As
investigações envolvendo a Petrobras podem ser o ponto de partida para uma
inovação absolutamente radical no ambiente de negócios do País como um todo, de
alcance e impacto tão grandes ou maiores do que a internet.
Já estamos acostumados a
inovações em produtos e serviços que podem mudar nossa vida várias vezes no
mesmo ano, pequenas mudanças, aqui e ali, na forma de criar e usar mídia por
exemplo, a troca do SMS pelo WhatsApp e similares. Nos últimos 20 anos, duas
inovações sistêmicas nos modificaram radicalmente: a internet e a telefonia
móvel.
Para avaliar a dimensão dessas
mudanças, pense em como você trabalharia e, de resto, viveria sem elas hoje.
Mas, se inovação muitas vezes
se faz com (e sobre uma base de) tecnologia, as inovações de grande impacto são
sempre muito mais do que isso.
A internet e a mobilidade das
comunicações no Brasil são o que são, mesmo com todos os problemas que têm,
porque houve inovações radicais no ambiente de negócios: a combinação da quebra
de monopólio estatal com a privatização das operadoras, o estabelecimento de um
regime de competição e a definição do acesso à internet como um serviço de
valor agregado e fora do regime regulatório ao qual as teles estavam sujeitas.
As inovações no ambiente de
negócios são sempre fundamentais para mudar os patamares de qualidade, performance
e muitos outros, em qualquer mercado.
Mas não são feitos simples:
exigem políticas, estratégias, foco, energia e investimento continuado, por
muito tempo, de muitos atores. São grandes partos sociais e seus frutos, ao
nascer, exigem muitos cuidados. Há meses o Brasil vive o que pode ser o ponto
de partida para uma inovação absolutamente radical no ambiente de negócios do
País como um todo, de alcance e impacto tão grandes ou maiores do que a
internet.
Uma investigação sobre a
maneira de fazer negócios do que era a maior empresa do Brasil em valor de
mercado está descortinando práticas que correspondem à institucionalização da
corrupção, articulada como grande rede, na forma de contratar e remunerar em
todos os setores de atividade.
E há evidências preliminares de
que os fios que tecem essa malha, caso seguidos com afinco, levarão a outras
redes que têm problemas tão graves quanto, em outros negócios em que o Estado
detém a gestão.
A inovação, claro, não está na
investigação, apesar de seus agentes estarem usando técnicas inovadoras de
rastreamento de transações, comunicação e processamento de grandes volumes de
informação, que expõem as entranhas de um dos maiores casos de corrupção do
planeta.
A inovação que todos (ou quase
todos) esperam que aconteça agora é no macroambiente de negócios no Brasil.
Trata-se de um novo conjunto de regras do jogo, válidas para todos, de todos os
tamanhos e em todos os setores, que leve à competição limpa e transparente
pelos contratos públicos e privados.
Que exija a execução e a
entrega do que foi licitado, de acordo com os parâmetros contratados, seguidas
do pagamento correspondente, sem qualquer atropelo.
Parece simples, até óbvio,
inclusive porque já é lei, que deveria estar sendo cumprida, mas não está,
quase nunca esteve.
A sequência de investigações e
julgamentos de casos de corrupção que devem durar pelo resto da década no
Brasil bem que poderia levar a um país mais transparente (e mais limpo e justo,
por isso) e com menores custos de transação, pela diminuição significativa da
corrupção e, por conseguinte, a um país mais competitivo. "Pelo
resto da década, investigações de corrupção mudarão a cena”
· Silvio Meira -
Cientista-chefe do C.E.S.A.R, presidente do conselho de administração do Porto
Digital e professor titular de engenharia de software da Universidade Federal
de Pernambuco.
Fonte: Revista HSM /
Tecnologia e Inovação