Mulheres têm
maior ganho em longevidade com exercícios do que os homens, mostra estudo.
Quer se trate de atividades
vigorosas ou de fortalecimento muscular, as mulheres podem obter grandes
benefícios em longevidade fazendo cerca de metade dos exercícios que os homens
É fato bem estabelecido que
os exercícios físicos podem ajudar você a viver uma vida
mais longa e saudável. Agora, um novo estudo sugere que as mulheres talvez
precisem de menos exercícios para obter benefícios de longevidade semelhantes
aos dos homens.
A descoberta é surpreendente
porque as diretrizes de atividade física para adultos americanos são as mesmas
para homens e mulheres.
Mas, em parte devido às diferenças de
tamanho, massa muscular e massa corporal magra, parece que as
mulheres podem obter grandes ganhos em longevidade fazendo cerca de metade dos exercícios que os homens precisam
fazer para ter o mesmo benefício.
Os fatos
- Para os homens, o máximo “benefício de sobrevivência” vem
com 300 minutos de exercício moderado a vigoroso
por semana. Com essa carga de exercícios, os homens tiveram um risco geral
de morte 18% menor do que os
homens sedentários.
- As mulheres só precisam fazer exercícios
durante 140 minutos por semana
para reduzir o risco de mortalidade em 18%. Quando as
mulheres se exercitaram 300 minutos por semana, elas reduziram o risco
em 24%.
- Os homens obtiveram os
maiores benefícios fazendo três sessões de atividade de fortalecimento muscular por semana. As
mulheres tiveram benefícios equivalentes com uma única sessão por semana.
- Nos Estados Unidos, apenas
cerca de um quarto dos adultos cumprem as diretrizes de atividade física
recomendadas: pelo menos 150 a 300 minutos de exercício aeróbico de
intensidade moderada e dois treinos de fortalecimento muscular por semana.
Os homens são mais propensos do que as mulheres a cumprir as recomendações
em todas as faixas etárias.
“Fazer atividade física é
importante e parece influenciar a saúde geral”, diz Martha Gulati, diretora de
cardiologia preventiva do Instituto Smidt Heart do Centro Médico Cedars-Sinai e
coautora do estudo, que foi publicado no Journal of the American College
of Cardiology.
“Mas pequenas quantidades de exercício já podem
trazer benefícios e, na verdade, para as mulheres, quantidades menores podem
trazer ainda mais benefícios do que para os homens”.
Para fazer o novo estudo, os
pesquisadores analisaram mais de 400 mil adultos norte-americanos que responderam a
questionários sobre atividades físicas de 1997 a 2017. Os cientistas em seguida
compararam esses dados com registos de óbitos.
Durante o período
de acompanhamento ocorreram quase 40 mil mortes por todas as causas, entre elas
aproximadamente 12 mil mortes por problemas cardiovasculares.
Mas, ao observar
as diferenças entre homens e mulheres, ficou claro que as mulheres obtiveram maiores
benefícios de longevidade com os exercícios físicos.
A explicação pode estar na fisiologia, dizem os especialistas.
“Os homens
precisam de mais exercícios, em parte devido ao fato de terem maior massa
muscular e mais massa corporal magra”, disse Gulati.
“E assim, quando eles se
exercitam, o benefício para todo o corpo, incluindo os músculos, exige uma
duração maior”.
Gulati acrescentou
que os homens têm, em média, coração e fibras musculares proporcionalmente
maiores do que as mulheres, mas que as mulheres têm maior densidade de
capilares por unidade de músculo esquelético.
“Elas aumentam o
fluxo sanguíneo mais cedo do que os homens com menos exercícios”, disse ela.
Mercedes
Carnethon, professora e vice-diretora de medicina preventiva da Faculdade de
Medicina Feinberg da Northwestern University, concorda que as diferenças
fisiológicas entre os sexos podem explicar as descobertas. Ela não participou
do novo estudo.
“Homens e mulheres têm diferenças estruturais no coração, e o coração
masculino tende a ser um pouco mais eficiente”, disse Carnethon. “As diferenças
estão, essencialmente, no potencial para entrar em forma”.
Gulati espera que as conclusões
do estudo possam ajudar a acabar com a “disparidade de gênero” nos
exercícios, motivando as mulheres a
praticarem atividades físicas regulares no tempo livre.
De acordo com o Centro
Nacional de Estatísticas de Saúde, 28,3% dos homens cumprem as diretrizes
nacionais sobre exercícios, em comparação com apenas 20,4% das mulheres.
“Sempre que alguém
dá orientações idênticas para homens e mulheres, pelo menos como médica e como
alguém que estuda as diferenças entre os sexos, meu sinal de alerta sempre
acende”, disse ela.
“Sempre pergunto: ‘Você está se baseando no quê? Como os
exercícios podem ser os mesmos para homens e mulheres?’”.
O que estão
dizendo sobre o estudo
Ulrik Wisløff,
chefe do Grupo de Pesquisa de Exercício Cardíaco da Universidade Norueguesa de
Ciência e Tecnologia em Trondheim, diz que os dados do novo estudo “se encaixam
perfeitamente” com o que ele observou em suas pesquisas, as quais revelaram que
as mulheres precisam de menos exercícios do que os homens para obter proteção
contra doenças e morte prematura relacionadas ao estilo de vida.
Embora os
benefícios da atividade física para a longevidade em homens e mulheres sejam
mais semelhantes com uma baixa quantidade de exercícios, as diferenças entre os
sexos emergem com doses mais elevadas, dizem os autores do novo estudo.
Um estudo taiwanês
de 2011 com 416.175 indivíduos – 199.265 homens e 216.910 mulheres – descobriu
que ambos os sexos tinham uma redução de 14% no risco de mortalidade por todas
as causas e três anos a mais de expectativa de vida com apenas 15 minutos de atividade
moderada por dia, ou cerca de 90 minutos por semana, em comparação com as
pessoas sedentárias.
Mas uma
meta-análise de 33 estudos publicada em 2011 observou que o risco relativo de
doença coronária era aproximadamente uma vez e meia a duas vezes menor para as
mulheres que cumpriam as diretrizes básicas de exercício em comparação com os
homens com níveis semelhantes de atividade física.
Limitações da pesquisa
Uma limitação
importante do estudo é que a atividade física dos participantes não foi
monitorada e, portanto, os pesquisadores não puderam confirmar os dados
autorrelatados. A pesquisa também considerou apenas a atividade física no tempo
livre.
“O estudo não
incluiu as atividades que fazemos no dia a dia, como ir a pé ao trabalho, andar
até o carro, fazer jardinagem, limpar a casa, correr atrás dos filhos, essas
coisas todas não foram contabilizadas”, disse Gulati.
As diferenças na
expectativa de vida entre homens e mulheres “não explicam os achados”, nota
Keith C. Ferdinand, diretor de cardiologia preventiva na Escola de Medicina da
Universidade de Tulane, que não participou do estudo. “Não é simplesmente
porque as mulheres vivem mais”.
Gulati não acredita que as
descobertas do estudo venham a alterar as diretrizes de atividade física, mas
espera que incentivem os pesquisadores a analisar mais detalhadamente os dados
para que os especialistas possam compreender melhor o que prescrever aos
pacientes. “Acho que a mensagem para as pessoas é: um pouco de atividade física
já ajuda muito”, disse ela.
TRADUÇÃO DE RENATO
PRELORENTZOU
Fonte: Estadão