App Tsunami D funciona como
plataforma anônima para manifestações
Há
uma nova onda de protestos se propagando pelo mundo. Junto com ela há uma evolução nas tecnologias usadas para coordenar
ou provocar manifestações. Assim como a primavera árabe esteve intimamente
ligada à emergência das redes sociais, os movimentos recentes estão usando
novas tecnologias para colocar em prática táticas cada vez mais sofisticadas.
Um
exemplo é o aplicativo Tsunami Democràtic, surgido na Catalunha. Primeiro,
vale observar seus efeitos. Graças ao aplicativo, os manifestantes conseguiram
o impensável: ocuparam o aeroporto El Prat, de Barcelona, com 10 mil pessoas.
Várias
publicações chamaram o evento de “o protesto mais disruptivo da história do
país”, resultando no cancelamento de mais de cem vôos e provocando o que o
jornal El País chamou de “caos aéreo” em uma das principais cidades turísticas
da Europa.
Manifestantes usam o aplicativo 'Tsunami Democratic'
para se informar sobre protestos em Barcelona
Toda
ação foi organizada online, de forma anônima.
Aliás,
o próprio movimento “Tsunami Democràtic” é uma novidade. Ele apareceu nos
últimos dias na internet, ao lado de movimentos separatistas tradicionais como
a Assembleia Nacional Catalã (ANC).
Até
agora sua filiação política não foi estabelecida. Há quem diga que grupo foi
criado pelos antigos membros do governo catalão que saíram do país após o
último referendo.
Mas
há também quem diga que o grupo é uma operação pequena de alguns poucos
programadores ativistas, que conseguiram gerar um efeito massivo.
O
que faz o app Tsunami D? Ele consiste em um aplicativo de código aberto (open
source) lançado no dia 14 de outubro. Em poucos dias mais de 300 mil pessoas
baixaram o app. Ele funciona como uma plataforma de comunicação anônima para
organização de protestos baseada em “células”.
Para
entrar no aplicativo é necessário receber um código QR de alguém que já esteja
dentro dele. Quando o aplicativo é baixado, ele mostra outras pessoas que estão
próximas na mesma região geográfica.
A
partir daí há diversas estratégias para coordenar as diferentes células, que
podem ser chamadas a executar ações em conjunto ou separadamente. Se um celular
é apreendido, as únicas informações disponíveis serão relativas àquela única
célula.
O
resultado do aplicativo tem sido explosivo. O Tsunami Democràtic conseguiu, em
poucos dias, 200 mil seguidores no Twitter, 162 mil no Instagram e 375 mil no
Telegram.
Em
outras palavras, o grupo tornou-se rapidamente uma plataforma completa de mídia,
além de uma central de comando para ações de protesto.
A
reação a isso veio forte. O endereço da página web do grupo foi derrubado e
operadoras de telecomunicação têm bloqueado o grupo.
O
app em si nem sequer entrou nas lojas da Apple ou do Google.
Seus
criadores optaram por oferecê-lo diretamente pela página do grupo (o que exige
alguns passos adicionais por parte do usuário para instalá-lo).
Diante
de tudo isso, vale sempre lembrar de Marshall Mcluhan: mudanças de mídia
condicionam diretamente a realidade. As tecnologias de protesto estão evoluindo
de forma constante. Os resultados estão atualmente em exibição nas ruas dos
mais diversos países para quem quiser conferir.
Ronaldo Lemos - advogado, diretor do Instituto de Tecnologia e
Sociedade do Rio de Janeiro.
Fonte: coluna jornal FSP