Charles Chaplin já sabia.
Quando gravou o filme "Tempos Modernos" em 1936, seu objetivo era
mostrar quanto a divisão do trabalho em tarefas isoladas e repetitivas podia
alienar os trabalhadores. No filme, ele interpreta um operário em uma linha de
montagem cuja única função é apertar parafusos. De tanto apertar, ele continua
repetindo o movimento por muito tempo depois de deixar o trabalho.
O embasamento teórico do filme
vem de Adam Smith, o pai da economia, que, em 1776, defendeu a divisão do
trabalho como uma forma de aumentar —e muito— a produtividade dos
trabalhadores. A ideia é que dividir o trabalho em diversas funções menores
gera eficiência: cada funcionário se especializa em uma pequena parcela do trabalho.
O Fordismo e Taylorismo pegaram o conceito e transformaram-no na linha de
produção.
Parece assunto de escola? Então
pare e pense se você não tem uma tarefa que detesta no seu dia a dia e veja se
ela não está, de alguma forma, isolada do contexto e do seu objetivo principal,
como preencher planilhas e planilhas que você nunca usa.
O problema da divisão do
trabalho, segundo Karl Marx, é que ela causa a alienação do trabalhador. Sem
saber qual é o objetivo daquela tarefa nem poder entender o processo total de
produção, o funcionário não consegue se identificar nem encontrar sentido
naquele trabalho.
O problema, nos dias de hoje, é
grave. Vivemos em tempos em que nosso trabalho faz parte da nossa identidade, e
a pergunta "o que você faz?" é sempre a primeira quando conhecemos
alguém novo. Se você faz muitas coisas e não sabe para o que elas servem, as
chances de você detestar o seu trabalho são altíssimas.
"Eu suspeito que a ideia
de alienação nos tempos de Marx era menos relevante, quando, mesmo que os trabalhadores
tentassem, era difícil encontrar sentido no trabalho. Na economia atual,
conforme assumimos trabalhos que precisam de imaginação, criatividade, reflexão
e engajamento 24 horas por dia, a ênfase de Marx na alienação traz um
ingrediente importante para essa mistura", afirma Dan Ariely no livro
"Positivamente Irracional".
Segundo ele, ao dividir o
trabalho de uma pessoa em muitas partes menores, "as empresas correm o
risco de tirar a visão do todo dos funcionários e seu propósito".
Se na sua empresa você se
preocupa em manter o engajamento e compromisso dos seus funcionários, então é
hora de rever as tarefas de cada um deles. Ao fazer com que cada trabalhador
assuma processos inteiros e ao estimular a sua autonomia, ele pode encontrar
sentido (e paixão) mais facilmente no seu trabalho.
Post em
parceria com Carolina Ruhman
Sandler, jornalista, fundadora do site Finanças Femininas e coautora do livro "Finanças
femininas - Como organizar suas contas, aprender a investir e realizar seus
sonhos" (Saraiva)
Samy Dana - Ph.D em Business, doutorado em
administração, mestrado e bacharelado em economia, é professor na Escola de
Administração de Empresas de São Paulo da FGV.
Fonte: site UOL