Este duro prognóstico, de que a previdência complementar
individual tem perdido apelo e corre risco de ser extinta, é a principal
conclusão de um estudo realizado pelo Centre for Policy Studies (CPS),
organismo inglês dedicado a estudar e debater assuntos relacionados a políticas
públicas e sociais.
O
foco aqui está na poupança previdenciária realizada diretamente pelas pessoas
físicas, sem o incentivo/patrocínio de um empregador. É o que conhecemos como
terceiro pilar da previdência e que, no Brasil, tem o PGBL como mais
representativo produto, sendo o segundo pilar a previdência complementar
profissional, que envolve empregadores e empregados, e o primeiro a previdência
social e do servidor público, providas pelo Estado.
No
Reino Unido, base do estudo apresentado pelo CPS, as contribuições feitas por
indivíduos a esse segmento caíram 25% nos últimos seis anos. Diga-se,
inicialmente, que este é um cenário bastante distinto do Brasil, onde as
contribuições têm crescido ano após ano, como vemos no gráfico a seguir:
Fonte:
Construído pelo autor a partir de dados fornecidos pela SUSEP.
Apesar de os dados
retrospectivos indicarem tendências opostas entre os dois países, os argumentos
apresentados pelo CPS são dignos, pelo menos, de uma reflexão aplicada ao
contexto tupiniquim.
Previdência não combina com a geração Y
Em
sua visão, o CPS delineia que o aspecto central do declínio da previdência
privada é sua incompatibilidade com os anseios da geração daqueles que hoje têm
menos de 35 anos. Trata-se de um público que quer estar no controle de tudo,
inclusive de sua poupança, e a ideia de deixar suas economias guardadas por
décadas a fio simplesmente não combina com o modo de pensar destas pessoas.
Não é preciso ir longe para referendar essa visão, inclusive em
nosso país. Dados de uma pesquisa realizada pelo Núcleo Brasileiro de Estágios
(Nube) com mais de onze mil pessoas e divulgados ontem pelo Diário dos Fundos
de Pensão (clique para ler) concluiu que pensar na aposentadoria
desde cedo é um hábito que quase metade (46,53%) dos jovens não tem. Outros 14%
não pensam em se aposentar em momento nenhum de sua vida. Como “vender” sonhos
de uma aposentadoria tranquila para este grupo se este objetivo lhes parece tão
distante?
Talvez
– continua o estudo – o produto previdenciário tenha sido muito adequado para
outras gerações, onde havia menor rotatividade, o que permitia uma maior
programação do uso da renda, e também quando os custos da primeira moradia eram
relativamente menores, dando espaço a outros projetos de mais longo prazo.
O
retrato hoje é outro e a previdência complementar precisa se adequar ao momento
que vivemos, através de produtos mais flexíveis e que despertem maior interesse
dentre os mais jovens.
E isto se aplica aos fundos de pensão brasileiros?
Mesmo
que voltada ao terceiro pilar previdencial e refletindo análises feitas em
outro país, é certo que não são meras coincidências as semelhanças deste
assunto às observações já feitas pelos fundos de pensão nacionais. Atrair e
reter os mais jovens não é uma tarefa fácil. Poucos são os planos de
previdência que ainda mantém níveis de adesão superiores a 90%, como era comum
há não muitos anos atrás. Aqueles que conseguem tais marcas já reformularam
seus meios de comunicação e passaram a conversar com seus participantes através
de novos canais, como redes sociais, aplicativos em plataformas móveis e
simuladores de benefícios mais completos e interativos, como mostrou a 2ª
Pesquisa Raio-X, elaborada pela GAMA em parceria com a ABRAPP no ano de 2013.
Neste
momento, ter uma comunicação adequada a cada um dos diversos perfis que compõem
o público-alvo é algo de grande importância. Contudo, não adianta ter boa
promoção se o produto não agrada. Assim, acima de tudo, é imprescindível
oferecer modelagens de planos que sejam aderentes aos desejos individuais. A
meu ver, flexibilidades no resgate e rentabilidade líquida competitiva (o que
passa, também, por taxas de carregamento e administração em patamares
equivalentes ao de outros investimentos com retornos semelhantes) são pontos de
necessária melhoria que, felizmente, já estão em processo de evolução.
Na
visão do CPS, ter produtos mais flexíveis e encarar as necessidades
previdenciárias como algo acima das políticas de Governo é fundamental. Sobre
este segundo ponto, a recomendação é que se crie, naquele país, uma estrutura
independente e autônoma capaz de traçar planos estratégicos para a previdência
que foquem no caráter social e longo-prazista que o assunto requer, ultrapassando
os mandatos deste ou daquele governante e evitando-se o jogo de empurra-empurra
entre a pasta previdenciária, que incentiva a poupança, e a pasta fazendária,
que incentiva o consumo. Trata-se de uma proposta interessante e cuja validade
para o Brasil deve ser pensada e discutida.
Como
representante da Geração Y (e um dos poucos a poupar em planos previdenciários,
dentre as pessoas de mesma idade com quem convivo), reconheço a necessidade de
encararmos frontalmente a questão para termos uma abordagem mais próxima às
necessidades deste público. A evolução do produto, da comunicação e da educação
são os caminho a trilhar para permitir a sustentabilidade da previdência
complementar nas próximas décadas.
Guilherme Brum Gazzoni -
Administrador, graduado pela Universidade de Brasília – UNB, Pós-Graduado em
Finanças pelo IBMEC, e Especialização em Entrepreneurship pela Babson College –
Boston / Massachussets. É Diretor Administrativo e Operacional da GAMA
Consultores Associados.