Em crianças pequenas, digitar letras não gera a mesma
atividade cerebral que a escrita cursiva.
Existe uma tendência a enxergar a escrita manual como uma
habilidade não essencial, apesar de os pesquisadores alertarem que aprender a
escrever pode ser crucial para... aprender a escrever.
Em artigo publicado neste ano na revista “The Journal of
Learning Disabilities”, pesquisadores descreveram um estudo que examinava a
correlação da linguagem oral e escrita com a atenção e as habilidades ditas de
“função executiva” (como o planejamento) em alunos do quarto ao nono ano do
ensino fundamental.
“Este mito de que a caligrafia é apenas uma habilidade motora é
simplesmente errado”, disse Virginia Berninger, coordenadora do estudo. “Usamos
partes motoras do nosso cérebro, o planejamento motor, o controle motor, mas o
que é muito importante é uma região do nosso cérebro onde o visual e a
linguagem se juntam, o giro fusiforme, no qual estímulos visuais realmente se
transformam em letras e palavras escritas.”
Você precisa enxergar as letras no “olho da mente” para
produzi-las sobre a página, explicou Berninger. Exames cerebrais por imagem
mostram que a ativação dessa região é diferente em crianças que tem problemas
para escrever à mão.
Karin James, professora da Universidade de Indiana, fez
varreduras cerebrais em crianças que ainda não sabiam desenhar as letras. “Seus
cérebros não distinguem letras; respondem a elas da mesma forma que a um
triângulo”, contou ela.
Mas isso mudou depois que as crianças foram ensinadas a desenhar
as letras. “As letras que elas produzem sozinhas são muito confusas e
variáveis, e isso na verdade é bom para a maneira como as crianças aprendem as
coisas”, disse ela.
No ano passado, na publicação “The Journal of Early Childhood
Literacy”, Laura Dinehart, professora associada da Universidade Internacional
da Flórida, relacionou a boa caligrafia ao desempenho escolar. Crianças com boa
caligrafia tendem a ter notas mais altas porque seus trabalhos e provas são
mais facilmente legíveis pelos professores; já os alunos que sofrem para
escrever podem ser obrigados a dedicar atenção demais à escrita em si, em
detrimento do conteúdo.
Especialistas em caligrafia há tempos debatem se a escrita
cursiva propicia habilidades e benefícios especiais em relação à letra de
forma. Berninger citou um estudo de 2015 que sugeria que, a partir do quarto
ano, aproximadamente, a habilidade com a escrita cursiva trazia vantagens tanto
em termos de uso correto da ortografia quando da composição dos textos, talvez
porque os traços conectores ajudem as crianças a juntar as letras para formar
palavras.
Para crianças pequenas com desenvolvimento normal, digitar as
letras não parece gerar a mesma ativação cerebral. E os estudos sobre o uso de
anotações sugerem que universitários que digitam lembram menos e reproduzem
pior o conteúdo do que seus colegas que escrevem à mão.
“Minha pesquisa aborda de forma mais abrangente a maneira como o
aprendizado e a interação com o mundo a partir das nossas mãos tem um efeito
realmente significativo sobre a nossa cognição”, disse James, “sobre como a
escrita à mão altera a função cerebral e pode alterar o desenvolvimento
cerebral”.
Perri Klass – médico, professor, Diretor do Carter Instituto Jornalismo.
Fonte: jornal NYT