Não
há por que correr o risco e beber precocemente
A lei não está aí
apenas como enfeite: nosso corpo não está preparado para o álcool antes dos 18
anos
Fiquei muito contente ao receber o email de uma
professora de Belo Horizonte contando que ela e os
alunos acompanham o blog.
Me deu até vontade de falar com os
adolescentes, mas não sei se tenho muito a dizer a esse público em especial, já
comecei esse texto mil vezes e, sempre que relia, ele parecia ter sido escrito
por uma pessoa velha.
Mas não uma velha moderna, não: uma tia de antigamente...
Mas vamos lá, e já peço desculpa se vocês acharem ele meio vetusto...
Outro dia minha irmã disse: Não lembro de você ter
problemas nessa fase. É verdade, a doença é progressiva.
Quando penso em como
me comunicar com os jovens, a primeira coisa que me vem à cabeça é dizer: não
bebam antes dos 18 anos, o corpo não está preparado para o álcool nessa idade.
Parece óbvio, já que está escrito em todo lugar, mas não é. No entanto, como
duvido que as pessoas esperem completar 18 anos para experimentar bebida, não
sei se esse conselho pode ter alguma serventia. De qualquer modo, vou insistir.
A prevenção da doença é fundamental, é um ponto
importante para que todos reflitam. Quando ela avança, é muito difícil aceitar a própria condição e parar de
beber, pelo menos foi o que aconteceu comigo.
Porque, como já disse muitas
vezes, o alcoolismo não parece uma doença, a gente sempre acha que
é uma questão passageira, um problema corriqueiro.
Eu, por exemplo,
experimentava episódios esparsos com o abuso de bebida e decidia dar um tempo.
Não adiantava. Sou alcoólatra e fui me tornando uma
doente cada vez mais comprometida.
Minha
casa sempre foi regada a bebida e acredito que minha geração, aquela dos anos
1980, nunca considerou o álcool uma coisa ruim.
Lembro que, quando criança, era
comum que, quando a gente tinha dor de garganta, nos dessem algum tipo de
bebida, como conhaque com mel e limão.
Quantas e quantas vezes eu passava dias
e dias com um pano embebido em álcool para aquecer meu pescoço e mitigar a dor.
No inverno, então, com todo mundo resfriado, a casa recendia a álcool.
A
consciência hoje é maior, embora ainda sejam veiculadas tantas propagandas
associadas à bebida, desde produtos ligados a esporte até shows de música,
cartões de crédito, sempre numa atmosfera de alegria.
Esses anúncios me saltam
aos olhos, mas isso é porque sou um alcoólatra em recuperação. Antes não me
chamavam a atenção.
Esses
dias, nas redes, pelo menos no meu feed, está passando um videozinho dos
octagenários Mick Jagger e Keith Richards, dos Rolling Stones.
Tomaram todas,
muito, sobretudo o segundo. E estão aí.
Então por que, você deve estar
pensando, eu não poderia me esbaldar? Bem, porque a gente nunca deve cutucar a
onça com vara curta. Eles estão aí, mas será que você compartilha os mesmos
privilegiados genes desses caras? (E a riqueza também, sabe-se lá se já não
foram internados em clínicas na Suíça...).
Para
você, aluno de BH que me lê e quer saber o que tenho a dizer sobre o alcoolismo
na adolescência: não corra o risco.
E mais: não há por que sofrer
antecipadamente. E mais ainda: essa lei dos 18 anos não está aí apenas como
enfeite.
Não beba precocemente, a vida é muito longa e cheia de experiências.
Não precisamos antecipar nada.
ALICE
S. –
blog Vida de alcoólatra