Às vezes a gente participa de
conversas tão interessantes que depois ficamos horas, dias, refletindo sobre o
conteúdo do que falamos. Na semana retrasada vivi uma situação assim em uma
reunião com colegas de um fundo de pensão que fica aqui pertinho da GAMA. Nosso
objetivo na ocasião era apresentar um projeto, o que de fato fizemos, mas o
grau de interesse e participação dos gestores dessa entidade era tão grande que
adentramos em um debate sobre modelos de gestão aplicáveis ao tamanho de cada
fundo de pensão e o impacto desses modelos nos custos administrativos.
Trata-se de um tópico
vastíssimo, que desperta reflexões e sentimentos variados entre os atores de
nosso sistema. Nos anos mais recentes, permeados por crises econômicas,
inflação, estagnação no crescimento e outros elementos mais, vê-se crescente
interesse no assunto, com diversos fundos de pensão repensando seus modelos de
gestão para o presente e para o futuro.
Minha intenção hoje é
compartilhar algumas dessas reflexões, algo que espero que lhe seja útil,
especialmente se você já estiver discutindo o tema em sua entidade.
One
size fits all?
Uma entidade pode ser gerida de
diversas maneiras diferentes para cumprir seus objetivos. Ela pode ter maior ou
menor nível de terceirização. Pode gerir seu pessoal com base em indicadores,
metas ambiciosas e remunerações variáveis, ou pode adotar postura mais flexível
e equilibrada. Pode enfatizar uma estrutura de atendimento remoto, telefônico e
online, ou dar maior atenção ao contato presencial. São inúmeros os aspectos a
considerar e não há, portanto, um modelo único que serve a todos (one size fits
all) ou mesmo um modelo melhor ou pior que o outro.
Como uma vez disse Vicente
Falconi, o renomado consultor de empresas:
Um bom
sistema de gestão começa com a formulação estratégica. Trata-se basicamente de
entender aonde a empresa quer chegar. Você pode começar com formulações bem
simples no primeiro ano e ampliar a análise e a sofisticação ao longo dos anos
até que você e sua equipe tenham conhecimento suficiente para traçar
formulações mais sofisticadas.
Pois bem. Qual o objetivo do
seu fundo de pensão? E como isto se traduz na missão e visão de futuro
estabelecidas? Se ainda não possui resposta a essas perguntas, busque
responde-las o quanto antes: são centrais para sua estratégia e para definição
do modelo que melhor se aplica à realidade da sua organização.
Receitas
x despesas: presente e futuro
Ao pensarmos nos diferentes
modelos possíveis, por vezes nos aprofundamos nos custos da implantação e
operacionalização de cada modelo e como uma forma de gestão pode ser mais
barata ou mais cara para a entidade – mas esquecemos que, precipuamente, é
necessário pensar nas receitas que estarão à disposição para fazer frente às
despesas.
Nos fundos de pensão, as
receitas para gestão administrativas possuem diversos fatores limitantes,
alguns dos quais, inclusive, determinados pela legislação vigente. Mas veja – o
fato de haver limites não significa, necessariamente, que há insuficiência!
É preciso dimensionar uma
estrutura de custos e despesas que seja compatível com as receitas correntes e
futuras, para não haver desequilíbrios. O caminho, neste caso, é projetar
atuarialmente as receitas administrativas que a entidade deve receber ao longo
dos próximos anos de acordo com o fluxo de contribuições previstas, que já
reflete em sua estrutura a entrada e saída esperadas de participantes, o
aumento ou redução de níveis contributivos, dentre outros fatores que irão
evidenciar claramente quais são os limites e modificações estruturais
esperados.
Aspectos legais
Cada entidade precisa conhecer
o conjunto de normas às quais suas operações estão afetas e obedecer aos
ditames legais ao montar ou reformular seu modelo de gestão. Em paralelo, a
natureza do patrocinador ou instituidor dos planos administrados é determinante
para a estrutura do fundo de pensão, uma vez que as normas diferem de acordo
com tais características.
Por falar em obrigações legais,
convém lembrar que nos anos mais recentes ganhou força a corrente que apregoa
desoneração. Este é também um debate interessante, mas que exige muita cautela:
desonerar não pode significar perdas para a governança e para a adequada gestão
de riscos. Cada proposta de desoneração precisa ter seus impactos, riscos e
benefícios minuciosamente pensados, pois o custo de reparo de uma mudança no
presente pode ser muito maior lá na frente. Nesse sentido, cabe também à
entidade refletir em seu modelo de gestão se irá restringir-se às determinações
legais ou se irá adotar práticas e controles que superem tais obrigações, para
obter maior segurança em suas operações.
Eficiência
e eficácia dos processos operacionais
Independentemente do modelo
escolhido, uma boa gestão deverá sempre perseguir processos eficientes e
aderentes aos objetivos da organização.
Hoje eu não pretendo falar
muito sobre processos, não apenas por este ser um assunto bastante amplo, mas
principalmente porque em breve meus colegas aqui da GAMA irão compartilhar um
material muito interessante sobre o tema, no qual estão trabalhando há meses.
Assim, por ora quero apenas lembrar que toda organização precisa perseguir
incessantemente eficiência e eficácia em suas operações,
pois isto afeta diretamente as duas maiores fontes de despesas
administrativas dos fundos de pensão.
Veja:
Fonte: Previc/Diace – Relatório
de Atividades 2013
Como se vê no gráfico acima,
pessoal e serviços de terceiros representaram 46,3% e 25,4% das despesas das
entidades em 2013 – isto é mais de 70% do total! Quanto mais eficientes e
eficazes forem os processos de seu fundo de pensão, menos tempo será
desperdiçado e menos pessoas – internas ou terceirizadas – serão requeridas
para cumprir a mesma função.
E,
afinal, o tamanho importa?
Sim, sem dúvidas, o porte de cada operação é determinante para o modelo
de gestão a ser adotado e, portanto, ao volume e proporção de despesas
administrativas. Veja como os custos por participante e por percentual dos
ativos varia de acordo com o número de participantes e o total de ativos da
entidade:
Esse interessante estudo
demonstra como ganhos de escala são determinantes para a estrutura de custos
dos fundos de pensão, e como entidades menores (menos de 100 participantes e
ativo menor que R$ 10 mi) são as que mais poderiam se beneficiar dos ganhos de
escala caso ascendessem a um porte maior, uma vez que seus custos per capita e
por percentual do ativo são os maiores.
Nota-se, contudo, uma inversão
no outro extremo: as entidades maiores (mais de cem mil participantes e mais de
R$ 10 bi de ativos) também possuem um custo per capita expressivo, que supera o
de entidades menores que não possuiriam, em tese, tamanho ganho de escala. O
que leva a isto?
Um
estudo holandês voltado a analisar os custos de investimentos de fundos de
pensão de acordo com seu porte chegou a conclusões parecidas, identificando que
nem sempre os maiores possuem menores custos (clique aqui para
lê-lo). Uma das razões para tal é que os fundos de grande porte tendem a adotar
mais estruturas de governança, gestão e redundância que os menores, elevando as
despesas.
No Brasil, nota-se que quanto maior o fundo, maior a despesa com pessoal
e menor a com terceirização, dois itens que, como já vimos, representam mais de
70% das despesas totais. A PREVIC analisou o assunto em seu Estudo sobre Despesas Administrativas, de
2012:
No grupo E, das entidades
menores, as despesas com pessoal e com serviços de terceiros representam 30,82%
e 50,79% do total. No grupo A, das entidades maiores, a lógica praticamente se
inverte: pessoal equivale à 48,61% das despesas, enquanto serviços de terceiros
restringem-se a 30,59%. É, novamente, uma consequência do modelo de gestão
adotado.
O que se vê, portanto, é que
cada entidade precisa eleger o melhor modelo de gestão de acordo com seus
objetivos estratégicos, buscando a estrutura que melhor lhe atenda e com os
menores custos possíveis. Não é apenas o tamanho das operações, mas uma série
de características, que precisam ser colocados na balança ao eleger o modelo
preferencial.
Guilherme Brum Gazzoni - administrador, Pós-Graduado
em Finanças e Especialização em Entrepreneurship, é Diretor
Administrativo e Comercial da GAMA Consultores Associados.