Coreia do Sul enfrenta suicídio dos seus trabalhadores com redução das horas de trabalho

Muitos sul-coreanos aprovam a medida. Na seguradora, os computadores desligam automaticamente às 6 da tarde.
Lee Han-bit ajudou a produzir uma série de televisão intitulada “Drinking Solo”, em que jovens adultos que estudam para concursos para os altos escalões do serviço público muitas vezes bebem para aliviar a ansiedade. Mas trabalhando semanas a fio sem um descanso e pedindo aos seus funcionários que trabalhassem 20 horas por dia, Lee estava esgotado também por pressões pessoais.
Suicidou-se dias antes de concluir o projeto, e deixou uma nota em que criticava a cultura do trabalho na Coreia do Sul que o explorou e exigira que ele explorasse seus funcionários. A mensagem de Lee reverberou em todo o país, onde as pessoas há muito trabalham demais.
Segundo a polícia sul-coreana, a pressão do trabalho influi em mais de 500 suicídios ao ano, do total nacional de cerca de 14 mil. Os líderes da Coreia do Sul agora tentam mudar esta situação. Uma lei que entrou em vigor em julho limita a semana de trabalho para muitas funções a 52 horas.
Woo Su-jin, uma designer de computação gráfica, disse que o veículo de mídia no qual trabalha agora permite que ela chegue mais tarde pela manhã, se teve de trabalhar até tarde, na noite anterior. As discussões dos projetos em torno de comida e bebidas  que costumavam durar das 7 da noite até 1 da manhã, agora acabam mais cedo, depois de uma rodada de bebida apenas e não mais três. “Minhas colegas e eu dizemos que gostaríamos de ir para casa mais cedo em vez de trabalhar muitas horas seguidas, embora recebamos pelas horas extras”, disse Woo.

Muitos sul-coreanos acham a redução das horas de trabalho uma medida há muito necessária.

A limitação da jornada semanal de trabalho a 52 horas aumentará as contratações. 

O orgulho pelo trabalho árduo contribuiu enormemente para impulsionar a Coreia do Sul, outrora um país rural, das cinzas da guerra, e transformá-la em uma potência econômica. Mas frequentemente os sul-coreanos sofrem por causa de uma cultura do trabalho que chamam “gapjil”. A palavra descreve o premente senso de direito consagrado que as figuras revestidas de autoridade sentem em relação aos seus funcionários, esperando ser servidas por eles e atendidas em seus caprichos.

Quando uma funcionária do governo, que se tornara mãe há pouco tempo, morreu no ano passado depois de desmaiar no escritório uma manhã de domingo, o presidente Moon Jae-in, que era candidato na época, escreveu no Facebook: “Não podemos mais ser uma sociedade em que o excesso de trabalho e o trabalho até altas horas são considerados dogmas”.

A produtividade do trabalho se reduziu consideravelmente, enquanto o desemprego entre os jovens chegou a 10% apesar de uma taxa nacional muito inferior. Moon e seus especialistas em trabalho culpam práticas do lugar de trabalho ultrapassadas que permitem que os gerentes mantenham os funcionários à sua disposição para concluir tarefas à medida que elas aparecem. Moon quer que as companhias contratem mais mão de obra para fazer o trabalho. Ele cita pesquisas que mostraram um aumento da produtividade para cada ponto percentual subtraído das horas de trabalho semanais. 

Durante a sua campanha, ele prometeu criar 500 mil empregos novos com a entrada em vigor da semana de trabalho de 52 horas.

Muitas companhias estão pondo em prática novas medidas que terão de ser obedecidas. Mais de 700 das 3.672 grandes empresas e organizações do setor público na Coreia do Sul contrataram novos empregados ou têm planos para fazê-lo, disse o Ministério do Trabalho.

Na seguradora onde Park Jung-min, 46, trabalha, os computadores desligam automaticamente às 6 da tarde. “Se não soubermos com antecedência que precisamos trabalhar depois das 6 da tarde, temos de religar o computador e justificar porque fazemos isto”, ele disse. Park considera esta prática um aborrecimento ocasional. “Mas no fim, acho que esta nova semana de expediente de 52 horas é boa para que a gente possa equilibrar vida e trabalho”.

Fonte: Su-Hyun Lee e Tiffany May, The New York Times

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