Aproveite
a tarefa da declaração para fazer uma DR consigo mesmo
Ir ao dentista todo ano não é a única coisa chata que
precisamos fazer. O encontro forçado com a Receita Federal é outro bom exemplo.
O leão, mascote escolhido para representar o trabalho de fiscalização da
Receita, sinaliza que o assunto é coisa séria. O respeitado rei dos animais é
agressivo, mas não ataca sem avisar.
Conheço muita gente que entrega essa tarefa para um
contador e, ao fazer isso, perde a chance de uma excelente reflexão acerca das
suas finanças, analisar o que fez com todo o dinheiro que ganhou e
refletir se poderia ter feito melhor.
A declaração anual do Imposto de Renda fotografa nossa
situação financeira no dia 31 de dezembro de cada ano e compara com a
fotografia tirada na mesma data do ano anterior, apontando se e quanto
cresceu o nosso patrimônio.
Se olharmos além dos números, teremos a chance de
analisar o que eles revelam, já que retratam as decisões que tomamos em relação
aos rendimentos que ganhamos naquele ano. Se não houve crescimento patrimonial
em relação ao ano anterior, é forte o indício de que estamos transferindo para
terceiros a riqueza que poderia ser nossa.
Se o patrimônio cresceu, cenário que deixa o leão mais
alerta, é preciso explicar de onde vieram os recursos financeiros que
patrocinaram o aumento de riqueza e se os impostos, quando devidos, foram
pagos.
Omitir informações nunca é boa estratégia quando o
interlocutor é a Receita. A rede de “informantes” dela é impressionante! Recebe
informação de tudo (quase tudo) o que acontece com cada CPF ou CNPJ, nos
âmbitos municipal, estadual e federal.
Conexão com cartórios permite checar as transações de
compra e venda de bens imóveis; nos Detrans fica sabendo do registro de
veículos, motos, barcos e até jet skis; os bancos, uma das principais fontes de
informação da Receita, revelam as transações financeiras em conta-corrente,
cartões de débito e crédito, além das aplicações e empréstimos.
Nas empresas em geral rastreia a renda que recebemos
(folha de pagamentos, FGTS, INSS, IR retido na fonte) e cruza com transações de
compra e venda de mercadorias e serviços em geral, mediante emissão de nota
fiscal eletrônica ou digital.
Em resumo, a Receita quer saber se nossos rendimentos
assalariados e outras fontes de renda são suficientes para explicar os inúmeros
pagamentos feitos ao longo do ano, além de justificar o
crescimento patrimonial declarado.
Para tirar proveito da tarefa obrigatória de juntar toda
a papelada e informações necessárias, dedique algum tempo para entender os
números e o que eles revelam.
Os rendimentos auferidos relacionam tudo o que recebemos
no exercício fiscal em análise: trabalho assalariado, rendimentos de aplicações
financeiras, renda de aluguéis de imóveis, doações recebidas. O número final
totaliza a renda auferida num ano inteiro, advindo das diversas fontes de
renda. Surpreenda-se com o número, todo esse dinheiro passou por suas mãos! O
que foi feito dele? Consumo puro ou aproveitou para engordar seu patrimônio?
A ficha dos bens e direitos revela nosso patrimônio:
imóvel residencial, imóveis alugados, veículos, ativos financeiros, planos de
previdência. Aproveite para analisar se a rentabilidade dos investimentos foi
adequada. A taxa Selic bruta, acumulada em 2017, foi 10,11%, esse foi o custo
de oportunidade, parâmetro que deve ser usado para avaliar o retorno dos
seus investimentos.
Qual foi o retorno da sua carteira de investimento? Se
foi muito abaixo desse parâmetro, mexa-se, avalie o que precisa mudar para
melhor a rentabilidade. Das duas uma: ou a rentabilidade está baixa ou o custo
está alto. Faça algo para melhorar esse resultado. É o seu patrimônio! Se você
não cuidar dele, quem vai? O contador? Acho que não...
Quanto o seu patrimônio cresceu em razão de recursos
poupados? Suponha que sua renda anual tenha sido de R$ 100 mil e que R$ 20
mil foram destinados a novos investimentos. Essa foi sua capacidade de
poupança (20%) e sinaliza que você se esforçou para ampliar seu
patrimônio. Bom trabalho!
Aproveite
o encontro com o leão, encontre benefício nessa tarefa mesmo que seja feita com
a ajuda de um contador. Reflita sobre o significado do dinheiro na sua vida e
avalie se está sendo usado de forma coerente, alinhada aos seus propósitos
e valores.
Marcia
Dessen - planejadora financeira pessoal,
diretora do Planejar e autora de 'Finanças Pessoais: o que Fazer com Meu
Dinheiro'.
Fonte:
coluna jornal FSP