APOSENTADORIA
Três dicas para uma transição suave
para a aposentadoria
Simon esperava ansioso a sua aposentadoria. A
pressão constante que acompanhava seu trabalho estava incomodando – muitas
reuniões, muitas viagens, muitas coisas.
Infelizmente, a aposentadoria não aconteceu da
forma que ele esperava.
Fazer as compras da casa propiciava um sentimento
limitado de satisfação; ele sentia falta dos inúmeros e-mails e telefonemas, de
conversar com seus colegas e de estar no meio de tudo. Basicamente, ele se sentia
perdido.
Encontrei vários Simons no meu trabalho.
As pessoas
que gostam da carreira, em geral, têm dificuldade para aceitar que o fim
chegou.
Portanto, embora os executivos em fase de aposentadoria talvez
reconheçam que estão adentrando uma fase nova da vida, eles provavelmente devem
ter pensado pouco em como iriam lidar – emocionalmente – com a mudança de status,
e as demandas exigidas pelo trabalho podem tê-los deixado com pouco tempo para
refletir sobre isso.
O resultado é que a aposentadoria chega como uma grande
decepção.
Como o divórcio ou a morte, a aposentadoria envolve
uma separação emocionalmente dolorosa, onde o principal desafio é sobre a
gestão da tristeza.
Os psicólogos James Robertson e John Bowlby fazem uma
descrição válida do processo, fundamentada em seus estudos com crianças.
As
três fases que eles identificam – o protesto, o desespero e o desligamento –
demonstram como nos adaptamos à vida depois de uma separação.
Como esperado,
algumas pessoas atravessam essas fases facilmente, ao passo que outras
encontram dificuldades.
Por exemplo, homens que moram com sua parceira ainda em
atividade profissional normalmente veem a aposentadoria como uma forma de vida
vergonhosa e parasita. Tais sentimentos podem levar à depressão e até à morte
precoce.
Como tornar essa transição menos dolorosa?
Invista em relacionamentos pessoais. Não há melhor lugar do que a nossa casa para
começar: passe tempo com amigos e com a família.
O famoso estudo longitudinal
da Harvard é somente um dos vários estudos demonstrando que os relacionamentos
pessoais próximos, mais do que o dinheiro ou a fama, são os que mantêm as
pessoas felizes.
Crie rede de relacionamentos fora do escritório. Além de arrumar tempo para os relacionamentos
pessoais, as pessoas que se aproximam do final de carreira devem começar a se
engajar – caso ainda não o tenham feito – em atividades fora do escritório.
Por
exemplo, o trabalho voluntário na comunidade pode proporcionar tanto a sensação
de valor como o acesso a novos relacionamentos.
Procure, também, oportunidades
para continuar a aprender; por exemplo, matriculando-se em um programa
universitário. Algumas pessoas acreditam que lecionar seja um escape para suas
habilidades criativas.
Orientar os mais jovens e contribuir para o sucesso da
próxima geração pode trazer uma satisfação enorme.
Descubra novos escapes. Muito executivos em fase de aposentadoria
assumem empregos de meio período ou provisório, como consultores ou membros de
Conselhos para empresas ou organizações sem fins lucrativos.
Também é possível
fazer mentoria para empresários principiantes ou jovens executivos.
Como
mentor, você pode dar respostas a certas perguntas e sugestões que podem fazer
uma grande diferença para os mais jovens navegando no mundo dos negócios.
Dado
que o networking é essencial para o sucesso da empresa, você
pode utilizar suas conexões para dar o empurrão inicial às pessoas que estão
sob sua mentoria. Você até pode se envolver nos negócios deles.
Navegar por essas opções pode ser desafiador, e é
fácil se sentir paralisado.
Muitas pessoas não tomarão decisões ou atitudes.
Os
empregadores podem ajudar, fornecendo recursos aos funcionários que não sabem
qual é o próximo passo a seguir.
Aconselhamento pessoal, terapia e workshops em
autocrescimento são recursos de valor para as pessoas que estão fazendo uma
jornada para dentro de si próprias e no alinhamento de valores e novos
comportamentos na fase seguinte da sua vida.
Nos dias de hoje, infelizmente poucas empresas
estão interessadas em ajudar as pessoas em sua transição para a aposentadoria.
No entanto, esse não precisa ser o caso e, empresas prestadoras de serviços,
especificamente, estão mostrando como agir.
Certa vez, prestei consultoria a
uma grande empresa de consultoria estratégica que estabelece uma data – relativamente
precoce – para a aposentadoria de seus sócios seniores.
Seus profissionais de
RH preparam ativamente os sócios que estão de saída, por meio de workshops e
sessões de orientação com os coaches de vida. Isso já se
mostrou ser um acordo ganha-ganha.
Os sócios em fase de aposentadoria acham
mais fácil se adaptar a um novo estilo de vida, e assim a empresa tira proveito
de sua rede de ex-sócios, que atuam como seus embaixadores e, em alguns casos,
trazem novos negócios.
Tradicionalmente, lidar com a aposentadoria tem
sido sobretudo relacionada com o planejamento financeiro; a dimensão
psicológica, em geral, não fazia parte do pacote.
Atualmente, dada a nossa
expectativa de vida mais longa, garantir uma segurança financeira é só um dos
elementos na elaboração do plano de aposentadoria – e, na nossa economia do
conhecimento, é perverso deixar que gestores saudáveis e mentalmente ativos
sintam que não têm mais contribuições a fazer.
Manfred F. R. Kets de Vries - coach para executivos, psicanalista e
professor de gestão. Kets de Vries é professor emérito clínico de
desenvolvimento de liderança e mudança organizacional da INSEAD, na França, em
Singapura e em Abu Dhabi. Seu livro mais recente é o “Down the rabbit
hole of leadership: leadership pathology in everyday life”.
Fonte: Newsletter Harvard Business Review Brasil