Pesquisa da CNI aponta que as empresas têm dificuldade em
encontrar mão de qualificada em todos os níveis, mas nos cargos de produção
essa é barreira é maior.
O
setor industrial brasileiro enfrenta um paradoxo.
Num país com 11,6 milhões de desempregados, metade
das fábricas do país diz ter dificuldade para encontrar mão de obra
qualificada. Os dados integram um estudo da Confederação Nacional da Indústria
(CNI) divulgado nesta terça-feira (11).
Em
2011 e 2013, quando um levantamento similar foi realizado, 66% das empresas do
setor industrial reclamavam de falta de trabalhadores qualificados.
"O dado da falta de mão de obra chama muito a
atenção com esse nível de desemprego e com uma indústria patinando que não
encontra um caminho de crescimento", afirma o gerente-executivo de
Pesquisa e Competitividade da CNI, Renato da Fonseca
A
redução na fatia das fábricas que diz não encontrar mão de obra qualificada de
2011 para cá é explicada pela crise econômica, segundo a CNI. Com a recessão em
2015 e 2016 e a lenta da economia nos anos seguintes, muitas indústrias
reduziram o quadro de funcionários e deixaram de contratar.
"Quando a economia voltar a crescer, a falta de mão
de obra qualificada vai dificultar essa retomada. Vai dificultar a inovação
dentro das empresas e ter um impacto na competitividade do setor, que já não é
alta", afirma Fonseca.
A
pesquisa da CNI ainda apontou que as empresas têm dificuldade em encontrar mão
de qualificada em todos os níveis, mas nos cargos de produção essa é barreira é
maior.
Pelo
levantamento, 96% das empresas reportaram dificuldade em contratar operadores
qualificados, e 90% disseram que o maior desafio está em encontrar técnicos
capacitados.
Na leitura da CNI, são dois os fatores que
colaboram para um quadro tão ruim. Primeiro, o Brasil tem um nível educacional
muito ruim. Em dezembro, o último resultado do Programa Internacional de
Avaliação de Estudantes (Pisa, na sigla em inglês) mostrou que o país caiu no ranking mundial deeducação em matemática e ciências e ficou estagnado em leitura. Segundo, a formação do Ensino
Médio é considerada bastante generalista.
"Há
um problema de qualidade e foco na educação, diz Fonseca. "A reforma do
Ensino Médio pode ajudar porque abre o caminho para uma educação
profissional."
Em
2017, o então presidente Michel Temer sancionou a chamadareforma do Ensino Médio. A reforma flexibilizou o conteúdo que é
ensinado aos alunos e deu mais importância ao ensino técnico.
Capacitação própria é a saída
Para
lidar com a falta de mão de obra qualificada, 85% das empresas realizam
capacitação na própria empresa e 42% oferecem algum tipo de treinamento fora da
empresa, segundo a CNI.
"Um
trabalhador pouco produtivo não aparece diretamente na planilha de custos, mas
significa que o produto sai mais caro e a empresa perde competitividade",
diz Fonseca.