Estamos prontos para o metaverso?
Você
está preparado para viver em um universo virtual? Zuckerberg acha que sim.
Você está preparado para viver em um universo
virtual? Mark Zuckerberg acha que sim.
Em longa entrevista recente, ele afirma que o futuro do Facebook é a construção de um
metaverso.
A palavra vem da ficção científica para se referir a um universo
digital, construído acima e em paralelo à realidade em que vivemos.
Você coloca um par de óculos, uma lente de contato,
um fone de ouvido, um implante ou outros aparelhos que virão por aí e... pimba!
Está vivendo no virtual, com regras totalmente distintas.
É preciso prestar atenção nas palavras dele, porque
a visão é ainda mais ambiciosa. Zuckerberg afirma que “o metaverso abrange
muitas empresas, na verdade toda a indústria de tecnologia.
Pode-se pensar nele
como o sucessor da internet móvel”. A internet móvel já mudou totalmente a vida
no planeta. A promessa é que o metaverso mude tudo ainda mais.
Vale notar que hoje o Facebook não é a empresa
que lidera a construção de um metaverso.
Quem está mais próximo disso é o
Roblox, empresa criadora do game de mesmo nome. Se você não conhece, pergunte a
crianças entre 4 e 16 anos que elas explicam.
Afinal, já são dezenas de milhões
delas, inclusive no Brasil, entrando todos os dias nesse metaverso para jogar e interagir com outros usuários.
A empresa fez uma das maiores ofertas públicas de
ações deste ano e foi tema aqui da coluna, inclusive para contar sobre sua
conexão muito direta com o Brasil.
Apesar de não estar na liderança, o Facebook não
está parado. A empresa lidera em um outro item dos metaversos, que são os
óculos que facilitarão acessá-los. Os óculos Quest 2 são o produto mais recente
da divisão especializada.
O comunicado de Zuckerberg é justamente para
sinalizar que o “metaverso” não será mais tema só de uma divisão do Facebook,
mas tomará conta de toda a empresa.
Essa mudança trará também um metaverso de
problemas.
Se nas redes sociais a questão da “moderação de conteúdo” já é
problemática, como será feita no caso dos metaversos em que tudo acontece em
tempo real?
Qual será a moeda do metaverso e como ela irá interagir com a moeda
real? Como será a questão do trabalho no âmbito do metaverso? Certamente muita
gente vai trabalhar dentro dos metaversos.
Poderão os metaversos se tornar laboratórios
políticos?
Por exemplo, criando espaços para experimentar novas formas de
participação democrática, que, quem sabe, poderão influenciar o mundo real?
Ou
ainda, será tolerável experimentar com modelos de autocracia e autoritarismo
dentro dos metaversos? Ou a governança dos metaversos será um pano de fundo
previamente decidido?
Em suma, se o metaverso se tornar mesmo o futuro da
internet, isso levará a um impacto social, econômico, legal, científico,
normativo, valorativo e de transformação coletiva.
Os metaversos poderão se transformar em novos
espaços de coordenação da ação humana. Seja em laboratórios seguros de
experimentação institucional. Seja em distopias medonhas. Ou podem também dar
em nada.
RONALDO LEMOS - Advogado, diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de
Janeiro.