Em 1980, cada brasileiro ganhava, em média, 56% mais do que um peruano. Hoje, a diferença é só de 14%. Neste período, todos os ex-presidentes peruanos foram presos, estão foragidos ou se suicidaram para evitar a prisão por crimes de corrupção.
Em 1980, o brasileiro ganhava, em média, 79% mais do que o colombiano. Hoje, a diferença é só de 7%. Neste período, a Colômbia foi abalada por uma duríssima guerra contra o tráfico de drogas e o terrorismo.
Estes dois exemplos deixam claro dois pontos muito importantes. O Brasil não viveu apenas uma década perdida. Há 4 décadas, a economia brasileira patina, com desempenho pior até mesmo que nossos vizinhos latino-americanos. Há duas gerações, somos um país submergente.
Além disso, ao contrário do que acham muitos, corrupção e violência não são os únicos problemas fundamentais brasileiros que, se resolvidos, garantirão o sucesso do país. Enfrentá-los, obviamente, é fundamental, mas sem encarar também outros problemas ao menos tão graves quanto, o futuro dos brasileiros não vai mudar significativamente. Países com problemas de corrupção e violência tão graves ou piores que o Brasil tiveram desempenho econômico bem melhor do que o nosso. Fica claro que há outras áreas também muito importantes e que eles têm se saído muito melhor do que nós.
Sem reverter a incompetência na gestão da economia – que frequentemente privilegia regulamentações que o povo acha que o ajuda, mas na realidade o empobrece ao longo do tempo, como a recente suspensão do reajuste dos combustíveis – e combater privilégios dos que se apropriaram do Estado em benefício próprio – como todos que recebem benefícios previdenciários muito maiores do que as contribuições conseguem bancar – o Brasil continuará condenado ao subdesenvolvimento e os brasileiros a suas consequências.
Sem reduzirmos substancialmente o tamanho do Estado e seu peso sobre o setor privado e melhorarmos substancialmente nossa educação básica, em breve, nós brasileiros ficaremos para trás de praticamente todos nossos primos latino-americanos em termos de renda per capita. Chilenos, uruguaios, mexicanos e argentinos já ganham mais do que nós. Colombianos e peruanos devem nos ultrapassar nos próximos anos, paraguaios e equatorianos na próxima década e até bolivianos na década seguinte, mantidas as tendências das últimas décadas.
Inveja da Bolívia?! É este o futuro que queremos para nossos filhos e netos?
Ricardo Amorim - autor do bestseller Depois da Tempestade, apresentador do Manhattan Connection da Globonews,