Os diamantes que dão pistas aos cientistas sobre
como é o interior da Terra
Brilhantes
têm a capacidade de abrigar minerais presentes na profundidade do planeta.
Conhecidos pela raridade, brilho e beleza, os diamantes foram formados há
milhões de anos.
Atualmente, eles podem ser uma promessa de amor
eterno, uma demonstração de riqueza ou um objeto de desejo. Mas, no passado,
eram atribuídas propriedades curativas aos diamantes.
Acreditava-se que usá-los
dava força e proteção contra todos os inimigos e todos os males —até contra
pesadelos.
Na Índia, ele era relacionado às divindades védicas
e, posteriormente, hindus.
Na tradição budista maaiana, o Sutra do Diamante,
datado de 868 d.C., afirma que ele é um material que serve para
"atravessar a ilusão mundana para iluminar o que é real e eterno".
Mas talvez os mais poéticos tenham sido os gregos
antigos. Para eles, os diamantes eram lágrimas derramadas pelos deuses ou
fragmentos de estrelas cadentes.
O que é maravilhoso é que a verdade sobre os
diamantes é quase tão extraordinária quanto todas essas crenças.
DIAMANTES SÃO EXCEPCIONAIS
Os diamantes são compostos pelo mesmo
elemento que é a base da própria vida: o carbono.
São o material mais duro que existe e podem
suportar pressão suficiente para recriar as condições extremas dos locais onde
nasceram.
Mas, quando submetidos a uma combinação correta de calor e oxigênio,
eles desaparecem, tornando-se apenas uma lufada de dióxido de carbono.
Os brilhantes se formam naturalmente em poucos
lugares da Terra: nas profundezas das áreas cratônicas continentais ou em
locais de impacto de meteoritos.
E chegam à superfície de forma explosiva, no
magma de algumas das erupções mais raras da história —dos poucos vulcões que
têm raízes nos pontos mais profundos do planeta.
Nem todos os diamantes são transparentes, nem
possuem coloração amarelada ou marrom, como normalmente os imaginamos.
Existem
também diamantes coloridos, que chamamos de "cor fantasia": os
vermelhos, azuis e verdes são mais raros, enquanto os de coloração laranja,
violeta, amarelos e verdes amarelados são os mais comuns.
Mas, após a sua formação, todos eles têm capacidade
própria de abrigar e proteger qualquer mineral
contido nas suas estruturas cristalinas.
Essa característica fornece
aos cientistas uma amostra especial da mineralogia e condições existentes a quilômetros
de profundidade, abaixo da superfície do planeta.
Neste sentido, o diamante azul é excepcional.
OS DIAMANTES SÃO PROFUNDAMENTE INTERESSANTES
Em sua maioria, os diamantes são formados em
profundidades de cerca de 150 km abaixo dos continentes. Mas os diamantes azuis
nascem em profundidade quatro vezes maior, no manto inferior da Terra.
Isso foi descoberto somente em 2018, pois essas pedras preciosas "são
imensamente caras, o que dificulta o acesso a elas com fins de pesquisa
científica", segundo explica o principal autor do estudo que revelou essa
característica, o geólogo Evan Smith, do Instituto Gemológico Norte-Americano.
Os brilhantes tendem a ser muito puros e não ter
"inclusões" —pequenos pedaços de um material que não é diamante e que
estava em local próximo quando o diamante estava se formando.
Mas são
justamente essas imperfeições que fornecem mais informações aos cientistas.
Já foi possível analisar 46 diamantes azuis com
inclusões e determinar sua origem entre 410 e 660 km de profundidade.
Várias
das amostras chegaram até a demonstrar claras evidências de que se originaram a
mais de 660 km abaixo da superfície —ou seja, no manto inferior. Isso os
transforma em verdadeiras cápsulas do tempo, que contêm informações quase
impossíveis de se encontrar em outros locais.
"Não podemos chegar ao interior da Terra.
Os
diamantes se formam ali e normalmente encapsulam o que quer que esteja lá
embaixo", afirmou à BBC George Harlow, geólogo e curador das Salas de
Gemas e Minerais do Museu Norte-Americano de História Natural de Nova York.
"Eles são como nossas sondas espaciais. Às vezes, alguns chegam à
superfície da Terra para podermos estudá-los."
UM ENIGMA ENVOLTO EM UM MISTÉRIO
Durante a maior parte da história, os diamantes
azuis foram um mistério. Não se sabia o porquê da sua bela coloração.
Até que finalmente se descobriu que a cor se devia
a traços de boro, um elemento químico metaloide que pode entrar na estrutura da
rede cristalina de um diamante durante seu crescimento.
Mas, ao ser solucionado esse mistério, surgiu outro
enigma. Se os diamantes azuis se formam no manto da Terra e o boro se concentra
na crosta, onde esses diamantes conseguiram o boro?
A resposta para essa
charada geoquímica nos daria pistas sobre as profundezas do nosso planeta.
A hipótese apresentada pelo grupo de pesquisa
liderado por Smith é que o boro veio do leito marinho e foi transportado para o
manto da Terra quando uma placa tectônica deslizou para baixo de outra, em um
processo conhecido como subducção.
Ao ser incorporado a minerais ricos em água,
ele pode penetrar profundamente no fundo do mar, até chegar à parte do manto da
placa oceânica.
Descobrir traços de boro em diamantes que nascem a
essa distância da superfície da Terra indica que os minerais que contêm água
viajam muito mais profundamente no manto do que se imaginava, o que sugere a
possibilidade de existir um ciclo hidrológico nas grandes profundezas.
Como disse Harlow, os diamantes azuis "não são
apenas belos e raros, mas extremamente interessantes. Eles nos ensinam muito
sobre o nosso planeta".
BBC
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