Era uma vez um país cheio de problemas no
continente americano. Lá, havia muita miséria, altas taxas de analfabetismo,
elevada mortalidade infantil, corrupção, caos financeiro, infraestrutura em
frangalhos e pessoas morando nas ruas. A economia não crescia. O futuro parecia
sombrio. Certamente, você já sabe que estou falando dos EUA da década de 30. De
lá pra cá, eles se firmaram como a maior economia, o país mais inovador e a
maior potência bélica do planeta. Como fizeram isso? Quais as lições para este novo
ciclo presidencial no Brasil?
As similaridades são óbvias. Após sete anos de crescimento acelerado
entre 2004 e 2010, o Brasil foi o país que menos cresceu na América Latina nos últimos quatro anos. Enquanto isso, a inflação subiu, o superávit da balança comercial desapareceu e as contas públicas se
deterioram muito. Em 2015, o governo terá de recompor tarifas públicas,
elevando ainda mais a inflação, o que exigirá novas altas dos juros. Isso e o
inevitável aperto fiscal limitarão mais uma vez o crescimento.
Para piorar, a campanha eleitoral mostrou o maior grau de polarização política já visto
no país após a redemocratização. As apurações do Petrolão contribuirão para exacerbar os ânimos
e tirar o foco do Congresso das reformas estruturais que o país tanto precisa.
Se elas não forem aprovadas no início do novo mandato, quando a força política
de qualquer presidente está no seu auge, teremos de esperar ao menos mais
quatro anos para que haja novamente condições políticas para aprová-las.
É fácil ficar pessimista. A confiança dos
consumidores é a mais baixa em 10 anos e a dos empresários, ainda menor. É aí
que mora a oportunidade.
Segundo o filósofo chinês Wu Hsin, “a
expectativa é o avô da decepção”. Quanto mais extremas as expectativas,
positivas ou negativas, mais facilmente elas não se concretizarão. Apesar da
euforia eleitoral de metade do país, dificilmente, as expectativas econômicas
para 2015 poderiam ser piores. Acontecia a mesma nos EUA nos anos 30.
A primeira lição é que para a economia voltar a
crescer com vigor, as preocupações têm de passar. Quem tem medo do futuro não
vai às compras, nem investe em seu negócio. Os ajustes econômicos são
inevitáveis, mas seus efeitos negativos sobre o crescimento em 2015 podem ser
compensados recuperando-se a confiança. Como fazer isso? Anunciando a redução
do intervencionismo governamental o quanto antes. Assim, o medo do empresariado
de investir passaria, a geração de empregos voltaria a crescer, e consumidores
voltariam às lojas.
A segunda lição do sucesso americano é a importância
de melhorar o sistema e a qualidade da educação e
investir em pesquisa e inovação.
Para que nós brasileiros sejamos mais ricos, temos de nos tornar mais
produtivos. Hoje, a produtividade e a renda média dos americanos são cinco
vezes as nossas. Eles não chegaram lá de uma hora para outra. Educação é um
esforço não de alguns anos, mas de algumas décadas. Este esforço tem de
começar já.
A essas alturas, você já sabe quem governará o
Brasil nos próximos quatro anos. Eu não sabia ao escrever este artigo na
quarta-feira anterior às eleições. Não importa. As lições são as mesmas.
Ricardo Amorim - economista, apresentador do programa Manhattan Connection da Globonews e presidente da Ricam Consultoria.