O efeito Tiririca no petróleo
Preços do óleo
tipo Brent caíram mais de 3%, ficando na casa dos US$ 87.
Quando o Irã, sétimo maior produtor de petróleo do mundo, decidiu lançar drones
e mísseis contra Israel, no último dia 13, os indicadores de insegurança
econômica global soaram alto.
Além de todo o drama humanitário da guerra
envolvendo palestinos e israelenses, seus efeitos econômicos se capilarizaram
ainda mais com a nova movimentação.
Chamou a atenção, entretanto, que, nos dias que
sucederam o ataque, os gráficos mostraram os preços do petróleo caindo.
Na
semana, os preços do óleo tipo Brent caíram mais de 3%, ficando na casa dos US$ 87 na sexta-feira (19).
Em condições normais de temperatura e pressão,
quando um grande produtor embarca em um conflito armado, a oferta de seu
produto tende a diminuir. E, como rezam os manuais, a redução da oferta leva à
alta dos preços.
A reação tão diferente da lógica cartesiana no caso
do petróleo se explica no que foi o bordão do palhaço Tiririca, quando se
elegeu deputado federal em 2010: "Pior do que tá, não fica".
Explico:
Vale lembrar que o mercado financeiro se move por expectativas. Nesse caso, a
atuação do Irã na guerra do Oriente Médio era dada como certa há tempos.
E na
primeira semana de abril, quando Israel bombardeou a embaixada do Irã na Síria,
o preço do petróleo subiu mais de 4%, com a perspectiva da retaliação.
Então,
quando a ofensiva iraniana foi realmente levada a cabo, ficou mais fácil de
enxergar os desdobramentos reais da escalada do conflito.
Para os experts do
mercado, ficou claro que o escoamento do petróleo não será tão impactado quanto
se imaginava no começo do mês.
A
movimentação até fez analistas do Goldman Sachs aumentarem o preço previsto
para o petróleo no fim do ano. Ainda assim, para eles, o barril encerrará 2024
negociado a US$ 86 —abaixo do patamar atual.
O
que pode parecer um certo "alívio" em relação ao preço do petróleo
não reflete tranquilidade no cenário econômico mundial.
A commodity tem sua
precificação intimamente ligada às perspectivas de produção e circulação. Isso
é bem diferente de ativos como ações e moedas, cujos preços estão mais
atrelados aos interesses dos grandes investidores e ao fluxo do dinheiro.
O
aumento da temperatura no Oriente Médio, a guerra em curso na Ucrânia e as
incertezas sobre a economia dos Estados Unidos —especialmente em ano de eleição
presidencial— têm levado os grandes investidores globais a discordar do bordão
do palhaço/deputado Tiririca no contexto do mercado financeiro.
O exemplo máximo disso é o ouro, cujo preço atingiu seu pico
histórico nesta semana. Considerado um porto seguro contra crises, o metal só
tem altas significativas quando os grandes players estão com medo do que o
futuro reserva.
Olhando a reação dos gigantes à última semana, é melhor apertar
os cintos e se preparar para mais turbulência.
MARCOS DE VASCONCELLOS - jornalista, assessor de
investimentos e fundador do Monitor do Mercado