Janet Yellen, presidente do Fed (Banco
Central dos EUA)
Há uma década,
as taxas de juros negativas eram apenas uma curiosidade teórica, que os
economistas discutiam quase como uma brincadeira. No entanto, apesar de se
tornarem mais comuns, muitas dúvidas ainda cercam os juros negativos — sob os
quais os depositantes pagam para manter o dinheiro em suas contas bancárias.
Confira as respostas a algumas das dúvidas mais comuns:
Questão:Como os
juros negativos funcionam?
Responda: Depende. Nos casos das metas de juros
estabelecidas por Bancos Centrais como o BCE e o sueco Riksbank, eles impõem
uma taxa negativa para os bancos, que por sua vez a repassam aos seus clientes.
O BCE, por exemplo, tem uma taxa de -0,3% ao ano, o que
significa que, se os bancos guardam dinheiro no Banco Central, precisam pagar
por esse privilégio, ao invés de serem remunerados.
Os bancos têm várias maneiras de transmitir as taxas negativas
para os clientes, muitas vezes descrevendo-as como tarifas bancárias.
Q: Mas as
pessoas não podem simplesmente sacar o dinheiro em vez de pagar para guardá-lo?
R: Deveria
ser, não é? Foi justamente por isso que durante muito tempo os economistas
acharam que os juros negativos eram impossíveis.
Mas parece que, para a maioria, a conveniência de manter o
dinheiro numa conta bancária compensa uma pequena taxa de juros negativa ou
tarifas.
Depois que experiências na Suíça e na Suécia não resultaram em
uma fuga em massa do sistema financeiro, Bancos Centrais maiores voltaram-se
para essa direção. Isso vai parar quando as economias de seus países começarem
a crescer ou quando houver sinais concretos de que os juros negativos estão
fazendo mais mal do que bem.
Q: Como
isso deveria contribuir para a economia?
R: Praticamente
da mesma forma que qualquer corte nas taxas de juros. Juros menores incentivam
o investimento empresarial e o consumo; aumentam o valor de mercado de ações e
outros ativos de risco; diminuem o valor da moeda nacional, tornando os
exportadores mais competitivos; e criam uma expectativa de maior inflação
futura, o que pode induzir as pessoas a gastarem.
Q: Então
funciona?
R: Ainda é
difícil dizer. No mínimo, parece ter o efeito de desvalorizar a moeda, o que
anima os setores exportadores. Não está tão claro se os juros baixos podem
contribuir com um desenvolvimento econômico sustentado, especialmente quando
são levados em conta efeitos colaterais difíceis de calcular.
Q: Quais
são os efeitos colaterais?
R: O
sistema financeiro global foi construído sobre a premissa de juros positivos.
Reduzi-los a menos de zero pode causar danos à própria arquitetura pela qual o
dinheiro e o crédito se propagam na economia, e isso pode inibir o crescimento.
Os bancos poderiam deixar de ser empresas viáveis, eliminando um caminho
fundamental para canalizar o dinheiro dos poupadores para investimentos. Os
fundos mútuos do mercado financeiro poderiam deixar de existir. Seguradoras e
fundos de pensões poderiam enfrentar grandes tensões.
Q: O Fed
(Banco Central dos EUA) vai fazer isso?
R: Janet
Yellen, presidente do Fed, não pensa dessa forma. Porém, ela tampouco descarta
a ideia.
A economia dos EUA, e particularmente seu mercado de trabalho,
parecem estar mais robustos do que os de outros países. Dessa forma, o Fed
prevê elevar os juros neste ano.
Q: O que
pode acontecer se as taxas de juros negativas se tornarem rotineiras?
R: Se essas
políticas se tornarem duradouras, ou se as taxas negativas caíram a índices
muito mais baixos, haveria uma série de potenciais efeitos sobre transações
mais banais.
Será que as pessoas começariam, por exemplo, a pagar a conta da
TV a cabo com anos de antecedência, só para evitar deixar o dinheiro em uma
conta bancária que perde dinheiro? E os impostos sobre imóveis? Será que
empresas e governos adotariam medidas para impedir as pessoas de pagarem suas
contas com tamanha antecedência? Surgiriam novas empresas destinadas a permitir
que as pessoas guardassem dinheiro de forma segura em maços?
“Os juros negativos no Japão está me enlouquecendo”, tuitou Jose
Canseco, ex-jogador de beisebol, que não costuma ser conhecido por suas
reflexões econômicas. E a verdade é que ele não está sozinho.
Neil Irwin –
correspondente senior em economia do NYT
Fonte:
jornal New York Times