OS RISCOS
QUE VOCÊ NÃO PREVÊ
O que fazer quando não existe
manual
Toda empresa bem administrada se
prepara para possíveis riscos — e os gerencia com eficiência.
Mas não foi o
caso da plataforma de petróleo Deep Horizon (que explodiu), nem de algumas
fábricas de produtos químicos (igualmente lançadas pelos ares), nem de muitas
corretoras cujos retornos eram duvidosos.
A função da gestão de risco é ajudar
a empresa a desenvolver protocolos e processos para prever, avaliar e mitigar
tais riscos.
No entanto, nem mesmo sistemas de
gestão de risco de nível internacional preparam as empresas para todos os
riscos. Alguns são tão remotos que nenhum gestor ou grupo de gestores isolado
sequer poderia imaginá-los.
E mesmo quando as empresas preveem um risco
extremamente remoto, ele pode parecer tão improvável que elas não estão dispostas
a investir em competências e recursos para lidar com ele.
Estas ameaças
distantes, que chamamos de riscos singulares, não podem ser gerenciadas por
meio de manual padrão.
Nas próximas páginas exploraremos as
características que definem esses riscos e explicaremos como detectá-los caso
se materializem e como mobilizar recursos e capacidades para reduzir impactos.
QUE CARACTERIZA UM RISCO SINGULAR
Ao contrário dos riscos familiares e
rotineiros que toda empresa enfrenta, os riscos singulares são difíceis de
quantificar em probabilidade ou impacto. Eles aparecem em alguma destas três
situações:
O evento desencadeador está longe e
fora do âmbito da imaginação do portador de risco. Fatos desse tipo, também
chamados de cisnes negros, não são inerentemente imprevisíveis.
A crise
financeira global de 2008, por exemplo, é descrita como um cisne negro porque
muitos bancos que investiram e comercializaram títulos garantidos por hipotecas
não enxergaram os riscos embutidos em seus portfólios.
Eles não perceberam a queda
iminente no preço dos imóveis. No entanto, um pequeno número de investidores e
de bancos familiarizados com o mercado imobiliário e com o financeiro previu o
problema do mercado hipotecário e realizou lucros enormes reduzindo os títulos
garantidos pelas hipotecas.
Frequentemente os riscos surgem de
imprevistos ocorridos em fornecedor localizado à grande distância de seu
cliente.
Veja o caso de um pequeno incêndio em uma fábrica de semicondutores da
Philips, em Albuquerque, Novo México, em março de 2000. Provocado por descarga
elétrica durante uma tempestade, o incêndio foi apagado pelos bombeiros em
minutos.
O gerente geral de manufatura relatou o fato aos clientes da fábrica.
Ele alegou que os prejuízos foram pequenos e que a produção seria retomada em uma
semana.
O gerente de compras da Ericsson, um grande cliente da Philips,
verificou que seu estoque disponível de semicondutores atenderia às
necessidades de sua produção para as próximas semanas e encerrou o assunto.
Infelizmente, fumaça e fuligem mais a
limpeza de toda a fábrica contaminaram as salas assépticas onde os sensíveis
dispositivos eletrônicos eram fabricados, e a produção teve de ser suspensa por
vários meses.
No momento em que o gerente de compras da Ericsson soube do
atraso, todos os fornecedores alternativos desses componentes já haviam se
comprometido com outros fornecedores.
A falta do produto custou à Ericsson US$
400 milhões em perda de receita pelo atraso no lançamento de sua última geração
de telefones celulares, e contribuiu para que ela deixasse este mercado no ano
seguinte.
Várias falhas de rotina se combinam
para deflagrar catástrofes. Grandes tecnologias interconectadas, sistemas e
organizações podem levar às mais diversas ocorrências, cada uma gerenciável
isoladamente, mas coincidentes, o que cria a “tempestade perfeita”.
Veja o caso
do desenvolvimento do Dreamliner 787, da Boeing. A empresa introduziu novo
material na aeronave, em vez do alumínio, a fim de tornar a fuselagem mais
leve. Para isso solicitou a seus fornecedores que assumissem responsabilidades
sem precedentes sobre o projeto, engenharia e integração de subsistemas de
montagem.
E ainda substituiu os controles hidráulicos usados nas gerações
anteriores de aeronaves por controles eletrônicos alimentados por grandes baterias
de lítio. Um engenheiro da Boeing entrevistado pelo Seattle Times em 2011
afirmou que, comparado com os modelos anteriores, o 787 era “mais complexo,
cheio de inovações tecnológicas, de novos sistemas e aspectos”.
A Boeing sofreu sete grandes e inesperados
atrasos no desenvolvimento do 787 — a aeronave começou a voar comercialmente
com três anos e meio de atraso em relação ao planejado. Os atrasos
representaram mais de US$ 10 bilhões em custos de desenvolvimento.
Para evitar
a própria insolvência, a empresa comprou um grande fornecedor. Depois que o 787
foi lançado, suas baterias de lítio a bordo pegaram fogo durante vários voos, o
que levou as autoridades a manter no solo todos esses aviões por vários meses.
A empresa revelou à agência Reuters:
“Fizemos muitas mudanças ao mesmo tempo — em tecnologia, ferramentas de
projetos e cadeia de suprimentos — e, assim, ultrapassamos nossa capacidade de
gerenciá-las com eficiência”.
O risco se materializa muito rápido e
em escala espantosa. As organizações treinam seu pessoal, projetam equipamentos
e analisam respostas para lidar com riscos previsíveis, mas acreditam que não é
prático nem econômico preparar-se para acontecimentos além de certa magnitude.
E vale lembrar que alguns eventos são tão grandes que tornam obsoleta até a
melhor análise de custo/benefício, e tão rápidos que invalidam respostas
planejadas. Chamamos essa categoria de riscos tsunâmi, um arquétipo depois da
catástrofe da usina nuclear de Fukushima, Japão.
Fukushima, como várias outras usinas
nucleares do Japão, foi projetada para resistir a fenômenos raros como
terremotos e ondas oceânicas de até 5,7 metros de altura.
Mas o terremoto de
Tōhoku, em março de 2011, gerou um tsunami de incríveis 14 metros de altura que
destruiu o quebra-mar da usina, inundou o porão e inutilizou os geradores de
emergência, já danificados pelo terremoto.
O impacto foi devastador: o núcleo
de três reatores derreteu e houve três explosões de hidrogênio, o que liberou
contaminantes radioativos por toda a região e exigiu que mais de 100 mil
pessoas fossem evacuadas.
Nos três anos seguintes, a Tokyo Electric desembolsou
mais de US$ 38 bilhões para indenizar vítimas e empresas.
A pandemia da covid-19 é similar.
O
mundo já estava acostumado a administrar surtos globais de vírus que provocam
sintomas respiratórios agudos, incluindo a epidemia da Sars, em 2003, a gripe
“aviária” H5N1, de 2004 a 2006, e o vírus H1N1, em 2009.
O coronavírus CoV-2,
apesar de ser uma variante da Sars, é considerado novo porque muitas pessoas
infectadas eram assintomáticas mas podiam contagiar outras pessoas por um
período longo, espalhando a infecção para mais longe e mais rápido que a
maioria dos sistemas nacionais de saúde estavam preparados para enfrentar.
Às vezes, as empresas podem evitar as
piores consequências de riscos singulares utilizando análise de cenários,
ferramenta de rotina da gestão de risco, para identificá-los e tomar medidas
para mitigá-los.
Mas mesmo que seja aplicada frequentemente, a técnica não
abrange todas as eventualidades e, mais cedo ou mais tarde, as empresas
acabarão enfrentando riscos para os quais não estarão preparadas.
A IDENTIFICAÇÃO DE RISCOS SINGULARES
O sinal mais claro de que um risco
singular está surgindo são as anomalias — pistas que não fazem sentido. Isso
parece óbvio, mas a maioria das anomalias não é facilmente reconhecida ou
processada.
Considere dois dos casos descritos.
Qualquer gerente de compras de semicondutores experiente teria percebido que a
fuligem, a fumaça e as grandes quantidades de água lançadas, até em incêndios
menores, acabariam por comprometer a integridade das salas assépticas.
Qualquer
gestor de risco sênior da Boeing acostumado com projetos complexos de
engenharia teria previsto que riscos singulares haveriam de surgir no
desenvolvimento de uma aeronave daquelas proporções: fornecedores de primeira
linha sobrecarregados como nunca; material jamais utilizado naquela escala e em
aparelho daquelas dimensões; substituição de controles hidráulicos analógicos
familiares até então por sistemas eletrônicos totalmente novos.
Falhas na captação de sinais estão
embasadas em vieses bem documentados.
Décadas de pesquisa comportamental
mostram que as pessoas prestam atenção na informação que confirma suas crenças,
mas nunca na que as contradizem. Normalmente, elas ignoram desvios repetidos e
praticamente os consideram meras falhas temporárias.
Essa “normalização do
desvio” é reforçada pelo pensamento de grupo que leva os líderes de equipes a
omitir ou ignorar preocupações e anomalias relatadas pelo pessoal do nível
inferior na hierarquia.
Não raro os vieses são fortalecidos
por procedimentos padrão. Em 1998, por exemplo, o trem de alta velocidade da
Deutsche Bahn descarrilou na Baixa Saxônia, na Alemanha, matando 101 pessoas e
ferindo gravemente 88. Mas o acidente poderia ter sido evitado.
Um passageiro
tinha visto um enorme pedaço de metal (posteriormente identificado como peça
integrante da roda) atravessar o piso lançando-se cabine adentro, onde ficou
entalado entre dois assentos.
No entanto, ele não acionou o freio de emergência
mais próximo, porque um sinal bem visível advertia os passageiros de que
poderiam ser multados se o fizessem sem autorização — medida destinada a evitar
paradas desnecessárias do veículo.
O passageiro obedientemente saiu em
busca do funcionário autorizado a ativar os freios, mas nada foi feito.
Este
foi processado por negligência pela Deutsche Bahn, mas defendeu-se
convincentemente de sua omissão alegando que cumprira a exigência de inspecionar
visualmente qualquer problema antes de acionar o freio de emergência — problema
este ocorrido a vários vagões de distância.
Sua obediência ao protocolo para
gerir um risco de rotina atrasou sua reação ao imprevisto — com consequências
trágicas.
O resultado final é que identificar
risco singular requer que as pessoas reprimam seus instintos, questionem seus
pressupostos e reflitam.
Este “sistema dois de pensamento”, como Daniel
Kahneman o denomina, infelizmente consome mais tempo e é mais comprometedor que
avaliar a situação com rapidez e seguir as regras.
E em situações como o
descarrilamento do trem, a pressão do momento faz as pessoas acionarem seu modo
padrão de pensamento instintivo.
Por isso, as empresas não podem depender de
gestores familiarizados com protocolos de risco de rotina para identificar
novos casos. Em vez disso, elas devem:
Incumbir um executivo sênior de
redobrar a atenção ao que pode sair errado.
Na Nokia, grande cliente da fábrica
de semicondutores da Philips em Albuquerque, a informação sobre qualquer fato
incomum numa cadeia de suprimentos precisava ser relatada ao vice-presidente
sênior de operações, logística e prospecção.
Esse executivo, com poucas
atribuições operacionais cotidianas, exercia o papel de principal solucionador de
problemas da empresa, ou seja, era “seu diretor de preocupações”, como
preferimos chamar.
Trata-se de cargo diferente do
tradicional diretor de risco. Suas prioridades: melhorar a gestão de riscos de
rotinas desconhecidos e identificar riscos singulares que possam se transformar
em riscos de rotina gerenciáveis.
Já o diretor de preocupações precisa
identificar rapidamente a emergência de qualquer risco singular e mobilizar
todo um processo para resolvê-lo em tempo real.
Quando o gerente de compras da
Nokia recebeu por telefone a notícia do incêndio na fábrica, ele verificou se
os níveis de estoque estavam adequados e registrou o imprevisto como rotina,
exatamente o que fizera sua contraparte da Ericsson.
Mas, seguindo o protocolo,
relatou o fato ao vice-presidente sênior como uma anomalia da cadeia de
suprimentos. O vice-presidente investigou a fundo e verificou que a falta de
peças na fábrica poderia comprometer mais de 5% da produção anual da empresa.
O vice-presidente mobilizou uma
equipe multifuncional de 30 pessoas para administrar a potencial ameaça.
Os
engenheiros produziram novo projeto de alguns chips que pudessem ser fabricados
por fontes alternativas, e a equipe prontamente comprou a maior parte dos chips
restantes de outros fornecedores.
Mas havia dois tipos de chips que só a
Philips produzia. Seu vice-presidente localizou o CEO da Nokia em um avião
corporativo, relatou por telefone a situação e conseguiu que o executivo
redirecionasse o voo para a Holanda e se encontrasse com ele na sede da Philips.
De acordo com uma entrevista que o
solucionador de problemas deu ao Wall Street Journal, depois da reunião, as
duas empresas concordaram que “a Philips e a Nokia operariam como única empresa
no que se referia a esses componentes”.
Na verdade, a Nokia agora podia
utilizar a Philips como seu fornecedor cativo para os dois chips específicos.
A
relação permitiu que a Nokia mantivesse a produção de seus telefones atuais,
lançou sua nova geração de telefones dentro do prazo e foi beneficiada quando a
Ericsson deixou o mercado de telefones celulares.
Digitalizar a comunicação de eventos.
A tecnologia digital pode ser uma ferramenta poderosa na busca por anomalias,
como ilustram as experiências da empresa pública de eletricidade suíça
Swissgrid.
Por meio de um aplicativo de celular, o RiskTalk, os funcionários da
empresa relatam prontamente violações de segurança, problemas de manutenção e
falhas iminentes em equipamentos.
Um grupo rotativo de gestores de risco,
segurança e qualidade monitora as mensagens do aplicativo numa sala de controle
central aplicando análises de dados para estabelecer relações entre pequenos
relatos desconexos e identificar potenciais riscos.
Um gestor da sala de
controle que acredita que um risco singular de baixa probabilidade pode se materializar
analisa os dados em minúcias e determina se deve levar a efeito um procedimento
fora da rotina.
Na verdade, os membros da equipe atuam como diretores de
preocupações da empresa, com autoridade para analisar em profundidade a
situação potencialmente perigosa e agir com celeridade.
Além de encorajarem os funcionários a
reportar o que julgarem necessário, as empresas devem buscar informações de
riscos singulares potenciais fora de seus domínios.
A Swissgrid se aliou ao
exército suíço, à força policial suíça, a várias agências governamentais e a
corporações para desenvolver uma plataforma de gerenciamento de crise nacional
em tempo real que pode ser acessada por todas as partes envolvidas.
Cada
entidade utiliza a plataforma para relatar qualquer problema de que tenha
conhecimento, como incêndio florestal, acidentes que provoquem grandes
congestionamentos do tráfego ou condições anormais de neve ou avalanches nos
Alpes.
Os gestores de risco da Swissgrid conectados à plataforma se inteiram
antecipadamente de situações externas que possam interromper o fornecimento
confiável de eletricidade.
Imaginar “se”. As empresas podem
também identificar riscos singulares potenciais indiretamente — analisando
reveses ocorridos em outras indústrias e países, e então se perguntar: “e se
acontecer aqui?”.
Na Swissgrid, o diretor sênior de
risco está sempre atento a acontecimentos preocupantes como a falência da
Swissair e o sofisticado ataque cibernético na Maersk, gigante de transporte
marítimo.
Sempre atento a fatos desta natureza, ele agenda um workshop
extraordinário sobre risco do qual participam os gestores seniores, agentes de
risco de todas as unidades e especialistas de diversas áreas.
Depois de
deliberar, o grupo cria um plano de ação que poderá ser ativado a qualquer
momento se algo parecido ocorrer na cadeia de suprimentos da empresa. Este
processo sistemático a ajuda a identificar potenciais riscos singulares e
torná-los gerenciáveis.
Como observou o CEO Ives Zumwald,
“nossos negócios, com riscos individuais e conexões complexas espalhadas por
todas as unidades, são muito complicados para qualquer pessoa entendê-los. No
entanto, não podemos esperar que primeiro surjam os problemas para depois
bancarmos os bombeiros.
Graças aos sistemas que implantamos, temos condições de
solucioná-los proativamente”. Eles agora incluem vários riscos que seriam total
surpresa para a maioria das outras empresas.
COMO RESPONDER A RISCOS SINGULARES
Apesar de todos os esforços para
prever riscos singulares que — e se — ainda surgirão, as empresas não terão
roteiro ou manual para gerenciá-los nem de imediato, nem depois do desastre.
E
nada na experiência anterior dos gestores de operações ou de risco os ajudará a
responder rápida e adequadamente.
Nesta situação, toda empresa precisa tomar
decisões (a) suficientemente boas, (b) suficientemente rápidas para fazer a
diferença, (c) suficientemente bem transmitidas para serem entendidas e (d)
suficientemente bem executadas até surgir opção melhor. Ela tem duas para
responder imediatamente a um ataque:
Organizar uma equipe de gestão de
incidentes críticos. Esta abordagem padrão ao risco singular — criar uma equipe
central para supervisionar a resposta — funciona bem quando um acontecimento
tem impacto generalizado, mas não requer solução completa e incontinente.
A equipe deve ser formada por
funcionários de diferentes níveis e funções, pessoas externas de comprovada
expertise e representantes dos sócios e demais stakeholders.
Para algo inesperado como a epidemia da covid-19, por exemplo, a equipe de
incidentes críticos precisaria de especialistas em clínica médica, saúde
pública e políticas públicas que provavelmente a empresa não tem em seus
quadros.
Para gerenciar as consequências dos atrasos no desenvolvimento de
produtos em grande escala — por exemplo, nova aeronave —, o grupo deveria
trabalhar em contato direto com seus fornecedores.
Com o tempo, à medida que
muda a situação e surgem novas informações, a participação das equipes pode
igualmente mudar.
A equipe interpreta a situação,
identifica as questões mais importantes e estabelece prioridades entre os
diferentes interesses e constituintes competitivos.
Ela pode delegar a pessoas
ou subgrupos certas questões específicas, como avaliação e manutenção do caixa
e gerenciamento de componentes importantes da cadeia de suprimentos, mas a
equipe detém a responsabilidade de coordenar todos os ângulos da resposta.
A equipe se reúne diariamente e com
mais frequência se a situação agravar-se.
Ela gerencia a comunicação dentro da
empresa e instrui o CEO sobre as comunicações externas.
Todas as comunicações
sobre a realidade da situação devem ser verídicas, destacar com clareza o que a
organização ainda não sabe, fornecer uma base racional de esperança e criar
empatia para com todos os stakeholders afetados.
A dinâmica da discussão é importante.
A equipe de incidentes críticos reúne diversas pessoas que possivelmente nunca
se viram e relutem em se manifestar francamente com desconhecidos,
principalmente os de posição hierárquica superior.
O objetivo é encorajar o
questionamento, não a defesa, por isso as reuniões precisam ser
psicologicamente seguras, dando a todos a oportunidade de expor ideias não
testadas e de discordarem abertamente.
O que está certo é muito mais importante
que quem está certo. Consequentemente, o ideal é que alguém que não seja o
líder da equipe exerça o papel de facilitador.
E é melhor que ele escute mais e fale
menos, pois isso diminui a probabilidade de os subordinados abrirem mão de sua
percepção em favor da opinião do principal tomador de decisões.
Gerenciar a crise em nível local.
Alguns riscos singulares não podem dar-se ao luxo de ter uma equipe de
incidente crítico.
O tempo é crucial, e os detalhes da situação, ou a origem da
ameaça, são difíceis de explicar ao escalão superior na distante sede da
empresa. Nestes casos, as ações precisam ser delegadas às pessoas que viram de
perto o problema.
A agência de turismo Take Adventure
(nome fictício), sediada em Boston, oferecia viagens a lugares pouco
conhecidos. Seus clientes eram majoritariamente viajantes experientes.
No
início, ela empregava guias turísticos americanos que estavam familiarizados
com seus clientes-alvo.
Mas o CEO logo percebeu, pesarosamente, que qualquer
viagem poderia ser marcada por acidentes, doenças, destruições causadas pelo
clima extremo, desastres naturais, tumultos políticos, cancelamentos de hotel,
atrasos de voo, greves.
O território dos negócios vem sempre acompanhado de
riscos singulares.
Num processo longo e oneroso, a
empresa substituiu, em todos os países, os guias americanos por guias locais,
pois estava convencida de que estes conheciam melhor as regiões e tinham fortes
vínculos com elas.
Ela lhes deu plena autonomia para resolver quaisquer
problemas surgidos nas viagens. A empresa acreditava que, graças a esse
conhecimento, eles sabiam quais eram as preferências dos clientes e estavam
capacitados a tomar todas as providências necessárias.
A matriz os assistia nas
tarefas rotineiramente mais bem executadas pela equipe de apoio central (como
remarcação de voos e alteração de reservas de hotel).
O modelo descentralizado
com pessoal operacional com poder e autonomia para atuar também como gestores
de risco se baseia em padrões estabelecidos de gerenciamento de risco.
Pois, em
situações extraordinárias que exigem resposta imediata, os gestores de risco
centralizados teriam informações limitadas, desconheceriam as opções locais e
teriam pouca ou nenhuma capacidade de levar a efeito as melhores opções.
As decisões iniciais, fossem elas
tomadas por uma equipe centralizada ou por um funcionário local, seriam
especulativas tendo em vista as poucas informações disponíveis em ambientes ou
situações de incerteza.
Estar absolutamente correto não pode ser padrão de
desempenho. Pensando bem, nenhuma resposta é perfeita.
A empresa não tem
alternativa senão tomar uma decisão instantânea “provavelmente, aproximadamente
correta”, aprender com ela, obter novas informações e agir de modo recorrente
para estar sempre alguns passos adiante (para saber mais, veja o quadro “O ciclo
OODA”).
Os riscos surgem em incontáveis
formatos. As empresas podem gerenciar o que já conhecem e preveem.
Mas riscos
singulares e inesperados resultam ou de combinações complexas de fatos
aparentemente de rotina ou de fatos massivos e sem precedentes.
Elas precisam
detectá-los e tomar providências ágeis, improvisadas, iterativas e simples, até
porque nem sempre estas terão o efeito pretendido — em resumo, medidas
diferentes das de praxe e próprias do gerenciamento dos riscos de rotina.
Fonte: Harvard Business Review
Autores:
ROBERT S. KAPLAN é membro sênior e
professor emérito de desenvolvimento de liderança na Harvard Business School.
HERMAN B. “DUTCH” LEONARD é professor
também na HBS e professor de gestão do setor público na Kennedy School of
Government, Harvard.
ANETTE MIKES é membro da Hertford
College, Oxford University, e professora associada na Saïd Business School, da
Oxford University.