O
que fazer quando sentimos na pele que a dor de perder é maior do que o prazer
de ganhar
As pessoas continuam perguntando o que fazer com
os investimentos, e, antes de delinear algumas hipóteses, quero
deixar claro que não cabe a mim e a ninguém decidir o que outros devem fazer.
Vamos organizar os pensamentos e os sentimentos de
tal forma que cada um possa avaliar em que contexto se encontra e decidir, por
conta própria, o que fazer.
Transferir a terceiros uma decisão que é nossa nos
permitirá responsabilizar alguém por uma decisão equivocada, no futuro.
Se
errarmos, teremos tomado a decisão que pareceria ser a melhor, com base nas informações que
detínhamos quando a decisão foi tomada.
Quem já resgatou ou está propenso a
resgatar aplicações com desempenho negativo descobriu que não tem
tolerância a perdas e assumiu riscos que não deveria ter assumido.
A dor aumenta quando transferimos para o patrimônio
como um todo a percepção de perda que, de fato, incide sobre parte do capital
investido.
Calcule o tamanho real da perda antes de decidir.
Suponha que o total de seus investimentos seja R$ 100 e que R$ 40 (40%) estejam
em uma aplicação que registra perda de 15%.
Entenda que essa desvalorização não
alcança todo o seu dinheiro, mas apenas parte dele.
Os R$ 40 investidos valem agora R$ 34. Os R$ 60,
protegidos em aplicações conservadoras, não foram atingidos.
Assim, o valor de
mercado da carteira é R$ 94, desvalorização de 6% sobre o total. Esse é o
tamanho da perda em números.
Agora dimensione o valor da sua dor, da angústia,
do estresse que essa perda provoca. Você pagaria R$ 6 para se livrar desse
sofrimento?
Voltar a dormir tranquilo, deixar de se preocupar com o vaivém do
mercado, vale R$ 6?
Esse é o preço, avalie se vale a pena pagar para parar de
sofrer. E reflita sobre o aprendizado dessa experiência.
Muitos, embora aturdidos com os acontecimentos, não
farão nada, cientes de que o risco não era desejado ou esperado, mas era possível,
quando se trata de aplicações mais arriscadas.
O sentimento não é de dor, não
há sofrimento, só apreensão em relação ao futuro.
Quem decide esperar tem a avaliação de que o
objetivo do investimento é de longo prazo e que a expectativa de retorno superior
ao da taxa de juros virá, com o tempo.
Em
1997, países do Sudeste e Nordeste asiático enfrentaram crise financeira que
interrompeu o crescimento econômico e se estendeu ao plano político, com a
queda de governos.
Ao todo foram três vezes que o circuit breaker foi acionado.
Nos anos seguintes, contaminou outros países emergentes, como Rússia, Brasil e
Argentina, tornando-se a primeira crise da era das finanças globais.
O fenômeno
foi disparado por processo de fuga de capital e deflação de ativos financeiros
das economias da região Mladen Antonov/AFP
Liquidez? Não é necessária, a reserva financeira
para emergências está onde deveria, em aplicações conservadoras, com liquidez
diária, que pagam a baixa, mas sempre positiva, taxa básica de juros.
Outro
cenário, outro nível de estresse, uma decisão provavelmente diferente do
exemplo anterior.
Alguns investidores, mais racionais, e mais
propensos ao risco, provavelmente irão explorar oportunidades e fazer (ou não)
alguns ajustes na carteira.
No segmento da renda fixa, alongar o prazo dos
títulos de taxa prefixada, por exemplo, vender títulos curtos, próximos ao
vencimento e comprar títulos mais longos que estão pagando taxas atrativas e
serão valorizados quando a taxa de juros de longo prazo cair.
Tem consciência de que a taxa pode subir mais e a
recuperação pode levar muito tempo, razão pela qual pretende investir recursos
que podem esperar a data do vencimento, se o pior cenário acontecer.
Na renda variável alguns irão recompor o percentual
investido em ações para se beneficiar da alta dos preços quando ocorrer ou
comprar ações que sofreram perdas exageradas, especulando que o mercado irá
corrigir essa distorção.
A decisão de cada um de nós depende fundamentalmente do tamanho da dor
que sentimos perante a percepção de perda.
Não tem certo ou errado, mas a
decisão mais adequada para recuperar o equilíbrio e o bem-estar