Nos últimos 12 meses, houve 16
chamados “cortes de fibra” na região da baía de San Francisco. De acordo com o
FBI, alguém está entrando em poços de inspeção da rede de esgotos e tubulações
para cortar cabos de fibra ótica.
Depois de cada incidente desse tipo,
os moradores da região ficaram impossibilitados de fazer ligações de telefones
fixos ou celulares, nem mesmo para o número de emergência 911, e de enviar
e-mails e mensagens de texto. Em alguns casos, as fichas médicas de hospitais
ficaram inacessíveis. Cartões de crédito e caixas automáticos deixaram de
funcionar.
A internet não é amorfa. Podemos
acessá-la sem fios, mas, em última análise, fazemos uso de cabos físicos que
são vulneráveis a ataques. A ameaça não vem apenas de códigos mal-intencionados
transmitidos pelos cabos, mas também dos próprios cabos.
Surpreendentemente, não existe um
mapa bom das rodovias e vielas da internet. “Todo mundo supõe que alguém saiba
disso, mas, depois de algum tempo, você descobre que ninguém sabe, na
realidade”, disse Paul Barford, professor de ciência da computação na
Universidade de Wisconsin. Barford adotou como missão descobrir onde estão as
vulnerabilidades do sistema.
Financiado, em parte, pelo
Departamento de Segurança Interna dos EUA, ele completou recentemente um mapa
da infraestrutura de longo alcance da internet nos Estados Unidos —trechos que
cobrem pelo menos 50 quilômetros e interligam centros populacionais com pelo
menos 100 mil habitantes.
Os focos de maior preocupação são os
pontos de convergência das grandes redes. Existem nos EUA cerca de 80 desses
chamados pontos de troca de tráfego, ou PTTs (em inglês: IXPs, ou Internet
Exchange Points). Alguns deles, incluindo alguns em Nova York, Miami, Seattle e
nos arredores de Washington, são cruciais para o tráfego de internet doméstico
e também internacional vindo de cabos submarinos (vulneráveis a cortes
provocados por âncoras lançadas em locais incorretos ou por sabotagem
submarina).
“É uma insensatez ver desprotegidos
esses prédios que contêm todos esses cabos que interligam continentes, além da
América do Norte inteira”, disse o consultor John Savageau, ex-administrador de
PTTs da CoreSite Realty Corporation. “Se um desses nodos principais for
desativado, teremos problemas enormes. Se houver um ataque coordenado contra
vários locais, será um pesadelo.”
De fato, muitos PTTs ocupam prédios
velhos e desprotegidos, em alguns casos antigas sedes do serviço de telégrafos.
Em muitos casos, é possível alugar escritórios adjacentes nos mesmos prédios.
Às vezes sequer há seguranças no saguão. Os poços de acesso às redes de esgotos
e tubulações em volta dos prédios tampouco são protegidos.
Para Bill Woodcock, diretor do Packet
Clearing House, instituto de pesquisas sem fins lucrativos dedicado a apoiar a
tecnologia de troca de tráfego da internet, a solução não está em criar
regulamentos que encareçam a construção de PTTs, mas em construir mais PTTs,
para que nenhum deles tenha papel crucial.
“Se criarmos PTTs redundantes, não
importa se eles ocuparem um cantinho qualquer”, disse, aludindo a um PTT que
ocupa um antigo armário de zelador no piso superior de um prédio antigo.
Segundo ele, a situação é pior na Europa, onde alguns países dependem
principalmente de um único PTT.
“A única maneira de resolver este
problema é criar uma rede mais robusta, para que não tenhamos pontos que sejam
capazes de, isoladamente, provocar um colapso”, disse Hunter Newby, fundador e
executivo-chefe da Allied Fiber.
Ele ressalvou, porém, que não existe
sistema à prova de falhas, por maiores que possam ser as redundâncias: “Sempre
digo às pessoas que o planeta Terra é um ponto de colapso isolado. Pergunte aos
dinossauros.”
Kate Murphy – jornalista do New York Times