O Senado brasileiro aprovou
hoje a instauração do processo de impeachment da Presidente Dilma Rousseff, o
que em tese leva a seu afastamento temporário do cargo por até 180 dias, até
que o Senado julgue o mérito do processo. Na prática, ele selou a transição do
poder ao vice-presidente Michel Temer, que assumiu o cargo de Presidente ainda
hoje. Salvo o aparecimento de alguma denúncia grave contra Michel Temer ou o
agravamento da crise econômica, a chance de Dilma voltar ao poder beira zero e
estas duas possibilidades também têm probabilidades muito baixas.
Isto significa que, de fato,
começou hoje, no dia 12 de maio de 2016, um novo governo no Brasil. Mais
importante, um governo que, ao contrário de seu antecessor, tem todas as
condições de colocar o Brasil de volta em uma rota de crescimento econômico.
Mais importante ainda, se as medidas econômicas ventiladas na mídia até agora –
incluindo Reforma Previdenciária, mais autonomia ao Banco Central, corte de
gastos públicos – forem efetivamente implementadas, as chances que a
recuperação econômica comece em breve – possivelmente já na segunda metade
deste ano – e que ela seja muito mais vigorosa do que os mais céticos temem é
muito grande, trazendo grandes oportunidades para o país, as empresas e os
brasileiros.
O tema me parece tão
importante, que estou publicando um livro a esse respeito, enfatizando a
oportunidade rara que temos neste momento de começarmos a construir um país
melhor e como nós brasileiros podemos e devemos participar deste processo.
Segue abaixo a introdução do
livro.
Por que este livro?
O Brasil vive um momento
histórico. Uma crise seríssima gerou um pessimismo contagiante sobre nosso
futuro a curto, médio e longo prazos. Tal pessimismo é natural, mas exagerado.
Em função de crises moral, política e econômica profundas, o país está passando
por transformações importantes na aplicação da lei, na política e na condução
da economia. Plantamos sementes que, se regadas e cuidadas com carinho, podem
gerar transformações positivas com resultados significativos.
Como a nossa História dos
últimos 115 anos ensina, a menos que estejamos prestes a registrar mais um
episódio “nunca antes visto na História deste país”, a crise econômica deve ser
seguida de uma recuperação mais forte do que a imensa maioria imagina.
Dependendo do ritmo da
transição política, o início desta recuperação econômica pode estar mais
próximo do que se supõe. Porém, nada disso é garantido. O futuro do Brasil
dependerá de como a sociedade vai se posicionar não apenas durante, mas também
passada a tormenta atual. Ele está prenhe de oportunidades que quase ninguém
percebe.
Transformar estas oportunidades
em realidade dependerá de cada um de nós. Desperdiçá-las seria um crime
conosco, com nossos filhos e netos. Este livro é minha tentativa de colaborar,
minimamente que seja, para que estas oportunidades não sejam perdidas.
Inicialmente, há quase um ano,
minha ideia inicial era focar exclusivamente nos desafios e oportunidades que o
futuro nos traz e como individual e coletivamente poderíamos e deveríamos lidar
com eles.
Em busca de subsídios, temas e
questões-chave, resolvi reler as colunas que escrevi ao longo dos últimos seis
anos e os comentários que elas geraram.
Só na internet, deparei-me com
mais de 100 mil comentários e mais de quatro milhões de curtidas. Interesse tão
grande, vindo de brasileiros com perfis muito diversificados — de estudantes e
empresários, de crianças e idosos, de sulistas e nordestinos, de homens e
mulheres, de ricos e pobres, enfim, de brasileiros em geral — mostrou-me que
falar de perspectivas futuras sem explicar como chegamos onde estamos
provavelmente não faria sentido. Percebi ainda que a forma mais justa de julgar
o que se passou e como chegamos a uma crise tão grave é antes expor o que
pensei sobre o que estava acontecendo no Brasil em tempo real, no momento em
que aquelas opções estavam sendo feitas por nossos governantes. Agora, seria
fácil criticar tudo que deu errado, quando os péssimos resultados são
conhecidos de todos. Fácil, mas injusto e covarde. Se pretendo expor como erros
passados dos que conduzem o país nos trouxeram à atual tormenta, nada mais
justo do que começar expondo meus próprios erros de análise quando algumas
destas decisões estavam sendo tomadas, quando for este o caso.
Por exemplo, no primeiro ano do
primeiro mandato do governo Dilma, não percebi a gravidade de alguns dos erros
que já estavam acontecendo e a extensão de suas consequências negativas.
Acreditei que o Brasil, impulsionado por condições externas favoráveis, poderia
sustentar o bom desempenho econômico do período anterior — da chamada Era Lula
— quando muitos enganos também foram cometidos. Só mais tarde fui perceber que
a quantidade e a profundidade deles tinham mudado substancialmente e que suas
consequências também seriam muito diferentes. Também subestimei a extensão dos
tentáculos da corrupção. Todos nós sabíamos que ela sempre existiu, mas quem
imaginava o tamanho do câncer e da metástase?
Por outro lado, encontrei
inúmeros artigos meus alertando, com anos de antecedência, que algumas decisões
do governo criariam problemas graves e outros dizendo, inclusive, que salvo
mudanças de rumo, uma crise muito séria, inclusive com o provável encurtamento
do mandato da presidente Dilma, era inevitável.
No fim, acabei optando por contar
como chegamos onde estamos através dos principais artigos que escrevi desde
2009, atualizando-os, comentando cada um deles e contextualizando-os. Resolvi
começar o livro com uma análise detalhada do período anterior ao governo Dilma
para que fique claro por que o desempenho da economia brasileira ia bem e — de
início gradualmente e depois de forma abrupta — só piorou.
Em síntese, se você gostaria de
saber como chegamos à crise atual, por que é mais fácil sair dela do que parece
e por que cada brasileiro tem de assumir o protagonismo em sua área de atuação
na construção de um país melhor, este livro é para você.
Quais os erros de política
econômica que nos levaram à crise? O que precisa acontecer para que saiamos
dela? Por que tirar o Brasil da crise econômica é mais simples do que parece?
Por que a recuperação econômica, uma vez solucionada a crise política e reequilibradas
as contas públicas, surpreenderá pela força? O que precisa acontecer para que
esta recuperação inicial se sustente? Quais as lições e o legado da crise? Por
que o Brasil está passando por mudanças profundas com o potencial de criar um
país mais rico e justo nas próximas décadas? Para mim, seria muito mais fácil e
seguro responder a estas perguntas daqui a alguns anos, com a clareza que só a
perspectiva histórica traz. Porém, se eu fizesse esta opção e não o estimulasse
a chegar às suas próprias conclusões agora, eu não poderia ajudá-lo a se
preparar e a participar da construção do que vem por aí.
Ricardo Amorim – apresentador do ManhattanConnection da Globonews,
presidente da Ricam Consultoria