Quem
tem voz tem que falar, cantar, pregar e animar.
Caetano está ensaiando canções natalinas para
a sua live de Natal oferecida pela N.Ideias, e eu vou chorar (foi sábado 19/12/20).
Aliás, todos nós
precisamos chorar. E cada um de nós neste Natal 2020 tem um motivo.
Pessoas que vão ter pessoas faltando à mesa.
Uma amiga terá dois lugares vazios (perdeu pai e mãe na
pandemia).
Outros perderam a empresa. Outros, o emprego.
Outros,
como a minha amiga Lícia Fábio, na Bahia, estão há quase nove meses trancados
sozinhos e talvez assim passem o Natal também.
Estamos todos no limite,
exaustos. Minha esperança está exausta. Mas eu sou um privilegiado e não devo
reclamar.
Eu chamo Luiza Trajano de Luizas Trajanos porque
ela deve ser várias. Podia viver no bem-bom.
Optou por cuidar do bom e fazer o
bem. Lá está ela na live da diversidade, na live da mulher, na live daquela
causa, daquela outra.
Quando eu canso, eu olho pra ela. Pra ela, pro Edu
Lyra, pro Drauzio Varella, pra Geyze Diniz.
E percebo
que eu não tenho direito de cansar. De chorar, sim. De parar, não.
Quando eu tive Covid, ainda em março, no comecinho
da pandemia, eu fiquei trancado 20 dias no meu quarto. Nunca fiquei tanto
comigo.
E fiz um pacto comigo mesmo de, mais do que nunca, ajudar e contribuir.
Fiz lives, palestras, criei campanhas educativas, doei e doei-me.
Pensar nos outros é um impositivo social e humanista. E é também
uma grande meditação, porque você esquece de si.
Lancei em junho uma campanha chamada Vai Ter Natal, incentivando
as pessoas a montarem suas árvores de Natal e, assim, tirarem seus olhos do dia
a dia tão difícil e incerto e colocarem a vista num ponto focal de esperança.
Nesses momentos, todos nós precisamos ser
estadistas. “Não tenho nada a oferecer a vocês a não ser sangue, suor e
lágrimas”, disse Winston Churchill aos britânicos diante da luta contra os
nazistas na Segunda Guerra.
A compaixão e a força de vontade, juntas, vencem os
piores inimigos.
Esse festival de horrores trouxe a morte para a sala de
jantar. E a morte dá limite aos homens, prova que não somos
deuses. Ela se sentou a meu lado quando estive no meu quarto trancado, com a
comida colocada à porta.
O vírus me aprisionou e me levou a fazer uma
revisão dos meus 62 anos, o que eu fiz deles e o que devo fazer dos meus
próximos anos.
Não saí do meu quarto santo, mas acho que saí mais
humano.
Pensar em todos é a melhor maneira de pensar em si. Pensar nos outros é
a melhor forma de egoísmo.
Este isolamento social mostrou a todos nós que a
alegria é o outro.
Que mesmo para os mais ricos dos homens, trancados em seus
castelos, as coisas de que sentimos mais falta são de graça ou da graça.
Os outros são vida. Os outros são saúde mental. As
lives explodiram pela necessidade do ser humano de conversar.
Uma vez me
perguntaram: o que você levaria para uma ilha deserta? Eu respondi na lata:
gente!
Como diz o grande Hemingway, nenhum homem é uma
ilha. A pandemia provou isso mais uma vez.
Este mundo desatento com as mudanças climáticas é
um Titanic que julgamos inafundável rumando para um iceberg. Por isso quem tem
voz tem que falar, cantar, pregar e animar. Ninguém pode largar a mão de
ninguém.
Exausto, mais gordo, mais humano, sou um Papai Noel
sem saco dando a você, meu país, o melhor presente que posso.
Que ele nos faça
chorar e dê de beber à nossa esperança. Porque enquanto não tivermos a vacina,
ela é tudo o que temos.
No sábado (dia 19 de dezembro, às 21h) no canal
do YouTube de Caetano, teve Natal.
Um Natal feliz e seguro a você, meu querido leitor.
Nizan
Guanaes - empreendedor, criador da N Ideias.
Fonte:
coluna jornal FSP