“O maior desafio para o gerenciamento da mudança
não é representado pela estratégia, cultura ou estrutura, mas pela mudança de
comportamento.” John P. Kotter
1) A resiliência é uma competência da moda?
Não, a Resiliência é uma competência essencial pois corresponde à uma
exigência de mercado que se transforma intensa e continuamente. Um
artefato na moda dura um ou dois anos. Nós estamos falando de uma
tendência. As transformações de mercado, do consumidor, da tecnologia e do
conhecimento serão cada vez mais complexas e intensas. Nos próximos 10
anos nós vamos duplicar, triplicar a velocidade de conhecimento. Não
trata-se somente de ter resiliência para enfrentar uma crise. Trata-se de
ter Resiliência para produzir e surfar nas ondas de transformação que
ainda virão. O ideal não é ver a Resiliência só como uma competência, mas
como um fenômeno de excelência que produz transformação. Que se renova e
se funde com o novo, constantemente, para produzir Valor.
2) Ser resiliente é ter a capacidade de ser flexível a pressões?
Qual a melhor definição para essa competência? É possível dar algum
exemplo?
Infelizmente, aqui no Brasil, o que veicula é a Resiliência que vem da
Física. Quem não conhece o termo vai no dicionário e lê
"característica mecânica que define a resistência de materiais"
ou "Propriedade de um corpo de recuperar a sua forma original após
sofrer choque ou deformação.". A maioria das pessoas transpõe o
sentido material, físico do conceito para o ser humano. E resolvem dizer
que um profissional resiliente é aquele que aguenta pressão, que suporta
adversidades. Dizem que o profissional tem que ser igual a ponte,
elástico, silicone e por aí vai. Isso é uma versão incompleta da
Resiliência, pois trata o ser humano como um objeto, como um efeito de uma
circunstância.
Nós utilizamos uma versão mais completa e proativa, que provém da
etmologia da palavra Resiliência (latim "Resilie ou Resalie").
"Silie" significa Saltar, "impulsionar para". O
prefixo Re, significa novamente. De renovar, reunião, reencontro. Nesse
sentido, o ser Resiliente é aquele que está saltando continuamente, se
renovando continuamente, transformando continuamente. É um ser
impulsionado por um propósito maior, proativo e que constrói realidades.
Totalmente diferente de um ser que é objeto, que é o efeito passivo de uma
adversidade ou crise. No livro "Resiliência: a transformação como
ferramenta para construir empresas de valor" (Editora Gente - 2008)
nós definimos a Resiliência como a capacidade de uma empresa, Líder,
equipe ou Talento de promover as transformações necessárias para alcançar
o seu propósito. Sua capacidade de prever, projetar e antecipar
possibilita exercer proatividade em vez de simplesmente reagir aos efeitos
das circunstâncias
3) A importância da resiliência no mundo corporativo vem crescendo?
Por que?
Sim, porque o mundo corporativo percebe que apenas trabalhar no curto
prazo com foco em geração de caixa não gera sustentabilidade
organizacional. Para ser sustentável precisa construir valor a longo prazo
(Construir Marca, Reputação, Conhecimento, Responsabilidade Social e
Ambientes, Inovação, Governança Corporativa, reter e desenvolver Talentos,
ter Credibilidade e confiança de seus clientes) Se quiser ser sustentável,
precisa manifestar três fortes capacidades:
1 - Produzir entregas de alto valor agregado; 2 - Construir uma gestão
coerente, meritocrática e baseada em alta performance; 3 - Ser capaz de
produzir transformações constantes no seu conhecimento, performance e
cultura, afim de poder manter-se atualizada e conectada com todas as
mudanças de desejo e significado de seus diversos clientes.
4) O profissional resiliente se diferencia e tem um lugar de
destaque no mercado de trabalho?
Sim. A PwC lançou uma pesquisa global em 2008 sobre as competências mais
importantes para um executivo de alta performance. As quatro primeiras
são: 1 - Capacidade de se ajustar-se rapidamente às mudanças internas e
externas - resiliência; 2 - Liderar e desenvolver talentos; 3 - Espírito
Colaborativo; 4 - Criatividade e Inovação. Haverá sempre um diferencial
para profissionais resilientes que crescem nas mudanças, que projetam, que
se antecipam às situações e produz coerência estratégica para sua equipe e
clientes. O profissional Resiliente, que é proativo, positivo, organizado,
focado e flexível é e será cada vez mais um profissional desejado e
valorizado pelo mercado.
5) Atualmente é possível encontrar muitos profissionais com esse
perfil?
Conceitualmente, todos temos a potência da Resiliência, mas pouco de nós
realmente a manifestamos em momentos de mudança e adversidade. Na verdade,
as pesquisas apontam que somente 10 a 20% são naturalmente resilientes. O
importante é saber que é completamente possível um profissional treinar e
aprimorar sua Resiliência, desde que haja real interesse e tempo para
isso.
6) Quais os benefícios em ser resiliente?
As empresas e Talentos que se beneficiam com a Resiliência em processos de
mudança acabam experimentando melhores resultados nas seguintes
perspectivas: FINANCEIRA Menor custo com a mudança; Obtenção de retorno
financeiro num tempo menor do que esperado CLIENTES Maior retenção de
clientes antigos Aumento da taxa de conversão de clientes Melhoria no
índice de satisfação e reputação da empresa PROCESSO Maior rapidez na
cadeia de valor Melhor performance organizacional, promovidas pela
otimização de processos e diminuição de desperdício de tempo, retrabalho e
estresse organizacional Melhoria da qualidade da entrega de produtos e
serviços CRESCIMENTO E APRENDIZADO Maior capacitação da força de trabalho
para lidar com mudanças e situações complexas e ambíguas Melhor utilização
dos recurso e competências intrapessoais, facilitando a superação de seus
desafios Diminuição do nível de resistência Menor desgaste emocional e
físico diante de situações adversas Melhoria no clima organizacional e no
processo de engajamento Maior disposição para enfrentar desafios e cumprir
objetivos estratégicos
7) Com a crise mundial, a importância de ser resiliente aumentou
ainda mais?
Totalmente. Todos estamos profundamente interessados em saber como lidar
melhor com a intensidade das mudanças e também como promover estruturas de
transformação que facilitem o nosso relacionamento com os desafios do
Futuro.
8) Qual é o papel das empresas no processo de desenvolvimento da
resiliência por seus colaboradores?
A empresa resiliente não só fomenta os conhecimentos e treinamentos
necessários, mas também deve oferecer espaço para manifestar a
Resiliência, assim como ambiente de apoio, que propicie a troca intensa de
conhecimentos e metodologias de aprendizagem. Percebemos que empresas
resilientes desenvolve continuamente ambientes onde as ideias e
conhecimentos relevantes possam ser criados, sistematizados e transferidos
para todos na organização. Costumamos dizer que uma empresa Resiliente
fomenta o conhecimento estratégico e o valor da Marca em cada ato de cada
talento, sendo realmente percebido como valor por seus clientes.
9) Poderia enumerar algumas dicas para os profissionais se tornarem
resilientes?
Inserimos aqui alguns procedimentos de resiliência estratégica, que estão
no do Livro Resiliência: a transformação como ferramenta para construir
empresas de Valor - Editora Gente, 2008
Exercitar a liderança Resiliente frente à mudança é tomar atitudes
concretas que objetivam:
1 – Manter-se no caminho que vai de encontro ao seu propósito ou objetivo
estratégico maior;
2 – Diante de uma adversidade, enfrentar ativa e diretamente o problema,
com o objetivo de resolver a situação e reconectar-se ao caminho que leva
ao seu propósito ou objetivo estratégico maior;
3 – Para isso, portar-se como um Protagonista, buscando informações,
conhecimentos e apoio para construir e empreender um conjunto de ações que
visam promover as mudanças necessárias, solucionar os desafios e alcançar
seus objetivos;
4 – Enfrentar a situação e produzir uma solução eficaz significa:
a) Compreender a verdadeira situação do problema (Baseado em fatos,
números e prazos); Se não conseguir fazer sozinho, buscar imediatamente
apoio
b) Buscar compreender como o líder e a equipe está percebendo e
interpretando a situação, regulando o nível de tensão e de comportamentos
inadequados que surgem com a turbulência: Se não conseguir fazer sozinho,
buscar imediatamente apoio
c) Compreender como a equipe está se portando (está enfrentando,
desviando, congelando, criando turbulência, escondendo): Se não conseguir
fazer sozinho, buscar imediatamente apoio
d) Procurar criar uma solução junto com a equipe, oferecendo informação e
construindo conhecimento em três dimensões: Direcionamento (Para onde
vamos, qual a razão, o que esperamos da equipe), Incentivos (O que e
quanto podemos ganhar com a mudança) e Capacitação (o que precisa fazer,
no que precisamos melhorar);
e) Decide e Age em tempo hábil, procurando o encaminhamento positivo da
situação
f) Analisar as ações empreendidas e seus impactos estratégicos, retendo os
aprendizados e conhecimento necessários para o crescimento e evolução da
equipe.
Eduardo Carmello – diretor da ENTHEUSIASMOS Consultoria em Talentos
Humanos