última
principalmente, que quer, cada vez mais, filhos que sejam alunos exitosos e que
gostem de estudar, pois acreditam que isso garantirá um futuro pessoal
confortável. Não garante!
Nenhuma criança merece passar por provas antes dos
dez anos! Algumas escolas já entenderam isso e suprimiram as provas nos
primeiros anos da vida escolar. Além disso, nenhuma criança pode ser tratada
como o adulto que deverá ser. Criança precisa ter vida de criança, e é
justamente isso que pode ajudar no seu futuro.
Um outro ponto que precisa ser considerado,
principalmente no caso das crianças com incontinência urinária, é o da cultura
da instantaneidade em que elas estão sendo criadas. Tudo é para agora, para já,
e os pais fazem o possível para que isso aconteça. Muitas crianças simplesmente
não sabem esperar. Por nada. Nem pelo tempo para ir ao banheiro. Isso não é bom
para elas.
Para viver é preciso coragem, paciência,
perseverança e resiliência, entre outras coisas. Temos focado tanto, tanto no aprendizado
dos conteúdos escolares pelos mais novos, que pouco tempo sobra para sua
formação pessoal, como no caso das características descritas acima. Isso, sim,
poderá afetar a vida deles no futuro! E não será para o seu bem.
Rosely
Sayão - psicóloga e consultora em educação,
fala sobre as principais dificuldades vividas pela família e pela escola no ato
de educar e dialoga sobre o dia a dia dessa relação.
Fonte: coluna jornal FSP