Para enfrentar o isolamento, temos
de nos esforçar para exercitar a mente.
O confinamento em meio a uma pandemia pode causar desgastes psicológicos, e estimular a
mente se torna ainda mais importante. Uma boa forma de iniciar esse processo é
se perguntando: se você tivesse mais tempo, o que faria?
Por
linhas tortas, o isolamento é uma oportunidade para aprender, exercer a
criatividade e desfrutar de pequenos prazeres. Três pontos de apoio podem nos
ajudar a estimular a mente, aumentando nossa capacidade de enfrentar os desafios do confinamento.
Família de Hong Kong joga jogo de tabuleiro durante o
confinamento; atividades para o cérebro são importantes -
- O primeiro: organize seu tempo e espaço.
O
isolamento físico altera nossa percepção de tempo-espaço, pois perdemos marcos
da nossa rotina —o transporte diário, o trabalho, a academia. Assim, temos de
reinventar um cotidiano restrito à nossa casa. Nesse processo, o cérebro vai se
ajustando a um “novo normal”, e estratégias de organização podem ajudar.
Evidências
na área da neuropsicologia indicam que, sob estresse, é mais fácil se organizar
“de fora para dentro”: criando meios de visualizar a sua programação. Crie um
calendário da semana com compromissos de trabalho, estudos e outras atividades.
Faça listas, deixe lembretes a você mesmo.
Essa
“estruturação concreta” do dia a dia ajuda nosso cérebro a criar uma nova
organização mental, aumentando o senso de previsibilidade e, por consequência,
nossa eficiência, motivação e capacidade de lidar com a ansiedade. Aproveite e
repense também os espaços da sua casa. Dá para mudar móveis de
lugar? Jogar coisas fora? Criar ambientes mais funcionais?
- Segundo ponto de apoio: aprenda coisas novas.
Novos
estímulos aumentam a capacidade de adaptação do cérebro —a chamada
neuroplasticidade. O confinamento nos obrigada a sair da nossa zona de
conforto. Então, aproveite essa ruptura. Retome desejos antigos, ouse o
inusitado, desenvolva habilidades —aproveite os recursos online como tutoriais e apps.
Aprender algo é uma excelente maneira de focar atenção e dirigir energia mental
a algo objetivo, significativo e prazeroso. Também, pode servir como distração
para pensamentos ansiosos.
Invista
em habilidades para além da vida profissional. A neurociência tem identificado
benefício cognitivo de atividades de lazer, como leitura, tocar
instrumentos, assistir a palestras, fazer quebra-cabeças, malabarismo, aprender
idiomas e —claro— exercício físico.
Leve
também seu cérebro para a academia mental: há diversas plataformas online de
treino cognitivo com embasamento cientifico (como BrainHQ e CogMed), que podem
beneficiar a atenção, o raciocínio lógico e a memória. Aproveite o universo
cultural online: “vá” a uma opera no Metropolitan Opera House de Nova York,
“visite” o Museu Van Gogh de Amsterdam, ou “assista” a uma aula da USP ou de
Harvard.
E
há fortes evidências de que, quando aprendemos mais de uma coisa,
potencializamos nossa capacidade de aprendizado. Ou seja: voltar ao piano e
estudar espanhol vão muito bem juntos.
- Terceiro ponto: cuide do seu “cérebro
emocional”.
Meditação e mindfulness podem trazer maior equilíbrio
emocional, foco, concentração, criatividade e melhoria do humor. Não conhece?
Tente. Já faz? Continue, se possível diariamente. Apps, áudios e sessões online
podem ajudar. Preste atenção nas suas emoções —se for difícil falar sobre elas,
escreva.
Sobretudo,
não tenha medo de pedir ajuda. Exercite sua empatia e inteligência emocional se
colocando no lugar do outro. A Covid-19 nos mostra que “um por todos e todos
por um” não é clichê —é sobrevivência.
Procure
as pessoas, motive amigos que não estão bem, pergunte ao vizinho idoso se ele
precisa de algo.
Flexibilize
seus pontos de vista e mostre aos outros e a si mesmo: estamos isolados, mas
não sozinhos.
Em tempos de pandemia, estimule-se a ser a melhor versão de você mesmo.
Sharon
Sanz Simon - neuropsicóloga, doutora em
Ciências pela USP e pesquisadora na Universidade Columbia (EUA)
Fonte:
coluna jornal FSP