Falar
que nossa economia está indo “ladeira abaixo” é algo que pode ser contestado
(especialmente por aqueles ligados ao governo, que estão em estado de negação…).
Afinal, tecnicamente falando, se considerarmos a taxa de juros, a inflação, o
desemprego, o dólar… talvez seja mais apropriado falar que estamos “ladeira
acima”…
Na semana passada, a ANEFAC (Associação Nacional dos Executivos
de Finanças, Administração e Contabilidade) publicou sua já tradicional
pesquisa de juros e… bem, a coisa está ficando cada vez mais bizarra. Segundo a
pesquisa, a taxa média do rotativo do cartão de crédito (a modalidade de
crédito ao consumidor mais cara e, paradoxalmente, mais popular do Brasil)
chegou a estonteantes 361,40% ao ano, ou 13,59% ao mês.
Como costumo comentar em minhas palestras e workshops, em tom de
brincadeira (mas não é tão brincadeira assim…), taxas como essas, fora do
Brasil, não são cobradas nem por agiotas ligados à máfia. Já aqui, na ilha da
fantasia banhada pelas marolinhas econômicas, taxas assim são uma coisa normal,
aceitável e… legal!
Há
quase quatro anos (mais especificamente em 28/11/2011) eu publiquei, aqui no
blog “Você e o Dinheiro”, um artigo chamado “De mil reais a um milhão em menos de seis anos”. No artigo, eu
mencionava a taxa do rotativo do cartão de crédito que, na ocasião, era de já
absurdos 238,40% ao ano, e brincava que o jeito mais rápido de ter “um milhão”
era fazendo uma dívida de mil reais no cartão de crédito e “esquecendo-a”. Ela
viraria uma dívida de um milhão de reais em cinco anos e oito meses.
No artigo, eu ainda fazia uma provocação, dizendo que, por ser
um prazo superior a cinco anos, a dívida poderia acabar prescrevendo (se não
fosse cobrada judicialmente), o que frustraria o plano de ver uma soma de sete
dígitos no extrato bancário.
Porém, como diria o célebre empreendedor brasileiro, guru da
administração e filósofo contemporâneo Seu Creysson, “seus problemas
acabaram!”. Com a nova taxa média, o prazo para ficar “milionário” baixou para
quatro anos e sete meses…
Eu não culpo as operadoras e as instituições financeiras pelas
taxas de juros que elas praticam. Aliás, eu defendo uma tese de que “todo
problema é um ‘problema de demanda’” (um dia vou escrever um artigo explicando
isso melhor), mas eu não consigo deixar de ficar espantado cada vez que eu entro
num site americano de comparação de taxas bancárias (como o Bankrate.com, o meu favorito) e vejo que, nos EUA, a taxa
média do cartão de crédito está ao redor de 12% ao ano (você leu certo – AO
ANO).
No artigo que eu escrevi em 2011, finalizei falando que o cartão
de crédito é, a despeito dessa indecente taxa do crédito rotativo, uma
excelente ferramenta financeira (se usada de forma responsável). Eu não
“engulo” muito bem o argumento de que o cartão de crédito é um vilão das
finanças e a vitimização do usuário de produtos financeiros. O rotativo do
cartão é uma linha de crédito que deve ser usada, exclusivamente, em caso de
emergências, e não como ferramenta de financiamento de fluxo de caixa no dia a
dia.
Para as situações corriqueiras que exigem o uso do crédito,
existem ferramentas mais adequadas. Utilizar o rotativo do cartão de crédito de
forma habitual equivale a tentar apertar um parafuso usando um martelo – é,
simplesmente, a ferramenta errada.
Andre Massaro - escritor, palestrante, consultor financeiro.
Fonte: blog Você e o dinheiro