Especialista ensina às crianças como funcionam os
bancos e cartões
Educadora
financeira fala de inflação e Bolsa de Valores, e explica como o dinheiro
circula quando compramos algo
No Brasil, todo mundo que tem menos de 16 anos
depende bastante dos responsáveis para ter contato com um banco e os produtos
que ele oferece, como cartões de débito e crédito.
Mas, ainda assim, em algumas
famílias é comum que já desde pequenas as crianças comecem a conhecer melhor o
dinheiro e as formas de usá-lo.
Tem quem receba mesada ou semanada, por
exemplo, que é quando uma vez a cada mês ou semana os adultos dão uma quantia
previamente combinada em espécie (ou seja, notas e moedas) para que os filhos
usem como quiserem.
E o dinheiro pode fazer parte da vida das crianças
não só comprando coisas, mas também vendendo —já pensou que aquele brinquedo que você não usa mais pode render uma
graninha em um site de produtos usados?
Tudo isso ajuda a entender uma parte fundamental da
vida de todo mundo que já cresceu. E, quanto mais se sabe sobre esse universo
da economia e das finanças, mais fácil fica cuidar do dinheiro e poupar para
que ele nunca falte.
Vamos saber tudo sobre cartões de crédito e débito
O cartão de crédito é como se fosse um empréstimo. Você quer
comprar alguma coisa, pega um dinheiro emprestado no banco e depois vai
precisar devolver esse valor que utilizar.
Por isso, não pode comprar tudo que
quiser no cartão de crédito se depois não tiver como pagar por essas coisas. O
cartão não é um dinheiro que a gente está ganhando, é preciso usá-lo com
bastante cuidado.
Um tempo depois de feita a compra no cartão, chega a fatura, que
é o documento onde constam todos os valores que têm que ser pagos.
Se não
pagar, o banco vai cobrar juros, que são uma taxa por esse atraso. Quanto mais
atrasar o pagamento, mais o juro vai aumentar. Assim, isso vai virar uma
dívida.
A pessoa não é presa por ter uma dívida, mas o nome dela vai entrar em
um sistema que diz que ela é má pagadora, e ela não vai poder comprar mais nada
enquanto não resolver o problema.
Quando uma loja oferece que o cliente compre algo e pague em
duas, três, dez vezes, significa que ele vai fazer a compra, mas não vai
pagá-la inteira agora, e sim um pouco a cada mês.
Por exemplo, se sua compra
for de R$ 100 e a loja oferece fazer em dez vezes, você vai pagar R$ 10 todo
mês, por dez meses. É uma forma de facilitar a compra. Você vai pagar o valor
total dela, mas aos pouquinhos.
Já o cartão de débito funciona como o WhatsApp, ou na internet,
por exemplo: a gente manda mensagem para alguém do outro lado do Brasil e a
pessoa recebe na hora.
Pois quando passamos o cartão de débito, vão conferir se
temos o dinheiro na conta para liberar a compra —se não tiver, a compra não é
liberada. Não é uma pessoinha que faz isso, é um sistema de computadores, de
tecnologia.
Para que servem os cheques?
Pouco usado hoje em dia, o cheque é uma folha de papel que vem
em um bloquinho chamado talão. Ele é como um vale, funciona como uma
autorização.
Você autoriza alguém a tirar dinheiro da sua conta, e não do banco
inteiro. Por isso não podemos escrever um valor no cheque se não tivermos o
mesmo valor na conta. Q
uando fazemos isso, a pessoa que recebeu o cheque vai
ficar sem o dinheiro e vai voltar para cobrar. Ela pode até processar o dono do
cheque.
Como funcionam os bancos?
Quando a gente coloca dinheiro no banco, ele registra em um
computador o número da nossa conta e quanto a gente tem de dinheiro.
O que é
entregue para o gerente vai para o cofre do banco, e nosso dinheiro se reúne
com o dinheiro que todo mundo depositou. Para um funcionário do banco ter
acesso aos dados de alguém, é preciso que essa pessoa esteja por perto, eles
não podem mexer sem autorização.
O banco trabalha com vários dados de
segurança. Inclusive, é exigido de todos os funcionários que não compartilhem
com ninguém os dados das contas dos clientes. Isso se chama sigilo, que é como
guardar um segredo. Quem não faz isso pode até ser demitido.
Como é que o dinheiro da poupança aumenta ?
Quando a gente coloca dinheiro na poupança, a gente empresta
esse dinheiro para o banco fazer vários projetos dele.
Na hora em que é feito o
contrato da poupança, é definido como esse dinheiro vai render, ou seja, como
ele vai se multiplicar, com base em qual regra.
Neste caso da poupança, todos
os bancos do Brasil inteiro usam a regra que vale para todo mundo, que é a taxa
básica da economia, chamada Selic. Ela vai dizer quanto custa pegar um empréstimo
e quanto custa deixar dinheiro guardado, por exemplo.
Que bolsa é essa que tanto cai e sobe no noticiário?
A Bolsa de Valores é um lugar que reúne as empresas que estão
negociando as suas cotas, que são os pedacinhos que várias pessoas têm dessa
empresa.
Uma empresa que está na Bolsa está com suas cotas abertas para
negociações. Lá na Bolsa ficam as pessoas que estão negociando os pedacinhos
dessas empresas, atendendo quem quer comprar e quem quer vender.
O que é o Banco Central ?
Quando falamos de "instituições bancárias", tem aquele
banco na esquina de casa, que tem vários outros iguais a ele na cidade.
O Banco
Central é o maior banco da economia, é onde se gerencia a economia do Brasil.
Ele tem a função de organizar todas as instituições, de garantir que tudo
esteja correndo bem. É o local que reúne todas as reservas do governo.
Nós não
podemos ter conta lá, só nos bancos como o da esquina de casa. Só o governo
pode ter conta no Banco Central. E cada país tem o seu banco central para
cuidar das suas finanças.
O que é inflação?
Inflação é o aumento de preços. Sabe quando aquele docinho da
padaria que a gente comprava por R$ 2 e agora custa R$ 5, e todos os docinhos
de todas as padarias também estão subindo?
É porque o problema não é aquele
docinho específico.
A inflação é um aumento contínuo e generalizado dos preços.
Não foi só aquela padaria que aumentou o docinho, todas as padarias aumentaram.
Para pagar a dívida de um país, não basta imprimir mais dinheiro
?
Um país não pode simplesmente imprimir mais notas de dinheiro
para resolver o problema das suas dívidas. Tem uma lei básica da economia que
fala de oferta e demanda, ou seja, sobre as pessoas que estão oferecendo algo e
pessoas que querem consumir esse algo.
Quando o assunto é dinheiro, se tem muito,
ele acaba perdendo o valor. Se um país gerar dinheiro e não tiver demanda de
pessoas consumindo, vai haver inflação a ponto de o dinheiro acabar não valendo
mais nada.
Quando um país esta endividado, se ele imprimir a própria moeda, ela
vai valer menos ainda, e não vai dar para cobrir a dívida.
MARCELLA FRANCO – jornalista FP