Esqueça a regra dos seis meses
As regras de bolso em finanças são muito
importantes para simplificar, definir objetivos e avaliar nossa situação
financeira.
Já escrevi sobre algumas destas regras importantes para ajudar em
seu planejamento financeiro. No entanto, para a regra de seis meses de custos
mensais, existem dois pontos que deveriam se, cuidadosamente, avaliados.
A regra dos seis meses é uma das mais
conhecidas no âmbito do planejamento financeiro.
Quando se pergunta a qualquer
um sobre o que seria adequado ter em reserva de emergência, essa convenção de
seis meses do custo mensal em ativos de liquidez imediata é rapidamente
lembrada.
Entretanto, ela não deveria ser seguida
por todos.
Seu tanque está cheio?
Podemos fazer analogia de seu
patrimônio financeiro com o tanque de combustível de um veículo. O marcador do
tanque mostra um intervalo, usualmente na cor vermelha, que chamamos de
reserva.
Usualmente, essa reserva representa
1/4 do tanque. Seria como se esse 1/4 representasse os seis meses de custo
mensal de sua reserva financeira.
Se você mantém o tanque sempre cheio,
o tamanho desse intervalo vermelho perde relevância.
Neste caso, o intervalo
vermelho que marca esta reserva poderia ser de 10%, de 5% do tanque ou até
menos. O mesmo ocorre com seu patrimônio financeiro.
Se o tanque de seu patrimônio
financeiro está cheio, não é com a reserva que você deveria se preocupar.
Por outro lado, a reserva é muito
relevante para um carro com tanque vazio. Se não há combustível no seu carro,
ele não anda.
A reserva é importante para quem anda com tanque baixo para
evitar que você fique no prego.
No entanto, ninguém que anda com
tanque cheio fica no prego por falta de combustível.
Nesse momento, você deve estar se
perguntando: mas como eu posso saber se o tanque de meu patrimônio financeiro
está cheio?
Segundo o livro ‘O milionário mora ao
lado: Os surpreendentes segredos dos ricaços americanos’ de Thomas Stanley e
William Danko, há um cálculo simples para avaliar esta questão.
Basta multiplicar sua idade por sua
renda bruta anual e em seguida dividir por 10.
Por exemplo, se você tem 35 anos
e ganha o equivalente a R$10 mil mensais (R$120 mil no ano bruto de IR), então
seu patrimônio financeiro atual deveria ser de R$ 420 mil.
Ressalto que esse número não
significa seu patrimônio alvo final para se aposentar. Se você tem esta idade,
renda e patrimônio, significa que está andando com o tanque cheio e está
fazendo a coisa certa.
Também é importante que esteja
constantemente enchendo o tanque.
Isto significa que deve investir,
mensalmente, o montante mínimo de 20% de sua renda, como determinado por
Elizabeth Warren, autora do livro “All Your Worth: The Ultimate Lifetime Money
Plan”.
O segundo erro que muitos cometem é
considerar que toda a reserva deve ser alocada em ativos de liquidez imediata e
sem risco.
Reserva x Liquidez
Com a Selic a 2% ao ano e a inflação,
medida pelo IPCA, em 4% ao ano, ter ativos que rendam próximo de 100% do CDI
representam um custo elevado.
Nestes ativos, seu dinheiro perde 2% do poder de
compra por ano. Portanto, representa uma perda certa.
Aqui faço outra analogia com seu
carro. Se você tem carro, possivelmente, fez um seguro para ele. Assim, você
paga um prêmio para ter uma proteção por um ano. Se não bater o carro, perde
esse prêmio.
Aplicar em Tesouro Selic ou CDB a
100% do CDI a parcela de sua reserva de emergência é como pagar o seguro, pois
perde os 2% do valor do dinheiro por ano.
Com o seguro do carro, você não pode
pagar o prêmio apenas após bater o carro. Mas nos investimentos, você pode
pagar o prêmio apenas quando e se ocorrer a emergência.
Por exemplo, você poderia aplicar
parte de sua reserva de emergência em investimentos de maior prazo, mesmo de
baixo risco como CDB.
Por exemplo, existem CDBs de 2 anos rendendo mais de 6%
ao ano.
Se ocorrer uma emergência e todos os
recursos de liquidez forem esgotados e você precisar vender este CDB de maior
prazo, possivelmente, sofrerá uma penalidade. No entanto, só vai pagar a
penalidade (equivalente ao prêmio do seguro do carro) se ocorrer uma
emergência.
Você prefere pagar o prêmio do seguro
antecipado ou só pagar o prêmio se for necessário usar o seguro?
Não estou querendo dizer que não deva
ter nenhum ativo de liquidez imediata e nem que não deva ter nada que renda
próximo do CDI.
Parte de seu portfólio, necessariamente vai estar neles, mas
não quer dizer que todo a reserva de emergência precisa estar investida nesse
tipo de ativo.
O montante que você deve deixar em
ativos de liquidez imediata e baixo risco como estes deve estar relacionado à
necessidade de rebalanceamento na carteira, momentos de mercado e possíveis
desembolsos de caixa.
Michael Viriato -
professor de finanças do Insper e sócio fundador da Casa do
Investidor.