Classificação adequada do perfil do investidor pode
evitar problemas e perdas
A
maioria dos investidores não detém conhecimento suficiente e confia na
recomendação de assessores.
Fatos: a maioria dos investidores não detém
conhecimento suficiente acerca dos produtos de investimentos e confia na
recomendação que recebe dos assessores; apesar da frágil abordagem de que o
cliente é o centro das atenções, a indústria financeira é movida pela venda de
produtos.
Consequência: recomendação e compra inadequadas de
produtos.
Fundos multimercado arrojados, por exemplo, podem
ser adequados a um investidor jovem, em fase de construção de patrimônio,
longo horizonte de tempo, com alta tolerância e capacidade de correr risco.
Entretanto, não faz sentido que esses fundos
respondam por 70% da carteira de um investidor aposentado de 82 anos que deseja
preservar seu patrimônio e cujos rendimentos são necessários para complementar
sua renda familiar.
Quando lhe é perguntado sobre o perfil de risco com
o qual se identifica, ele se apresenta como conservador.
E não poderia ser
diferente, com base na breve descrição apresentada.
Me surpreende
constatar que a alocação inadequada de ativos se repete nas três carteiras de
investimento que mantém com três instituições financeiras distintas.
Pesquisei a classificação do perfil de risco atribuído ao
investidor e encontrei a causa dos equívocos. Uma das instituições o classifica
como arrojado.
As outras duas não conhecem seu cliente, o cadastro está
desatualizado.
Muito aprendizado podemos tirar
desse exemplo, que, infelizmente, não é fictício.
Os investidores precisam
assegurar que o perfil de risco a ele atribuídos está correto e reflete sua
disposição de correr risco e sua capacidade de lidar com eventuais perdas
decorrentes de investimentos mais arriscados.
Como fazemos isso? Respondendo
ao questionário aplicado pela instituição financeira de forma consciente e
responsável, ciente de que a classificação será utilizada pelos assessores para
basear a oferta de produtos. Uma classificação inadequada ampara a oferta de um
produto inadequado e, de certa forma, reduz a responsabilidade do consultor.
O aprendizado para os
assessores é conhecer melhor o cliente, além do perfil a ele atribuído, para assegurar
que a classificação está correta e que é adequada a recomendação de produtos
que fará.
Às instituições financeiras e
seus representantes, especialmente as que mantém seus cadastros de clientes
desatualizados, o alerta de que estão descumprindo a instrução 539 da Comissão
de Valores Mobiliários. Transcrevo um trecho da instrução para divulgar a
responsabilidade dos intermediários:
"As pessoas habilitadas a
atuar como integrantes do sistema de distribuição e os consultores de valores
mobiliários não podem recomendar produtos, realizar operações ou prestar
serviços sem que verifiquem sua adequação ao perfil do cliente.
É vedado aos intermediários
recomendar produtos ou serviços ao cliente quando:
I - o perfil do cliente não
seja adequado ao produto ou serviço;
II - não sejam obtidas as
informações que permitam a identificação do perfil do cliente; ou
III - as informações relativas
ao perfil do cliente não estejam atualizadas".
Conhece-te a ti mesmo, respeite
e imponha respeito ao seu perfil de investidor.
Verifique qual é o seu perfil
de risco atual nas instituições financeiras com as quais mantém relacionamento
comercial.
Refaça o procedimento se considerar que o perfil atribuído não
corresponde à realidade. Respeitados o nível de tolerância a riscos e os
objetivos de investimento, muitos problemas e perdas poderão ser evitados.
MARCIA DESSEN - planejadora financeira CFP
(“Certified Financial Planner”), autora de “Finanças Pessoais: O Que Fazer com
Meu Dinheiro”.