Blogueiros
e articulistas adoram seguir certo padrão, que é colocar um título chamativo,
sugerindo uma pergunta, escrever um texto às vezes longo e, frequentemente,
maçante e só dar a resposta no final, sendo que, muitas vezes, a resposta é
inconclusiva ou mesmo irrelevante.
Eu reconheço que, algumas vezes, eu cometo esse “pecado”, apesar
de procurar ser obsessivamente cuidadoso com essa coisa de dar respostas
inconclusivas e irrelevantes. Porém, desta vez, eu não vou te sacanear fazendo
você ler um texto longo para chegar a uma resposta que é, na verdade, uma
“não-resposta”– já vou dizer logo de cara que a minha resposta para o título
deste artigo é, simplesmente, “eu não sei”… Pronto, agora, se quiser continuar
a leitura, já sabendo que não vou responder absolutamente nada de concreto,
vamos em frente!
Em meu
último artigo, falei sobre o “Dia da Longevidade”, fazendo considerações sobre o aumento da
expectativa de vida e seus impactos nas finanças de pessoas comuns e na
economia como um todo. Há três anos eu faço um artigo espacial no “Dia do
Idoso” (ou da longevidade) para chamar a atenção das pessoas para esta questão.
Além de escrever, eu falo bastante sobre o assunto em minhas
palestras (faço, com frequência, palestras para participantes de fundos de
pensão, entre outros) e mesmo em minhas consultorias pessoais. E eu tenho a
impressão de que devo ser o único profissional de finanças, no Brasil, que fala
abertamente sobre essa questão de um possível aumento radical da expectativa de
vida.
Meu interesse no assunto vem de 2011. Eu estava desenvolvendo um
produto educacional e fiz uma pesquisa com profissionais de recursos humanos,
para identificar qual era o tipo de “angústia financeira” que mais afligia
empregados e, consequentemente, afetava os empregadores. Acho que não será
nenhuma surpresa se eu disser que a maior “encrenca” identificada na minha
pesquisa era o endividamento excessivo…
Porém, quando fui comparar os meus dados com pesquisas similares
feitas no exterior (especialmente nos EUA), pude ver que, lá fora, ao contrário
daqui, o problema principal é a preparação (ou falta de) para a aposentadoria.
Aí, comecei a estudar o assunto e uma coisa foi levando à outra…
Há
poucos meses, saiu um artigo muito interessante no portal CNBC, chamado “New retirement age is not 65, not 80, not 95: It’s higher”
(“A nova idade da aposentadoria não é 65, nem 85 e nem 95: é mais que isso” em
tradução livre – daí veio minha “inspiração” para o título deste artigo). A
matéria foi feita na esteira de uma conferência chamada “Exponential Finance”,
promovida pela Singularity University. O evento, como todos aqueles promovidos
pela Singularity University, foi um espaço para futuristas, personalidades dos
mundos dos negócios e ciências, visionários e pessoas que não têm receio em
projetar cenários futuros radicalmente diferentes.
Alguns profissionais de planejamento financeiro muito
relevantes, como Ric Edelman e Bill Bachrach, participaram da conferência, como
palestrantes ou membros de mesas de debates. Ambos fizeram considerações
relevantes sobre a total falta de atenção que as pessoas estão dando à
possibilidade de terem uma vida significativamente maior do que estão
imaginando. Bill Bachrach, em especial, fez um comentário muito interessante
sobre a dificuldade dos planejadores financeiros falarem do assunto com seus
clientes.
Segundo ele, os clientes olham para os planejadores financeiros
(quando estes falam sobre a perspectiva de uma extensão radical da longevidade)
como se estes “tivessem fumado crack”… E, às vezes, acabam até perdendo o
cliente. Bem, eu sinto exatamente a mesma coisa!
Quando falo sobre o assunto, alguns me olham como se eu tivesse
acabado de sair de um disco voador. Outros me falam “você é excessivamente
otimista com o futuro” (falando sobre uma vida longa), ao que eu imediatamente
respondo “quando se fala de planejamento financeiro, viver muito não é uma
vantagem, é um problema”…
Enfim, eu não tenho a menor ideia de qual é a idade ideal para
se aposentar, e duvido que alguém tenha. Aliás, deixe-me retificar: UM MONTE de
gente tem ideias e até fórmulas sobre qual é a idade certa para se aposentar,
mas não considera a hipótese de um aumento radical da expectativa de vida.
Na dúvida, a recomendação mais inocente que eu posso dar é:
“prepare-se financeiramente para a aposentadoria considerando a realidade
atual”, mas, quando chegar à idade planejada, você não necessariamente deve se
aposentar (no sentido de “pendurar as chuteiras” e parar de vez). Mantenha suas
habilidades profissionais e sua rede de relacionamentos em dia, pois você pode
precisar delas por muito mais tempo do que imagina.
André Massaro -
escritor, palestrante, consultor financeiro.
Fonte: http://exame.abril.com.br/