A revolução dos hábitos e da alma tem enorme impacto nos
mercados, nas empresas e nas marcas.
Muito
além da intensa revolução tecnológica que transforma o dia a dia, vivemos uma
revolução humana, da alma, dos hábitos.
No mundo de tantas ofertas e supervalorização do dinheiro, as
pessoas redirecionam suas bússolas para o natural e o essencial. Não estamos
comendo pílulas em naves voadoras, como ficções nada científicas projetavam. A
comida do futuro é orgânica. O carro do ano é a bicicleta.
As pessoas estão cada vez mais preocupadas em comer e em dormir
livres de substâncias químicas. Diante de demandas incessantes da rotina
hiperconectada, a solução é desconectar.
Estudos multidisciplinares realizados pelas melhores universida-
des do mundo apontam que a maneira mais eficiente de fazer as tarefas é gastar
menos tempo fazendo tarefas.
Uma série de ações disruptivas --como atividade física e
pequenas sonecas durante a jornada, sono mais prolongado à noite, paradas
momentâneas no trabalho para renovação de ares e pensamentos-- aumenta o
desempenho profissional e a saúde. É o que alguns chamam de renovação
estratégica, exemplificada pelos "nap pods" --casulos para sonecas
instalados em empresas como o Google.
Nós não temos o poder de aumentar as horas do dia para atender
às novas demandas do mundo, mas podemos aumentar a nossa energia. Tanto física
quanto espiritual. Enquanto o nosso tempo é finito, nossa energia é renovável.
Estarei em Nova York no fim de abril para encontro que Arianna
Huffington promove em torno das ideias expostas em seu mais recente livro,
"Thrive: The Third Metric to Redefining Success and Creating a Life of
Well-Being, Wisdom, and Wonder" ("Prospere: a Terceira Medida para
Redefinir Sucesso e Criar uma Vida de Bem-Estar, Sabedoria e
Encantamento", numa tradução livre).
Para Arianna, a noção de sucesso foi reduzida a poder e
dinheiro. Pode funcionar no curto prazo, mas não é sustentável. Para vivermos a
vida, é preciso encontrar essa terceira medida, a da felicidade, que, explica
Arianna, sustenta-se em quatro pilares: bem-estar, sabedoria, encantamento e
benemerência.
As pessoas estão entrando nessa página.
A Califórnia não é apenas o centro de tecnologia do mundo. Se
você for a San Francisco, verá como a alimentação orgânica está tomando a
cidade. Boulder, no Colorado, não é só a base de Jim Collins, o homem de gestão
mais antenado do planeta, mas também a cidade sem glúten, sem lactose.
Existe uma revolução em curso. Ela transforma o ser humano com
ritos de passagem que conheço em primeira mão. Já fui fumante e deixei de
fumar, já fui gordo e desleixado, mas hoje cuido da alimentação e pratico
atividade física --aliás, seguindo o exemplo e o conselho dos grandes líderes
empresariais que conheço.
Sim, é possível mudar. Tudo está mudando.
A revolução dos hábitos e da alma tem enorme impacto nos
mercados, nas empresas e nas marcas. Todos terão que entender e aderir, melhor
cedo do que tarde.
Exemplo emblemático é a Whole Foods, varejista americana que
vende comida orgânica e natural, uma espécie de Apple ou Samsung da comida.
Assim como Steve Jobs mudou nossa forma de consumir tecnologia e
entretenimento, John Mackey, um dos fundadores da Whole Foods, quer mudar a
forma como consumimos comida, rompendo hábitos de alimentação que podem
estimular doenças mortais como câncer e cardiopatias.
Entre os objetivos declarados da Whole Foods em suas mais de 300
lojas espalhadas por EUA, Canadá e Reino Unido, estão: vender produtos
orgânicos e naturais da mais alta qualidade; satisfazer e encantar os clientes;
apoiar a excelência e a satisfação dos funcionários; cuidar das comunidades e
do ambiente; criar parcerias ganha-ganha com todos os "stakeholders".
Seu lema é comida saudável, pessoas saudáveis, planeta saudável.
É nessa linha que o mundo caminha. Como diz o Buda, ninguém pode
nos salvar a não ser nós mesmos.
Nizan Guanaes - publicitário e presidente do
Grupo ABC, colunista FSP.
Fonte:
jornal FSP